...como se conta
Com
todas as histórias já contadas 1001 vezes (ou mais...), o
importante cada vez mais não é o que se conta, mas sim a forma como
se conta.
Se
todos sabemos a trama por detrás da tragédia que William
Shakespeare baptizou como Romeu
e Julieta, Gianni
de Luca consegue apresentar essa história de amor e morte de forma
completamente nova e original.
E a razão é a forma como ele a conta. Melhor, como a encena, desconstruindo o movimento das personagens numa série de imagens sucessivas, fazendo-as, dessa forma, movimentarem-se ao longo das vinhetas como se de um verdadeiro palco se tratasse.
Esse estratagema, se por um lado salienta o lado teatral - e cénico - da obra, por outro confere-lhe uma dinâmica muito especial e uma enorme capacidade de transmissão de um ritmo próprio.
Por outras palavras, de forma mais formal e explícita, posso dizer que cada duas páginas sucessivas formam uma única vinheta em que as mesmas personagens surgem desmultiplicadas, enquanto a acção e os diálogos nos conduzem de uma ponta à outra, até ao virar de página - e entrada na cena/vinheta seguinte.
O traço de De Luca, sempre fino, mas umas vezes límpido e claro, outras enriquecido com pontilhados que destacam as sombras, outras ainda rico de contrastes de branco e negro, ostenta dessa forma - e potenciado pelo generosíssimo formato desta edição espanhola - todo o classicismo necessário para credibilizar este regresso à obra de Shakespeare, um dos maiores clássicos da literatura mundial.
A multiplicação de pontos de vista, uma aturada utilização de perspectiva, o domínio completo da anatomia humana e a noção de movimento implícita a cada cena, são decisivos para a representação eficaz e aliciante que se desenrola perante os nossos olhos e nos deslumbra, surpreende e estimula apesar de todos sabermos que os dois jovens amantes morrem no fim...
Romeo
y Julieta
Gianni
de Luca
001
Ediciones
Espanha,
2013
230
x 350
mm,
56
p.,
pb,
capa dura
(clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
É importante relembrar que esta banda desenhada, junto com Hamlet e a Tempestade, já foram publicadas por cá, a cores, pela CelBrasil, em Outubro de 1977, numa edição de 139 páginas que aconselho a quem encontrar a adquirir, porque é uma obra única.
ResponderEliminarCorrijo (peço desculpa): É importante relembrar que esta banda desenhada, junto com Hamlet e a Tempestade, já foI publicada por cá, a cores, pela CelBrasil, em Outubro de 1977, numa edição de 139 páginas que aconselho, a quem encontrar, a adquirir, porque é uma obra única. Letrée
ResponderEliminarOra bolas! Eu tenho essa obra numa edição italiana de 2012, mas o formato é modestíssimo, inferior ao A4, o que muito me decepcionou. A antiga edição a cores da Celbrasil tem o defeito de em muitas páginas as linhas mais finas dos desenhos estarem invisíveis.
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