11-M La Novela Gráfica
Pepe Gálvez e Antoni Guiral (argumento)
Joan Mundet (desenho)
Francis Cuadrat, Norma Cuadrat e Marina Ariza (cor)
Panini Comics (Espanha, Maio de 2009)
190 x 282 mm, 112 p., cor, capa cartonada
Resumo
A 11 de Março de 2004, Madrid sofreu vários atentados terroristas em diversas estações ferroviárias, perpetados por islamistas radicais.
Como consequência das explosões faleceram cento e noventa e uma pessoas: trinta e quatro na estação de Atocha, sessenta e três na rua Téllez, sessenta e cinco na estação de El Pozo, catorze na estação de Santa Eugénia e quinze em diversos hospitais de Madrid. Para além disso, ficaram feridas 1857 pessoas.
Este livro faz o relato do que aconteceu naquele dia, tendo como base o laudo do tribunal que viria a condenar 21 pessoas envolvidas nos atentados.
Desenvolvimento
Antes de tudo, esta é uma obra documental. Algo que a banda desenhada (também) tem mostrado saber fazer. Uma obra que narra, cronologicamente, a preparação do atentado, a sua realização e alguns dos acontecimentos que se seguiram até à condenação (de alguns?) dos terroristas nele implicados. Uma vez que segue de perto o laudo final do tribunal, o relato pode soar algo impessoal e sem emoções (embora isto não seja de todo verdade…), o que é propositado, ou não fosse o horror dos factos suficiente para abalar o leitor.
Por isso os autores tentam ao máximo ser simples relatores, não tomando posição nem fazendo da obra um líbelo acusatório, abordando apenas aquilo que ficou provado em tribunal. Não o fazem em relação aos atentados em si, nem à forma como o governo espanhol tentou utilizá-los em seu favor ao atribuí-los à ETA, o que acabou por ter consequências funestas, ou seja a perda das eleições que decorreram poucos dias depois.
A utilização de três personagens fictícias - um jornalista, um familiar de uma das vítimas e um polícia - tem três objectivos, cumpridos: por um lado, aligeirar a carga documental do relato, conferindo à narrativa o ritmo e o dinamismo necessários para lhe dar legibilidade; por outro, atenuar o efeito de alguns saltos cronológicos (necessários), fazendo a ponte entre eles; finalmente, a par do relato "burocrata" do tribunal, mostar o papel que tiveram as "pessoas reais" durante o fatídico dia e os meses seguintes e como os atentados afectaram as suas vítimas indirectas, conferindo assim algum dramatismo ao relato. Os três, com especial destaque para Paco, o jornalista, surgem, no entanto, como bem reais, de carácter bem definido e não estereotipados.
O traço de Mondet, realista, mostra a sua faceta de ilustrador, algo preso de movimentos, mas no geral revela-se competente e equilibrado.
A reter
- A legibilidade da obra, apesar do seu peso documental.
- Alguns apontamentos gráficos bem conseguidos, como a (eventual) troca de olhares entre os terroristas e as suas futuras vítimas, minutos antes dos explosivos cumprirem a sua função assassina (página 27), a alegoria ao quadro "Guernica", de Picasso (pp. 36-37) ou o lápis de bico partido (p. 43).
Menos conseguido
- Alguns desiquílibrios ao nível do desenho, nomeadamente quando o traço fica demasiado preso ao seu modelo fotográfico.
Curiosidades
- O livro tem prólogo de Pilar Manjón, mãe de uma das vítimas mortais do atentado e presidente da Associação 11-M Afectados por el Terrorismo.
- Os dois argumentistas são, também, especialistas em banda desenhada.