05/11/2011

AmadoraBD 2011 (IV)

5 e 6 de Novembro
Balanço

Chega ao fim este fim-de-semana o AmadoraBD. Como todos os anos, são mais as críticas do que os elogios, pois a natureza humana está sempre mais predisposta para aqueles. O que não quer dizer que muitas delas não sejam justas.
Pessoalmente, confesso que o facto de este ano ter estado mais próximo da organização, como comissário de uma exposição – a par da leitura da entrevista ao vereador da Cultura da C.M. Amadora, António Moreira, publicada no BDJornal #28 – me ajudou a perceber algumas das condicionantes que o festival tem que, se não justificam tudo, explicam algumas coisas.
Desde logo a necessidade de o projecto de arquitectura do Fórum Luís de Camões – este ano mais funcional e melhor sinalizado - ter de estar pronto em Janeiro, muito antes de estarem definidas as exposições…
Depois, o facto de o orçamento ser aprovado apenas em Julho, o que condiciona enormemente a programação e a sua divulgação, em especial, a possibilidade de ter grandes nomes da BD como convidados, daqueles que chamam fãs e o grande público e provocam as grandes enchentes que o festival já teve. Como contrapartida surgem no festival autores pouco ou nada conhecidos, sem exposição e sem livros à venda, condenados a passar despercebidos ou a desenhar em folhas soltas de papel.
Os aspectos atrás citados são burocráticos, chamemos-lhe assim, mas devem ser repensados, sob pena de a continuidade do festival ser colocada em risco.

Recorrentemente, tem surgido a ideia de que o festival poderia ser melhor se durasse apenas 4 ou 5 dias em lugar de três fins-de-semana. Se para mim, que moro em V. N. Gaia e normalmente só vou uma vez à Amadora, seria melhor, percebo perfeitamente a necessidade da autarquia rentabilizar o (grande) esforço financeiro feito. Quer prolongando no tempo o evento – e, dessa forma, o seu mediatismo – quer aproveitando-o para levar lá os alunos das escolas locais.
Além disso, a BD não tem em Portugal - em termos culturais e financeiros - o peso que tem nos países francófonos, nos EUA ou mesmo em Espanha, pelo que estas diferentes realidades dificilmente são comparáveis. E o mesmo se aplica aos modelos.
Questões semelhantes justificam a dispersão do festival pela cidade da Amadora, no aproveitamento e ocupação (durante algumas semanas ou meses…) de espaços camarários, possivelmente sem custos directos. A verdade, no entanto, é que, devido à distância entre elas a maioria dos visitantes passa ao lado dessas mostras. E, este ano, exposições como as de Relvas ou José Pires, mereciam ter mais público (digo eu, que não tive hipótese de as visitar…)

Em termos de exposições, cujo bom nível deve ser salientado, regista-se mais uma vez a ausência de autores ligados ao manga e aos super-heróis – e não têm de ser japoneses ou norte-americanos, podem ser europeus… - por ser lacuna grave e por serem passíveis de contribuir para a renovação geracional dos visitantes do AmadoraBD.
Isto não invalida o interesse das que foram apresentadas, onde me apraz destacar as dedicadas a Filipe Melo (enquanto argumentista…), Filipe Andrade, a solo e com Filipe Pina, Rui Lacas, Carlos Roque (relativamente simples mas bastante abrangente), Nelson Martins ou David Soares/Pedro Serpa…
A estas, há que acrescentar a mostra central, uma proposta de leitura – uma das possíveis – feita por Osvaldo Macedo de Sousa acerca do papel do humor nos quadradinhos ao longo da sua história, onde, a par do aspecto didáctico foi possível encontrar originais bem interessantes.
Originais também presentes na dedicada aos 60 anos dos Peanuts, embora em número reduzido, com a agravante, aqui, da (aparente) falta de parte dos painéis previstos…

Voltando à questão arquitectural - que compensou bem a redução do número de exposições a que o corte de um terço do orçamento obrigou - penso que as mostras do piso inferior continuam a ter alguma falta de visibilidade, pela colocação da feira logo no início. Quanto à zona dos autógrafos, se este ano esteve melhor do que em anos recentes, pecou por “encerrar” os autores longe da vista de quem pass(e)ava. Já agora, porque não criar um espaço único mais aberto, de venda e autógrafos, em que os autores assinem junto das bancas que têm os seus livros, potenciando um e outro aspecto?
Podendo ser questão de pormenor para a generalidade dos visitantes, há que saudar o facto de este ano o programa e o catálogo estarem disponíveis desde o início do festival. O que prova que tal é possível.
Em termos de edições, penso que continua a faltar a publicação autónoma dos premiados do concurso e de outros trabalhos que o júri ache relevantes, mesmo que numa edição sem luxos nem manias de grandeza. Porque a BD – toda a BD – antes do mais é para ser lida.
Ainda em termos editoriais, este ano o AmadoraBD – mais uma vez – fica marcado pelo bom número de lançamentos nacionais, sendo incontornável o sucesso – a vários níveis – do lançamento de “As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy II – Apocalipse”. E num aparte, quero frisar a importância da acção dos autores neste particular, substituindo-se à editora, sim, mas “fazendo pela vida” – algo que muitas vezes tem faltado na BD nacional. O que também ajuda a explicar aquele sucesso.

Mais poderia ser dito, sem dúvida, mas penso que foquei os aspectos mais relevantes.
Com o pano a cair sobre a 22º Festival de BD da Amadora, fica a proposta de uma visita
hoje e/ou amanhã – o que, claro está, recomendo – e o programa previsto para estes dois dias.

AUDITÓRIO
Sábado, 5 de Novembro
16 h
Apresentação de “É de Noite Que Faço as Perguntas” (Edições Saída de Emergência), com David Soares (argumento), e os desenhadores Jorge Coelho, André Coelho, João Maio Pinto e Daniel Silvestre da Silva
18 h
Apresentação de “Mahou na Origem da Magia” (Edições ASA), com Hugo Teixeira (desenho) e Vidazinha (argumento) e Pedro Mota
Domingo, 6 de Novembro
16 h
Lançamento informal de “As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy” pela Dark Horse, seguido de visita à exposição, com Filipe Melo (argumento), Juan Cavia (desenho) e Santiago Villa (cor) e Pedro Mota
AUTÓGRAFOS
Sábado, 5 de Novembro
15h
André Coelho
Daniel Silvestre da Silva
David Soares
Geral & Derradé
Hugo Teixeira
João Maio Pinto
Jorge Coelho
José Ruy
Pedro Leitão
Ricardo Cabral
Victor Mesquita
Vidazinha
Yara Kono

16h
António Gomes dAlmeida
Geral & Derradé
Hugo Teixeira
José Ruy
Pedro Leitão
Ricardo Cabral
Roberta Gregory
Rui Lacas
Victor Mesquita
Vidazinha
Yara Kono

17h
António Gomes dAlmeida
Carlos Pedro
David Soares
Fernando Dordio
GEvan…
Hugo Teixeira
José Ruy
Mário Freitas
Nuno Duarte
Nuno Saraiva
Osvaldo Medina
Pedro Leitão
Ricardo Cabral
Roberta Gregory
Victor Mesquita
Vidazinha

18h
Carlos Pedro
Fernando Dordio
Geral & Derradé
GEvan…
José Ruy
Mário Freitas
Nuno Duarte
Nuno Saraiva
Osvaldo Medina
Ricardo Cabral
Roberta Gregory
Victor Mesquita

Domingo, 6 de Novembro
15h
André Coelho
Daniel Silvestre da Silva
David Soares
Filipe Melo
Geral & Derradé
Hugo Teixeira
João Maio Pinto
João Mascarenhas
Jorge Coelho
Juan Cavia
Maria João Worm
Pedro Leitão
Ricardo Cabral
Santiago Villa
Victor Mesquita
Vidazinha

16h
André Coelho
António Gomes dAlmeida
Daniel Silvestre da Silva
David Soares
Geral & Derradé
Hugo Teixeira
João Maio Pinto
João Mascarenhas
Jorge Coelho
Maria João Worm
Pedro Leitão
Ricardo Cabral
Roberta Gregory
Rui Lacas
Victor Mesquita
Vidazinha

17h
António Gomes dAlmeida
Carlos Pedro
David Soares
Fernando Dordio
Filipe Melo
GEvan…
Hugo Teixeira
Juan Cavia
Mário Freitas
Nuno Duarte
Osvaldo Medina
Pedro Serpa
Ricardo Cabral
Roberta Gregory
Rui Lacas
Santiago Villa
Vidazinha

18h
Carlos Pedro
David Soares
Fernando Dordio
Filipe Melo
Geral & Derradé
GEvan…
Hugo Teixeira
Juan Cavia
Mário Freitas
Nuno Duarte
Osvaldo Medina
Pedro Serpa
Ricardo Cabral
Roberta Gregory
Rui Lacas
Santiago Villa
Vidazinha

6 comentários:

  1. gostei de ler o teu texto, Pedro.

    deixo ainda uma sugestão para a promoção do Festival (sem fazer ideia das implicações que isto possa trazer para as Editoras/Festival):

    — porque não ter acordos com as livrarias (Bertrand, Fnac, etc - eventualmente até na zona dos livros dos grandes supermercados), para durante o período do Festival terem nas montras (ou no interior da loja) um poster + material promocional + programa do Festival?

    Acho que seria bom para todos: editoras, livrarias, autores e leitores.
    Não achas?

    Já que o festival dura 3 semanas, acho que até faria sentido estar em todas as livrarias do país e não apenas nas da zona da grande Lisboa.

    Catarina Gusmão

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  2. Boa noite Pedro obrigado pela dica do Toys de Gaia já ter as figuras da Marvel dos Mega Blocks.
    Já agora se puderes divulgar o meu blog agradecia.
    http://aarcadotesouro.blogspot.com/

    Abraço

    Fernando Ferreira

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  3. Caro Fernando Ferreira,
    Foi um prazer ajudar.
    E fica no seu comentário, então, o link para o seu blog, A Arca do Tesouro, sobre as suas colecções de figuras.
    Boas leituras... e colecções!

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  4. Olá Catarina,
    Obrigado pela visita!
    Se a ideia em teoria parece interessante, na prática parece-me que obrigaria a que todos os intervenientes - festival, editoras, livrarias - olhassem de outra forma para a BD e apostassem na sua promoção comercial, algo que raramente tem sido visto entre nós...
    Boas leituras!

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  5. Gostei deste post. Singelo e objectivo. Houve tempos que fiz alguns comentários ao Festival de BD da Amadora, alguns deles nada abonatórios, mas fiz sempre a ressalva de não saber o que se passava nos bastidores. Dizem que "falar mal é fácil", mas não o é, objectivamente, isto é. Cair na tentação de falar mal sem objectividade é fácil, e eu já nela caí, infelizmente. Gostei também da sua ressalva, embora comissariando uma exposição, não desarmou apontando que mesmo tendo um vislumbre mais elucidativo, serviu também para verificar que continuam a existir erros que poderão ser colmatados (esperemos que o sejam).
    O Nelson Dona este ano, na medida do possível, aproximou-se dos festivaleiros explicando algumas das nuances do festival: muito bom. Subsistem ainda algumas dúvidas, mas pelo seu teor político percebo a resistência em as esclarecer.

    Quando por algumas vezes chamei o Salão de Barcelona e mesmo Angoulême à baila, não fiz para compará-los à nossa realidade (isso não se faz, por não ser justo); pode-se, no entanto, retirar muitas boas lições desses exemplos mais musculados (também podemos ficar longe de outras por lá praticadas).

    A FNAC e a Bertrand, se mandassem alguma coisa, proibiriam este festival a não serem se fossem convidados (não pagassem pelo espaço, tivessem quem levasse os livros e os trouxesse de volta e quem os vendesse no festival por eles) ;)

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  6. Refemdabd, hoje tiraste o dia para me comentar!
    Muito obrigado desde já!
    Em relação ao AmadoraBD, estar do "outro lado" ajudou a compreender muita coisa, mas não tudo. mesmo com as condicionantes que existem, este não seria o festival que eu gostaria de fazer, embora tenha gostado de muitas coisas que lá estiveram.
    A referência aos salões de Angoulême e Barcelona não foi uma resposta directa a ninguém, porque esses e outros têm sido recorrentemente evocados. E, para mim, a grande diferença não são os festivais em si, mas sim o mercado real de BD que está por detrás deles e que em Portugal não existe...
    O que também justificará a tal posição referes que FNAC e Bertrand assumiriam...
    Boas leituras!

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