Ricardo Cabrita (argumento e desenho)
TAGUS e Câmara Municipal do Sardoal (Portugal, Março de 2011)
200x200 mm, 16 p., cor, brochado com badanas
Este é mais um exemplo de como as entidades públicas – quase sempre câmaras municipais – continuam a ser o principal empregador dos autores portugueses, no que à banda desenhada diz respeito, substituindo-se às editoras nacionais de BD (às editoras que em Portugal publicam BD talvez seja mais exacto…) quando deveriam ter um papel complementar.
Esclareça-se desde já que a culpa é das editoras em particular – e do contexto cultural e do mercado editorial português em geral - não das entidades, cujo papel neste particular deve ser louvado, pesem embora as limitações que normalmente têm este tipo de edições, nomeadamente a inexistente ou fraca divulgação e distribuição destas obras.
Mas adiante, chega de genera-lidades, voltemo-nos então para este “Mestre Gil e o Mistério do Sardoal“, editado com o propósito de “envolver os mais pequenos, chamando-lhes a atenção para os factos do passado que ainda hoje persistem” para lhes dar “instrumentos de análise para melhor compreender o presente e prepararem-se para o futuro”, lê-se na contracapa deste livrinho.
Esse será o seu maior defeito, o reduzido número de páginas, dando por isso a ideia que a Ricardo Cabrita faltou papel (que poderia ter sido retirado das quatro páginas finais destinadas a serem pintadas pelos pequenos leitores?) para explanar e desenvolver um pouco mais este passeio pelo passado e presente da religiosidade do Sardoal, traduzida principalmente pelo seu retábulo quinhentista e pelas expressões de arte popular que têm lugar cada ano, na Páscoa, nas igrejas e capelas locais.
Cabrita, já autor de uma interes-sante biografia de Fernando Lopes Graça para a Câmara Municipal de Tomar, opta aqui por um traço mais caricatural com personagens de narizes grandes, na tradição de muita da BD humorística franco-belga – tendo em conta o público-alvo do livro – para dar vida ao seu Mestre Gil, mas combinando-o de forma conseguida com um tratamento mais realista e rigoroso dos cenários, merecendo realce a forma como integra na narrativa, que percorre várias épocas, os azulejos que ilustram uma tragicomédia da autoria de Gil Vicente, eventualmente nascido no Sardoal.
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23/03/2011
13/10/2009
Fora das Livrarias - Fernando Lopes-Graça, Andamentos de uma vida
Ricardo Cabrita (argumento e desenho)
Câmara Municipal de Tomar (Dezembro de 2008)
212 x 305 mm, 44 p., cor, brochado com badanas
Num mercado pequeno e com diversas outras limitações, alguns autores encontram junto das autarquias guarida para a publicação das suas obras. Quase sempre, traçando aos quadradinhos a História – as histórias – das respectivas localidades, com as potencialidades, características e limitações de todos bem conhecidas.
Ricardo Cabrita, com este álbum, é mais um exemplo, contando de forma sóbria (um)a biografia do maestro, compositor e musicólogo Fernando Lopes-Graça, a propósito dos 100 anos do seu nascimento.
Numa banda desenhada construída (propositadamente) a vários andamentos, com grandes variações (e alguns – inevitáveis – desequilíbrios), em termos gráficos e narrativos, para atenuar a sempre necessária carga documental, está especialmente conseguido o segundo deles, “Prisão”, em que um interrogatório da PIDE serve de pretexto para desfiar de forma aligeirada uma série de factos históricos sobre o artista. Ao todo falta, no entanto, uma abordagem mais profunda ao lado humano de Lopes-Graça.
Graficamente, se Cabrita ficou algo preso à imagem do homenageado, apresenta diversas soluções graficamente interessantes, mostra algum à vontade com técnicas diferentes e a (bela) prancha final deixa a vontade de o reencontrar num projecto em que disponha de outra liberdade…
(Versão revista do texto publicado originalmente a 13 de Junho de 2009, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Câmara Municipal de Tomar (Dezembro de 2008)
212 x 305 mm, 44 p., cor, brochado com badanas
Num mercado pequeno e com diversas outras limitações, alguns autores encontram junto das autarquias guarida para a publicação das suas obras. Quase sempre, traçando aos quadradinhos a História – as histórias – das respectivas localidades, com as potencialidades, características e limitações de todos bem conhecidas.
Ricardo Cabrita, com este álbum, é mais um exemplo, contando de forma sóbria (um)a biografia do maestro, compositor e musicólogo Fernando Lopes-Graça, a propósito dos 100 anos do seu nascimento.
Numa banda desenhada construída (propositadamente) a vários andamentos, com grandes variações (e alguns – inevitáveis – desequilíbrios), em termos gráficos e narrativos, para atenuar a sempre necessária carga documental, está especialmente conseguido o segundo deles, “Prisão”, em que um interrogatório da PIDE serve de pretexto para desfiar de forma aligeirada uma série de factos históricos sobre o artista. Ao todo falta, no entanto, uma abordagem mais profunda ao lado humano de Lopes-Graça.
Graficamente, se Cabrita ficou algo preso à imagem do homenageado, apresenta diversas soluções graficamente interessantes, mostra algum à vontade com técnicas diferentes e a (bela) prancha final deixa a vontade de o reencontrar num projecto em que disponha de outra liberdade…
(Versão revista do texto publicado originalmente a 13 de Junho de 2009, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Leituras relacionadas
C.M. Tomar,
Fora das Livrarias,
Ricardo Cabrita
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