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27/06/2013

Superman: Crónicas – volume 1









Jerry Siegel (argumento)
Joe Shuster (desenho)
Panini
Brasil, 2007
175 x 265 mm, 212 p., cor, cartonado
$R 56,00


Resumo
Compilação das primeiras aventuras de Superman, publicadas originalmente nas revistas Action Comics #1 a #13 e New York World’s Fair Comics #1.

Desenvolvimento
Embora seja um pretexto desnecessário, a mediatização actual em torno do Superman, não só devido às comemorações dos 75 anos mas também devido à próxima estreia do filme “O Homem de Aço”, justifica o regresso às origens daquele que, nascido como simples herói de papel, se viria a tornar um símbolo e um mito como a BD gerou poucos.

É evidente que a leitura destas páginas, hoje em dia, obriga a um exercício de transporte para a época da sua publicação, pois caso contrário poderão desmobilizar mais do que um leitor pela simplicidade e ingenuidade que revelam, à luz da forma como hoje entendemos a banda desenhada.
Apesar disso, são um documento fundamental para entender a história dos comics de super-heróis que tiveram aqui a sua origem e mantêm uma legibilidade assinalável, em especial em termos narrativos, sendo de destacar o ritmo acelerado de cada relato que tinha de ser resolvido em apenas 100 vinhetas (!) distribuídas por 13 páginas. Estas inicialmente tinham três tiras de duas ou três vinhetas cada uma mas, a partir da Action Comics #7, Shuster (?) opta por páginas com quatro tiras, de duas vinhetas cada, o que torna menos atraente a composição das pranchas.
É evidente que as diferenças entre o Superman actual dos Novos 52 e o de então são quase todas – sendo a designação e a identidade secreta talvez as únicas excepções.
Com a origem extraterrestre “despachada” nas duas primeiras vinhetas (!) da (futura) série (e só aprofundada – não muito! – um ano depois), os poderes iniciais - força sobre-humana, capacidade de saltar sobre prédios, enorme velocidade e pele invulnerável – irão sendo aumentados à medida das necessidades narrativas, recebendo rapidamente visão de raio X e a capacidade de ouvir a grandes distâncias. Curiosos são alguns efeitos “colaterais”, como a quebra dos passeios em que aterra após os saltos ou a facilidade com que fura paredes para sair ou entrar, mesmo não se tratando de emergências…
A identidade secreta de Clark Kent, obtida vestindo um fato sobre o uniforme azul e pondo uns óculos e um chapéu, fazia já tão pouco sentido na época como hoje. Mas, em acréscimo, o retirar dos óculos já era suficiente para viver nova personagem!
Apesar de tudo isto – onde se encontra grande parte das bases do que o Superman viria a ser - o que mais chocará os leitores de hoje, será sem dúvida o carácter do justiceiro.
Embora decidisse, logo na primeira prancha, “direcionar a sua força titânica de forma a beneficiar a Humaidade” e “dedicar a sua existência a ajudar os necessitados”, os meios que emprega estão bem distantes dos que caracterizam o campeão do bem que se viria a tornar.
Nestas primeiras histórias, não se coíbe de coagir fisicamente aqueles que tem de enfrentar – meros seres humanos e não supervilões… - podendo mesmo atirá-los pelo ar a dezenas de metros de distância, arrasar um bairro de lata para obrigar as autoridade a construir habitações decentes para os seus moradores, destruir e incendiar uma empresa de extracção de petróleo para dar uma lição a negociantes fraudulentos (depois de lhes extorquir um milhão de dólares…), declarar guerra aos motoristas imprudentes, destruindo os seus automóveis bem como a fábrica que os fabrica ou afrontar por diversas vezes as autoridades policiais! Chega mesmo a provocar a morte de alguns dos seus adversários, de forma mais ou menos involuntária, é verdade, mas sem quaisquer remorsos.
Razões mais do que suficientes para (re)descobrir as premissas de que Superman partiu, num tempo em que, ainda longe dos confrontos com supervilões, génios loucos ou invasores de outros mundos, se preocupava mais com questões sociais, possivelmente como reflexo da América que o viu nascer.

A reter
- As enormes diferenças entre esta origem do herói e a sua imagem de marca.
- A possibilidade de reler uma obra que é um marco na história dos quadradinhos…
- … mais a mais numa boa edição, bem impressa e cuidada…

Menos conseguido

- … a que falta, no entanto, uma introdução que a situe na época em que foi criada e, de alguma forma, a explique a leitores menos avisados.


07/06/2013

Superman: 75 anos













Há 75 anos, o número inaugural da revista Action Comics, com data de Junho de 1938, ficava marcado pela estreia de um dos mais icónicos heróis dos quadradinhos: o Super-Homem.

Criação de Jerry Siegel (1914-1996) e Joe Shuster (1914-1992), era apresentado como único sobrevivente de um planeta distante, enviado num foguetão pelos seus pais quando o planeta explodiu. Ao atingir a idade adulta descobriu que podia saltar sobre prédios de 20 andares, erguer enormes pesos, correr mais depressa do que um comboio expresso e que nada conseguia perfurar a sua pele. Tomando a decisão de usar os seus poderes para “beneficiar a humanidade”, tornou-se “o campeão dos oprimidos” e “jurou dedicar a sua existência a ajudar os necessitados”, utilizando um uniforme caracterizado pela cor azul, com as “cuecas” vermelhas – como a capa – por fora!
Nas treze curtas páginas da primeira aventura libertava uma inocente condenada à cadeira eléctrica, salvava uma mulher vítima de violência doméstica, enfrentava um bando de facínoras e ameaçava um senador corrupto, não hesitando em ameáça-los ou passar mesmo a vias de facto.
A sua identidade de super-herói era oculta sob a pele de Clark Kent, um jornalista do “Daily Star” (mais tarde transformado em “Daily Planet”) que representava o papel de fraco e cobarde perante a sua colega Lois Lane. Na sua dupla identidade de Clark e de Super-Homem, formaria com Lois um original triângulo amoroso, que só viria a (de)compor-se em 1996, quando os dois repórteres finalmente casaram.
Se este arranque trouxe sucesso imediato, esteve longe de obedecer a uma inspiração do momento. Na verdade, Siegel escrevera um conto similar, já ilustrada por Shuster, em 1931, mas protagonizado por um vilão vítima de experiências científicas. Três anos depois, os dois amigos ofereciam, sem sucesso, a sua criação, sob a forma de tiras diárias, aos diários norte-americanos. Finalmente, em 1938, com o advento dos comic-books (revistas de BD) a proposta era finalmente aceite pela National Comics (mais tarde DC Comics) e as tiras originais eram remontadas para o novo formato.

Despedidos pela editora em 1940, na sequência de um processo em que tentaram, infrutiferamente, obter a posse da sua criação, Siegel e Shuster viram o herói ser assinado por diversos autores que contribuíram para estabelecer a sua mitologia e, apesar de ser um extraterrestre, transformá-lo na personificação dos valores do ideal norte-americano.
Passou a ter pais adoptivos – Jonathan e Martha Kent -, os seus poderes – que passaram a incluir capacidade de voo, visão raio-X e de calor e super-audição - ficaram a dever-se à exposição à luz amarela do nosso Sol, cresceu em Smalville, no Kansas, onde viveu aventuras como o adolescente Superboy, mudou-se na idade adulta para Metrópolis, a cidade que o elegerá como seu defensor, viu o círculo jornalístico alargado com o aparecimento do editor Perry White e do repórter fotográfico Jimmy Olsen, protagonizou relatos a meias com Batman (nascido um ano mais tarde), encontrou a prima Supergirl e o cão Krypto (ambos sobreviventes de Krypton) e conquistou também inimigos à sua altura, destacando-se entre todos Lex Luthor, um génio do mal, que muitas vezes o tentou vencer expondo-o à kriptonite, o metal oriundo do seu planeta natal que o torna vulnerável.
A par da “Action Comics”, estrearia um título próprio e tiras diárias de jornal logo em 1939, chegaria aos desenhos animados dois anos depois e ao cinema em 1948. A participação no esforço de guerra americano enfrentando os nazis ajudou a cimentá-lo como o herói americano por excelência.
Atravessando as décadas, ao sabor da inspiração dos seus autores, a sua popularidade foi decaindo e, apesar do sucesso da interpretação no cinema de Christopher Reeves, em 1978, a sua aura foi-se apagando, decidindo a editora consumar a sua morte em 1992. A história, escrita por Dan Jurgens, arrastou-se ao longo de meses num pouco credível combate pugilístico com o vilão Apocalipse, que culminaria com a morte de ambos na revista “Superman” #75, que vendeu mais de quatro milhões de exemplares e foi alvo de uma atenção mediática sem paralelo até à data. Seguiu-se o funeral, a que assistiram amigos e inimigos, e surgiram quatro seres que se reclamavam herdeiros do Super-Homem. Este acabaria por ressuscitar após um período conturbado, que rendeu milhões à editora e repôs a sua fama e popularidade.

Depois, sucederam-se as actualizações, mudanças de origem e de uniforme - actualmente usa calças de ganga e tem uma relação quente com a Mulher Maravilha - vivências díspares em universos paralelos, o planeta Kripton ressurgiu e instalou-se nas proximidades da Terra, Lex Luthor chegou a presidente dos EUA, em sucessivas reconversões do universo da DC Comics que tornam difícil estabelecer uma cronologia sustentável do percurso daquele que continua a ser o maior super-herói de todos os tempos.

Action Comics #1
Um exemplar em óptimo estado de conservação, da revista em que o Super-Homem estreou, foi vendido por 2,1 milhões de dólares em 2011, tornando-se a mais cara revista de BD de sempre.

Siegel e Shuster
A perda dos direitos de Superman durante um processo na década de 1940 levou ao seu despedimento pela DC Comics que só nos anos 80, pressionada por um movimento encabeçado por Neal Adams e outros autores, decidiu atribuir-lhe uma pensão vitalícia. Os seus herdeiros continuam a defrontar a editora nos tribunais.

Mundo de Aventuras
O Super-Homem, divulgado entre nós em edições brasileiras, surgiu pela primeira vez em português no “Mundo de Aventuras #125”, em Janeiro de 1952, que publicou tiras diárias desenhadas por Wayne Boring. Na mesma época, o “Condor”, o “Condor Popular” e o “Ciclone” também publicaram bandas desenhadas com a mesma origem.
Só 30 anos depois seriam publicadas pela primeira vez no nosso país histórias oriundas dos comic-book, em “A Revista dos Super-Heróis”, da Agência Portuguesa de Revistas, e foi preciso esperar até 1995 para a Abril Morumbi editar uma revista com o seu nome. Esta editora lançou igualmente algumas edições especiais, incluindo aquela que narra a sua morte.
Em tempos mais recentes, as colecções “Clássicos da BD” e “Série Ouro”, editadas pela Devir com o jornal “Correio da Manhã”, dedicaram um tomo ao Super-Homem, que surgiu também em diversas edições da Devir, tendo a Vitamina BD editado os quatro tomos de “Kingdom Come”, de Alex Ross.

Novo filme
“O Homem de Aço” estreia em Portugal a 27 de Junho, duas semanas após a estreia mundial. Protagonizado por Henry Cavill, é dirigido por Zach Snyder que prepara também uma curta-metragem de animação com Bruce Timm, que homenageará os momentos mais marcantes dos 75 anos de vida do Super-Homem.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Junho de 2013)



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