Depois do (aplaudido) Diário
Rasgado e de Anos
Dourados, Zombie marca o
regresso de Marco Mendes, desta vez numa narrativa longa.
O livro, cuja minha leitura vem já a seguir, será apresentado amanhã, sábado, 13 de Dezembro, às 15h30, na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, no âmbito da exposição Sub 40.
Apesar do título poder ser enganador – porque não segue
modas actuais, antes aponta para a existência (quase) vazia e sem objectivos, característica
de (muitos) dos jovens actuais que, mais do que viver, se limitam a deambular
pela vida - a mudança do registo, quase de tira diária para narrativa de maior
fôlego, não implicou alterações a nível gráfico ou temático.
Na verdade, mantêm-se intactas – até mais depuradas pelo
ganho de experiência e pela publicação mais regular? - aquelas que são as (reconhecidas)
qualidades do autor portuense: o olhar atento sobre o (seu) quotidiano, uma
capacidade invulgar de o transcrever através da linguagem gráfica que adoptou, quer
pelos diálogos credíveis e consistentes, quer pelo traço algo rude mas realista
– e o trabalho de cor - muito bem conseguido que sustenta o conjunto.
Podendo ser dividido em duas partes, Zombie, começa por revelar as dificuldades que o autor tem de
assumir relacionamentos sérios com as mulheres, uma questão cada vez mais
latente na nossa sociedade virada para si mesmo e para os ecrãs, com que se vai
cruzando – não por acaso Elif, na sua loucura ‘juvenil’ é aquela com quem
melhor interage, embora o leitor fique sempre à espera de um passo seguinte que
não acontece, e é em Liliana, (mais uma mulher) de passagem, que encontra algum
do carinho e proximidade de que está carente.
A meio, enganador episódio autónomo que não exorciza
fantasmas antes soa como fuga provisória, surge uma abordagem a uma das nódoas
e aberrações da actual vida académica portuguesa: as praxes e o comportamento
abjecto de ‘doutores’ na humilhação crescente aos caloiros que só ambicionam
substituí-los.
Este é também o tema base do (longo) texto do francês Samuel
Buton que fecha o livro e que proporciona um olhar distanciado – mas não díspar…
- sobre o mesmo (triste) fenómeno, na óptica da incompreensão de quem vem de
longe.
A (dupla) denúncia, não sendo nova, no caso de Marco Mendes
(também) professor universitário, ganha (os) novos contornos que a sua abordagem
gráfica proporcionam, reforçada pelo tom caricato que a sustenta e torna mais
ridícula a situação retratada.
Relato intimista e deprimido – com a (sua) vida e a forma
como se vive actualmente no país (a vários níveis) - apesar de alguns traços de
humor, fruto da loucura pós-adolescente que ainda co-existe com o adulto que há
em Marco e nos seus amigos - que procuram nalguma militância de protesto,
enganadoramente visível no carácter passageiro que Marco Mendes no final assume
- Zombie é uma obra de forte
actualidade, muito aconselhável que confirma um dos mais talentosos autores
portugueses do momento.
Zombie
Marco Mendes (banda
desenhada)
Quando Eu For Grande
Samuel Buton (texto)
Turbina/Mundo Fantasma
Portugal, Dezembro de
2014
290 x 215, 72 p.,
cor, cartonado
17,00
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