Apesar da crise são muitas e variadas as propostas de banda
desenhada para se perder neste Natal, por isso, esqueça as meias e os
chocolates. Em Portugal, apesar da crise, ainda se encontram muitas propostas
aos quadradinhos, para (quase) todos os gostos, idades e bolsas, para oferecer
às crianças e adultos que se portaram bem.
Curiosamente, dada a conjuntura, muitas dessas propostas até
têm autoria nacional, em edições cuja pequena tiragem contrasta com o talento e
a ambição dos criadores portugueses.
Descubra algumas das edições disponíveis no nosso país, já a
seguir.
Em termos de vendas, As
Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy III – Requiem (ver caixa)
detêm a primazia. À dimensão nacional, pode dizer-se que são mesmo um caso sério de vendas. O primeiro
volume já vai na 6.ª edição, o segundo tem três e o terceiro (e último) tomo, Requiem, assente numa campanha mediática
que incluiu o vídeo viral das aranhas gigantes em Lisboa e numa tournée nacional com a presença dos autores, o português Filipe Melo e os argentinos
Juan Cavia e Santiago Villa, mostrou mais uma vez a popularidade dos
improváveis heróis sediados em Lisboa e habituados a salvar o mundo das ameaças
mais surpreendentes e fantásticas.
No entanto, se olharmos sob a óptica dos troféus – de interesse
e projecção sempre discutíveis – é OBaile que se destaca. Obra de Nuno Duarte e Joana Afonso, de que acaba de ficar
disponível a 2.ª edição, foi distinguida com os principais prémios para a BD
nacional, e é uma história que decorre numa aldeia assombrada por mortos-vivos
durante a ditadura salazarista, protagonizada por um agente da PIDE pouco
convicto.
Entre as propostas nacionais distinguem-se igualmente Palmas para o esquilo, de David Soares e
Pedro Serpa, uma incómoda viagem pela loucura, O Impaciente Inglês, de Mário Freitas, André Pereira e Bernardo
Majer, sobre a procura de um artefacto isabelino, relacionado com a morte de
Shakespeare, num amplo contexto ficcionado das relações luso-britânicas, e Comic Transfer, o resultado de um
intercâmbio luso-alemão entre Ricardo Cabral e Till Laßmann, sobre a forma como
vemos os outros e eles a nós.
A mais apropriada à época é, no entanto, No presépio…, que revisita, de forma satírica
o primeiro Natal e é assinada por Álvaro e José Pinto Carneiro.
Os saudosistas das revistas periódicas de BD, aguardadas
ansiosamente semana após semana, podem reviver esses tempos procurando Laços, uma revisão terna e emotiva da
Turma da Mônica feita pelos irmãos Vítor e Lu Cafaggi, já disponível nos quiosques nacionais, onde já está a Disney Especial Natal, com uma
selecção de histórias alusivas à quadra, protagonizadas por patos e ratos.
Outro (re)encontro possível é com o Príncipe Valente – que
as revistas portuguesas também publicaram em profusão – com a magnífica arte de
Hal Foster restaurada de forma apaixonada pelo português Manuel Caldas, numa
edição que tem o (ligeiro) senão de ser em língua espanhola, para um editor…
uruguaio(!). Apesar disso Los Guerreros
de Hierro, com as pranchas publicadas originalmente em 1953 e 1954, pode
ser encomendado em Portugal.
Também das revistas, em especial do saudoso Tintin, este fim
de ano trouxe as versões portuguesas dos dois maiores best-sellers francófonos:
Astérix entre os Pictos e Blake e Mortimer: A onda Septimus. Este
último é uma sequela do mítico álbum A
Marca Amarela, que levou os fleumáticos heróis britânicos de Jacobs para as
ruas nevoentas de Londres.
Quanto ao primeiro álbum dos gauleses sem Goscinny e
Uderzo, assinado por Ferri e Conrad, se a sua tiragem nacional permanece em
segredo e está certamente longe dos dois milhões da edição francófona que
esgotaram em poucos dias, é certamente relevante mesmo fora do círculo restrito
da BD. Nele, os gauleses vão até à Caledónia (actual Escócia) para auxiliarem
os pictos contra os romanos e um ditador local e descobrirem mistérios que
chegaram aos nossos dias.
Foi também nas páginas do Tintin que se estreou Rosa Delta sem Saída, incursão na
ficção-científica do português Fernando Relvas, agora recolhida em livro juntamente
com Slow Motion.
Para quem nasceu tarde para ter este tipo de memórias, é
melhor apostar em edições de manga (BD japonesa). Blue Exorcist, com o primeiro tomo acabado de publicar, Death Note e Naruto são alternativas possíveis. Este último faz a ponte com a
TV, onde os mais pequenos vêem regularmente Geronimo Stilton. O rato
jornalista, nascido em romances infanto-juvenis, tem também uma versão desenhada,
cujo décimo tomo, O primeiro Samurai,
o leva ao Japão do século XVII.
Ainda com a TV como mote, estão nas livrarias The Walking Dead – A calma antes, nova compilação
dos comics onde a série nasceu, sensivelmente no mesmo ponto em que vai a série
televisiva, apesar das diferenças entre os dois suportes que se têm vindo a
aprofundar, e 99 séries de televisão parapessoas com pressa, que em apenas três vinhetas e de forma irónica resume
alguns dos maiores sucessos televisivos das últimas décadas, de Anatomia de Grey aos Sopranos, passando por O Sexo e a Cidade ou o Barco do Amor.
Para os adeptos da BD franco-belga há Caroline Baldwin: Moon River, um policial intimista no feminino, e As Águias de Roma – Livro IV, um fresco
de acção da autoria de Marini, sobre o período dos confrontos entre romanos e
bárbaros.
De paragens próximas, em termos linguísticos, vêm Ardalén, do galego Miguelanxo Prado, um longo e notável romance desenhado sobre a
memória, que é uma das edições mais apetecíveis deste ano e lhe valeu o Prémio Nacionl del Comic, o mais importante galardão
espanhol para BD, e Duas Luas, dos
brasileiros André Diniz e Pablo Mayer, história intrigante sobre família,
integridade e violência que decorre numa favela.
Para aqueles de quem o Pai Natal se esquecer ou a família
achar que já ‘são grandes para ler quadradinhos’, restam as edições digitais, que
têm a vantagem de serem gratuitas.
Se tiverem nervos de aço, Calafrios!,
compilação de histórias clássicas de terror norte-americanas da década de 1950,
pode ser a escolha. Quanto a Hanako,
a primeira das Butterfly Chronicles criada por João Mascarenhas, dirige-se
espacialmente aos apreciadores de manga, estando disponível em português,
inglês e japonês.
Finalmente, o TLS WebMag,
já com quatro números, reúne alguns dos mais talentosos artistas portugueses da
nova geração que trabalham juntos no The Lisbon Studio.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de
Notícias de 15 de Dezembro de 2013)
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