16/08/2022

Romeo y Julieta

...como se conta



Com todas as histórias já contadas 1001 vezes (ou mais...), o importante cada vez mais não é o que se conta, mas sim a forma como se conta.
Se todos sabemos a trama por detrás da tragédia que William Shakespeare baptizou como Romeu e Julieta, Gianni de Luca consegue apresentar essa história de amor e morte de forma completamente nova e original.

E a razão é a forma como ele a conta. Melhor, como a encena, desconstruindo o movimento das personagens numa série de imagens sucessivas, fazendo-as, dessa forma, movimentarem-se ao longo das vinhetas como se de um verdadeiro palco se tratasse.

Esse estratagema, se por um lado salienta o lado teatral - e cénico - da obra, por outro confere-lhe uma dinâmica muito especial e uma enorme capacidade de transmissão de um ritmo próprio.

Por outras palavras, de forma mais formal e explícita, posso dizer que cada duas páginas sucessivas formam uma única vinheta em que as mesmas personagens surgem desmultiplicadas, enquanto a acção e os diálogos nos conduzem de uma ponta à outra, até ao virar de página - e entrada na cena/vinheta seguinte.

O traço de De Luca, sempre fino, mas umas vezes límpido e claro, outras enriquecido com pontilhados que destacam as sombras, outras ainda rico de contrastes de branco e negro, ostenta dessa forma - e potenciado pelo generosíssimo formato desta edição espanhola - todo o classicismo necessário para credibilizar este regresso à obra de Shakespeare, um dos maiores clássicos da literatura mundial.

A multiplicação de pontos de vista, uma aturada utilização de perspectiva, o domínio completo da anatomia humana e a noção de movimento implícita a cada cena, são decisivos para a representação eficaz e aliciante que se desenrola perante os nossos olhos e nos deslumbra, surpreende e estimula apesar de todos sabermos que os dois jovens amantes morrem no fim...


Romeo y Julieta
Gianni de Luca
001 Ediciones
Espanha, 2013
230 x 350 mm, 56 p., pb, capa dura

(clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. É importante relembrar que esta banda desenhada, junto com Hamlet e a Tempestade, já foram publicadas por cá, a cores, pela CelBrasil, em Outubro de 1977, numa edição de 139 páginas que aconselho a quem encontrar a adquirir, porque é uma obra única.

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  2. Corrijo (peço desculpa): É importante relembrar que esta banda desenhada, junto com Hamlet e a Tempestade, já foI publicada por cá, a cores, pela CelBrasil, em Outubro de 1977, numa edição de 139 páginas que aconselho, a quem encontrar, a adquirir, porque é uma obra única. Letrée

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  3. Ora bolas! Eu tenho essa obra numa edição italiana de 2012, mas o formato é modestíssimo, inferior ao A4, o que muito me decepcionou. A antiga edição a cores da Celbrasil tem o defeito de em muitas páginas as linhas mais finas dos desenhos estarem invisíveis.

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