O passado bate sempre muitas vezes
O
pressuposto é claro: Tango é
uma série de aventuras franco-belga, com tudo o que
de bom e menos bom que isso
acarreta; se se lhe reconhece competência, profissionalismo e
qualidade q.b., também é
evidente que assenta nalguns
clichés e estereótipos.
Independentemente
disso - ou talvez mesmo por isso - se nunca desilude, também nunca
chega a deslumbrar.
O que não é contraditório com escrever que este quinto tomo, O
último condor, é,
possivelmente, o melhor até agora.
Outra característica positiva de Tango, é a possibilidade de ler os álbuns de forma independente - embora seja óbvia a vantagem de conhecer o passado dos protagonistas: Tango e Mário. A título de informação, para quem desconheça, digo apenas que ambos estiveram ligados a forças de segurança nos seus países - Estados Unidos e Argentina, respectivamente - mas, por razões que formos aprendendo, já há muito as deixaram. O que não é sinónimo de elas terem aberto completamente mão deles - o mesmo se passando com os respectivos passados.
Agora, são aventureiros e viajantes - marinheiros mais exactamente - que neste álbum em concreto decidiram estabelecer-se em terra, enquanto senhorios de um bloco de apartamentos.
No caso presente, um encontro indesejável de Mário com alguém que conheceu quando era polícia, coloca-o em maus lençóis e Tango terá de intervir para ajudar o seu amigo.
Sem a trama ser especialmente original, distingue-se por vários motivos.
Primeiro, o ritmo cadenciado que os autores lhe imprimiram, potenciado pelo facto de a acção ao longo do álbum alternar entre vários locais, com protagonistas díspares - e alguns saltos temporais.
Depois, a nota interessante da referência histórica aos métodos intimidatórios de que as ditaduras sul-americanas usaram e abusaram para se perpetuarem, o que proporciona alguma consistência extra ao relato.
Ainda, o protagonismo (mais) repartido entre Tango e Mário.
Finalmente, porque uma boa aventura, musculada, em estado puro e com algumas (pequenas) surpresas, é sempre bem-vinda, mais que não seja, como distracção pontual de outras leituras mais exigentes e estimulantes.
Como nota terminal, sem renegar que continuo a achar que há demasiados espaços vazios nas vinhetas, uma referência à planificação ampla, que deixa espaço ao desenho para respirar e até brilhar numa conseguida conjugação de traço realista e belas cores.
Nota final
...e com este álbum, são já 5 em 6 publicados em português em apenas 10 meses. Não há dúvida que o paradigma editorial mudou por aqui.
Tango
#5 O último condor
Matz
(argumento)
Philippe
Xavier (desenho)
Gradiva
Portugal,
Julho de 2021
233
x 313 mm, 56 p., cor, capa dura
18,00
€
(imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Banda desenhada de primeira qualidade!!!
ResponderEliminarTango, uma excelente série! Venha o 6º!
ResponderEliminarVamos ver até quando o paradigma se aguenta...acho muita fartura numa altura que os preços aumentaram (é abissal a diferença entre uma capa dura de uma das novas editoras e um lançamento Publico\ASA, obviamente com menos extras porventura , mas ...)
ResponderEliminarNão questionando que os livros estão caros para o nosso custo de vida, não é possível comparar o preço das edições que saem com jornais com as edições normais de livraria. As que saem com os jornais beneficiam de uma tiragem maior e pagam menor percentagem pela distribuição, o que pesa de forma significativa no preço final.
EliminarBoas leituras!