09/11/2011

Cubitus

L’Intégrale #4
Dupa (argumento e desenho)
Le Lombard (Bélgica, Outubro de 2011)
225 x 285 mm, 200 p., cor, cartonado
24,95 €

Resumo
Quarto tomo - dos 10 previstos - da reedição integral de Cubitus, uma criação de Dupa (aliás Luc Dupanloup, 1945-2000) este livro agrupa os álbuns “Cubitus, chien fidéle”, “Pas de Salades”, “Cubitus, est-ce bien sérieux?” e “Alerte au pédalosaure”.

Desenvolvimento
As séries de humor franco-belgas, geralmente auto-conclusivas numa ou duas páginas, estão indissociavelmente ligadas à publicação em revista, onde tinham lugar por mérito próprio, embora muitas vezes funcionassem também como tapa-buracos para equilibrar conteúdos ou colmatar falhas de última hora. Neste aspecto, dois títulos assumem particular importância: os das revistas Spirou e Tintin. E foi nas suas versões nacionais, especialmente na desta última, que muitos leitores portugueses as descobriram.
Cubitus, de Dupa, é um desses casos de sucesso, prolongado no tempo como o comprovam os 39 volumes com as suas aventuras publicados no mercado francófono. Isto, apesar da limitada galeria de personagens e do aparente contra que é uma das suas características muito peculiares: a utilização (voluntária) de monólogos/diálogos extremamente palavrosos.
Na base da série está Cubitus, um cão invulgarmente anafado, e cuja silhueta é invulgarmente semelhante à do seu dono Sémaphore. A relação entre eles não é apenas de dono/cão, mas também são bons amigos – apesar de algumas desavenças, tão irascível é um quanto o outro – até porque Cubitus, em muitas situações, fala com ele e assume em casa todas as funções possíveis e imagináveis. Esta dualidade no carácter do protagonista animal/humano, causa por vezes surpresas e efeitos bem cómicos, pela mudança de “personalidade” que surpreende quem lê.
A par disso, Dupa, o criador da dupla, frequentemente coloca as suas personagens noutras épocas ou situações para extrair delas os mais inesperados efeitos cómicos. Ainda no âmbito da galeria de personagens, numa segunda linha, surge Sénéchal, o gato do vizinho e inimigo jurado de Cubitus, vítima do mau feitio deste mas, com alguma frequência vencedor dos duelos entre ambos..
Como referido atrás, muitos dos gags – cujas situações são, por vezes, exploradas ao longo de várias páginas - assentam em monólogos ou diálogos que preenchem boa parte das vinhetas, numa linguagem rebuscada que, se por um lado obriga a leitura atenta, por outro permite tirar melhor partido das situações que o desenho vai mostrando e que, por vezes, não correspondem de todo ao texto escrito, obrigando a uma dupla leitura! No entanto, em Cubitus há também gags completamente mudos, que permitem comprovar como Dupa dominava plenamente a técnica de narração em banda desenhada e a agilidade do seu traço apesar do volume das suas personagens.
As situações criadas, com as excepções já referidas, geralmente abordam situações do quotidiano, familiares aos leitores, mas exploradas até ao absurdo ou com finais inesperados que forçam obrigatoriamente ao sorriso.
Ao contrário do habitual neste tipo de séries, Dupa optou com alguma frequência por relatos longos – com as tradicionais 46 pranchas do formato padrão franco-belga – nos quais, no entanto, apesar das narrativas bem escritas e desenvolvidas, a série funciona menos bem pois os excessos verborreicos de Cubitus e Sémaphore quebram demasiado o ritmo de leitura, prolongando-a para além do que seria razoável faca à acção muitas vezes movimentada que se vai desenrolando.

A reter
- Mais uma edição integral, a um preço apetecível.
- O humor altamente verborreico de Cubitus e a sua alternância com gags puramente visuais, em pranchas (quase) completamente mudas.

Menos conseguido
- Falta nesta edição o dossier que outras similares geralmente contêm e que a curta biografia de Dupa no final não faz esquecer. Mas que está programado para o décimo e último tomo da colecção.
- Tratando-se de uma reedição integral, é pena que tenha sido decidido seguir a paginação dos álbuns isolados já existentes e que não se tenha optado por uma edição cronológica dos gags e pela inclusão das (muitas) histórias curtas de Cubitus que ao longo dos anos Dupa criou.

Curiosidades
- De certa forma como reflexo da publicação em revista – e também da cumplicidade entre autores, mesmo que de títulos diferentes – Cubitus tem pequenas paródias/homenagens, mais ou menos directas, a outras séries. No actual volume, uma delas visa Tintin enquanto que noutra se encontram diversas referências antes da citação (deturpada) de Lucky Luke. Nalgumas histórias curtas de Cubitus, aliás, a colagem – até gráfica - a alguns heróis chega a ser quase total para ampliar o efeito cómico.

- Reflexo de outros tempos e de outra forma de estar, neste álbum é possível encontrar Cubitus a fumar, sucessivamente, cigarro, charuto e cachimbo. Fosse a história criada hoje e a prancha ficaria certamente por publicar…

Em Portugal
- Cubitus estreou-se em Portugal na revista Tintin #18 (1º ano), de 28 de Setembro de 1968, tendo sido um dos heróis regulares da revista, ao longo de toda a sua existência.

- Para além disso, a criação de Dupa fez também aparições no Tintin Especial Anual, Almanaque Tintin e Selecções Tintin. Em todas estas revistas, Cubitus protagonizou capas por diversas vezes.

- Em 1978, a editora Arcádia lançou os dois primeiros álbuns da personagem, intitulados “A melhor colheita” e “Um Óscar para Cubitus”, tendo no ano seguinte editado “O caldo entornado”. Nos três casos trata-se de edições com capa brochada, coloridas, com 32 páginas agrafadas.


2 comentários:

  1. Cubitus faz-me lembrar a minha infância! Continuei sempre a ler Cubitus enquanto durou a revista Titim, era muito bom! Bem pelo menos eu achava...
    :D

    Abraço

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  2. Olá Bongop,
    Ainda bem que te evoquei bons tempos!
    No caso de Cubitus, que li pontualmente, acho que o aprecio mais hoje (embora de forma moderada) do que nesses tempos idos!
    Boas leituras de... Cubitus!

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