Jerry Scott (argumento) e Jim Borgman (desenho)
Gradiva (Portugal, Junho de 2009)
210 x 220 mmm, 128 p., pb e cor, capa brochada
Menosprezados por alguns que as consideram “leitura menor”, as tiras humorísticas contam entre elas verdadeiras obras-primas como “The Peanuts”, “Calvin e Hobbes” e “Mutts”… Ou “Zits” (que o Jornal de Notícias publica diariamente, bem como outros 1600 jornais em todo o mundo) literalmente “borbulhas”, ou não seja ela sobre a adolescência e a sempre complicada convivência com o acne e com (as) outras gerações, no caso Jeremy, o adolescente que a protagoniza, e os seus pais, pertencentes a um outro (e mui distante) tempo, sem computadores nem telemóveis, mas com músicas estranhas e rituais (levantar cedo, arrumar o quarto, chegar cedo a casa…) incompreensíveis.
Mas é com eles – e com os seus amigos, com destaque para Sara, Hector e Pierce – que Jeremy tem que (con)viver, embora no caso destes últimos, namorada e companheiros inseparáveis de escola, de banda e dos maravilhosos sonhos (quase sempre inatingíveis…) da juventude, tudo funcione bem melhor. O que não impede que também originem razões para o leitor sorrir ou mesmo gargalhar abertamente, recordando (ou esquecendo…) as situações idênticas por que passou/está a passar…
Para isso contribui a forma como Scott explana as situações quotidianas – aparentemente banais - por vezes em diálogos brilhantes, bem como o traço de Borgman, solto e bem trabalhado, pormenorizado quanto baste, com corpos e rostos hiper-expressivos e capaz de traduzir graficamente (e de forma literal) as emoções e experiências das personagens, seja uma cabeça que explode ou alguém que trepa pelas paredes, a invisibilidade dos progenitores, a deformação voluntária das medidas anatómicas ou a incompreensibilidade de algumas conversas. Se tudo isto está em “Pierced”, 13º álbum da série, este distingue-se por ser uma colectânea dedicada a Pierce, tão valioso como amigo… quanto se vendido a peso no ferro-velho, devido aos inúmeros piercings, brincos e acessórios metálicos que ostenta! Idealista convicto de causas nem sempre defensáveis, nesta compilação de tiras, vê-se a coerência e consistência da personagem, dando razão a Maurice Tillieux (1921-1978), um dos grandes nomes da BD franco-belga, que um dia afirmou: “o herói é uma personagem que dificilmente animamos. São as personagens secundárias que fazem uma série”.
Curiosidade
“Zits” tem uma versão semi-animada, os "Zits Motion Comics", disponíveis gratuitamente em http://www.comicskingdom.com/index.php/zits-motion-comics.
(Versão revista do texto publicado a 8 de Agosto de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)