Peter Newell (texto e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Dezembro de 2010)
172 x 228 mm, 60 p., cor, cartonado, 13,00 €
1. Numa época de buracos – orçamentais, futebolísticos, nas ruas, etc. - da próxima vez que for à livraria, não se assuste se, ao folhear um livro, encontrar nele um buraco. Ou melhor vários buracos, um em cada página do livro, todos perfeitamente alinhados.
2. Buracos, literalmente, no sentido de orifício, de furo, de falta de (um bocadinho de) papel, permitindo espreitar através das páginas.
3. Dirão os mais optimistas, que são pequeninos, apenas uns 5 ou 6 milímetros de diâmetro, mas, mesmo assim, não deixam de ser buracos em páginas de livros. O que não é normal, convenhamos.
4. E não se ponham os mais exaltados a declarar já guerra a ratos, peixinhos de prata ou caruncho - provocando a habitual reacção exacerbada dos amiguinhos dos animais, defendendo o seu direito à alimentação, à livre circulação e, até quem sabe, ao acesso à cultura…
5. Se o livro em questão tem um buraco, é porque o autor o fez.
6. Quer dizer, não foi mesmo o autor - ele até já morreu, em 1924 – o buraco foi da responsabilidade da gráfica – está escrito no livro!
7. Mas não, também não é isso, não interprete mal; não foi acidente, defeito de fabrico ou de produção. Se a gráfica fez um buraco no livro, foi porque o autor quis. Quer dizer, o autor já não quer nada - morreu há 86 anos, mais coisa menos coisa, acho que já o tinha referido - mas quando Peter Newell criou esta obra, imaginou-a com um buraco. Sim, com um buraco – b-u-r-a-c-o - leram bem.
8. Aliás, até acho que deviam ter percebido logo que assim é, já que ela se intitula precisamente "O Livro do Buraco"!
9. (O que não quer dizer que “O Grande Livro dos Dinossauros” tenha criaturas pré-históricas autênticas lá dentro…)
10. Até porque é mais fácil encontrar buracos do que dinossauros… Aliás, se a moda pegar, talvez as Estradas de Portugal pudessem exportar alguns dos muitos que possuem, equilibrando (o buraco das) contas, entregando pás e picaretas a alguns especialistas neles e até para benefício de quem circula…
11. Adiante. Esclarecida (?) a questão do buraco, falemos um pouco de Peter Newell, um norte-americano nascido em 1862, que dá a impressão que embirrava um pouco com os livros – ou pelo menos com o seu conceito tradicional tout-court – pois, para além de os furar (como já vimos), também gostava deles inclinados…
12. …pois também foi ele o autor de “O Livro Inclinado” (da Orfeu Negro), que pode igualmente ser encontrado nas livrarias nacionais, para desespero de quem gosta das obras bem alinhadas nas prateleiras, que narra o que acontece quando uma ama larga inadvertidamente um carrinho com um bebé por uma ladeira abaixo.
13. Para além disso, Newell criou anedotas ilustradas com texto em rima, fez banda desenhada – “The Naps of Polly Sleepyhead” – e ilustrou diversas obras…
14. … para além de ter criado uma mão cheia de livros que se destacaram pelas razões menos convencionais: os dois já citados, “The Rocket Book” que não, não traz um foguetão lá dentro, narra isso sim o que acontece quando um foguete é lançado na cave de um imóvel com 20 andares, que ele atravessa com resultados desastrosos... ou nem tanto!...
Libri Impressi (Portugal, Dezembro de 2010)
172 x 228 mm, 60 p., cor, cartonado, 13,00 €
1. Numa época de buracos – orçamentais, futebolísticos, nas ruas, etc. - da próxima vez que for à livraria, não se assuste se, ao folhear um livro, encontrar nele um buraco. Ou melhor vários buracos, um em cada página do livro, todos perfeitamente alinhados.
2. Buracos, literalmente, no sentido de orifício, de furo, de falta de (um bocadinho de) papel, permitindo espreitar através das páginas.
3. Dirão os mais optimistas, que são pequeninos, apenas uns 5 ou 6 milímetros de diâmetro, mas, mesmo assim, não deixam de ser buracos em páginas de livros. O que não é normal, convenhamos.
4. E não se ponham os mais exaltados a declarar já guerra a ratos, peixinhos de prata ou caruncho - provocando a habitual reacção exacerbada dos amiguinhos dos animais, defendendo o seu direito à alimentação, à livre circulação e, até quem sabe, ao acesso à cultura…
5. Se o livro em questão tem um buraco, é porque o autor o fez.
6. Quer dizer, não foi mesmo o autor - ele até já morreu, em 1924 – o buraco foi da responsabilidade da gráfica – está escrito no livro!
7. Mas não, também não é isso, não interprete mal; não foi acidente, defeito de fabrico ou de produção. Se a gráfica fez um buraco no livro, foi porque o autor quis. Quer dizer, o autor já não quer nada - morreu há 86 anos, mais coisa menos coisa, acho que já o tinha referido - mas quando Peter Newell criou esta obra, imaginou-a com um buraco. Sim, com um buraco – b-u-r-a-c-o - leram bem.
8. Aliás, até acho que deviam ter percebido logo que assim é, já que ela se intitula precisamente "O Livro do Buraco"!
9. (O que não quer dizer que “O Grande Livro dos Dinossauros” tenha criaturas pré-históricas autênticas lá dentro…)
10. Até porque é mais fácil encontrar buracos do que dinossauros… Aliás, se a moda pegar, talvez as Estradas de Portugal pudessem exportar alguns dos muitos que possuem, equilibrando (o buraco das) contas, entregando pás e picaretas a alguns especialistas neles e até para benefício de quem circula…
11. Adiante. Esclarecida (?) a questão do buraco, falemos um pouco de Peter Newell, um norte-americano nascido em 1862, que dá a impressão que embirrava um pouco com os livros – ou pelo menos com o seu conceito tradicional tout-court – pois, para além de os furar (como já vimos), também gostava deles inclinados…
12. …pois também foi ele o autor de “O Livro Inclinado” (da Orfeu Negro), que pode igualmente ser encontrado nas livrarias nacionais, para desespero de quem gosta das obras bem alinhadas nas prateleiras, que narra o que acontece quando uma ama larga inadvertidamente um carrinho com um bebé por uma ladeira abaixo.
13. Para além disso, Newell criou anedotas ilustradas com texto em rima, fez banda desenhada – “The Naps of Polly Sleepyhead” – e ilustrou diversas obras…
14. … para além de ter criado uma mão cheia de livros que se destacaram pelas razões menos convencionais: os dois já citados, “The Rocket Book” que não, não traz um foguetão lá dentro, narra isso sim o que acontece quando um foguete é lançado na cave de um imóvel com 20 andares, que ele atravessa com resultados desastrosos... ou nem tanto!...
15. ... e ainda “Topsys and Turvys” 1 e 2, cujas imagens têm dupla leitura, conforme são vistas na posição normal ou de cabeça para baixo...
16. Abordando agora “O Livro do Buraco” – sem cair no dito cujo… - começo por resumi-lo: tudo começa quando o descuidado Tomás Potts, dispara inadvertidamente uma pistola, levando a poderosa bala a furar a parede de sua casa e, a partir daí, todos os obstáculos que encontra pelo caminho. Com tal força e determinação que, quem sabe, pode até voltar ao local de origem e matar o miúdo, por trás… Ou não, isso só saberá quem ler o livro, porque não basta espreitar pelo (seu) buraco. É mesmo necessário (e aconselhável) voltar página após página; tarefa facilitada, neste caso concreto, pelos já citados buracos, que diminuem o peso de cada uma.
17. E se é verdade que esta não é uma BD, o género que monopoliza aqui as minhas leituras, nem uma anedota ilustrada com texto em rima, não será de todo impossível encontrar nele características de uma e outras: a sequência narrativa, no percurso da bala, a rima em todo o texto do livro e as anedotas em cada página ilustrada do mesmo.
18. O traço de Newell, semi-caricatural, simples, legível e dinâmico, adapta-se na perfeição à narrativa - preenchendo perfeitamente o espaço em volta do furo, dirão os mais maldosos….
17. E se é verdade que esta não é uma BD, o género que monopoliza aqui as minhas leituras, nem uma anedota ilustrada com texto em rima, não será de todo impossível encontrar nele características de uma e outras: a sequência narrativa, no percurso da bala, a rima em todo o texto do livro e as anedotas em cada página ilustrada do mesmo.
18. O traço de Newell, semi-caricatural, simples, legível e dinâmico, adapta-se na perfeição à narrativa - preenchendo perfeitamente o espaço em volta do furo, dirão os mais maldosos….
19. Da edição, mais uma de Manuel Caldas, só se pode dizer bem, como é habitual. Ou seja, que não furou as expectativas (apesar de furada). Desde a excelente tradução (igualmente em rima) à reprodução dos desenhos, na dimensão exacta em que foram criados, da encadernação ao acabamento. Onde se inclui o buraco. Geometricamente irrepreensível e com funcionalidade (de buraco) nos dois sentidos. Por estranho que possa soar. Mas sobre ele, já escrevi.
20. Claro que de um ponto de vista comercial, de markting, faria mais sentido que o dito orifício atravessasse também as capas, mas do ponto de vista narrativo só pode mesmo trespassar a maior parte das páginas do volume.
21. Posso ainda acrescentar, sem furar o segredo que deve ser inerente a qualquer resenha/crítica, que apesar da sua modernidade e inventividade, o livro tem mais de 100 anos – foi criado em 1908 – sendo o seu humor algo ingénuo, próprio daquela época.
22. Apesar disso – por isso? – confesso que me diverti bastante com a sua leitura – tal como o meu filho de 5 anos, prova de que poderá agradar a todas as gerações e a leitores com as mais variadas exigências – razão pela qual, sem medo de cair nele, aconselho vivamente a compra do livro (com o buraco).
23. E com uma vantagem, que este tomo também exalta: por muito que se esforcem, nenhum e-book conseguirá apresentar o tal buraco. Mesmo eu, nas páginas que aqui mostro, não consegui reproduzi-lo…. Os meus leitores podem sempre utilizar um berbequim ou prego e martelo no ecrã, mas, com franqueza, não me parece o mais aconselhável… Se querem o buraco, comprem mas é o livro!
20. Claro que de um ponto de vista comercial, de markting, faria mais sentido que o dito orifício atravessasse também as capas, mas do ponto de vista narrativo só pode mesmo trespassar a maior parte das páginas do volume.
21. Posso ainda acrescentar, sem furar o segredo que deve ser inerente a qualquer resenha/crítica, que apesar da sua modernidade e inventividade, o livro tem mais de 100 anos – foi criado em 1908 – sendo o seu humor algo ingénuo, próprio daquela época.
22. Apesar disso – por isso? – confesso que me diverti bastante com a sua leitura – tal como o meu filho de 5 anos, prova de que poderá agradar a todas as gerações e a leitores com as mais variadas exigências – razão pela qual, sem medo de cair nele, aconselho vivamente a compra do livro (com o buraco).
23. E com uma vantagem, que este tomo também exalta: por muito que se esforcem, nenhum e-book conseguirá apresentar o tal buraco. Mesmo eu, nas páginas que aqui mostro, não consegui reproduzi-lo…. Os meus leitores podem sempre utilizar um berbequim ou prego e martelo no ecrã, mas, com franqueza, não me parece o mais aconselhável… Se querem o buraco, comprem mas é o livro!