Se a importância – criadora e histórica – de Gianluigi
Bonelli e Sergio Bonelli (Guido Nolita) são indiscutíveis para a afirmação de
Tex, parece-me indiscutível a relevância de Mauro Boselli na sua renovação – na
continuidade – e na sua modernização, para o aproximar do nosso tempo.
Os Sete Assassinos
– actualmente à venda em Portugal - é (mais) um exemplo disso.
Na verdade, as histórias de Boselli são geralmente mais
elaboradas – perdendo alguma da ingenuidade que fez de Tex o ídolo de muitos
leitores em décadas anteriores? – e conferem ao ranger e aos demais
protagonistas uma espessura e uma profundidade de carácter que muitas vezes não
acontecia no passado e que o aproximam de concepções mais interessantes – e
modernas - do western.
A par disso, Boselli tem sabido recuperar participantes de
histórias mais antigas – no caso presente regressam Lena e Donna, esposa e
filha de um dos membros do célebre Bando dos Inocentes (e também paixões – nem
sempre? – platónicas de Kit Carson e Kit Willer…) – o que contribui para dar
maior consistência ao universo texiano.
Os Sete Assassinos
parte de um pressuposto bem concebido: um bando guiado por um cego que é um
formidável atirador e que integra uma série de criminosos, todos eles
aberrações com capacidades (?) distintivas- Por coincidência este bando assola
a região em que Tex, Carson, Kit e Jack Tigre perseguem um jogador que
aparentemente se tornou assassino, acabando o confronto por se tornar inevitável
quando os respectivos caminhos se cruzam nas proximidades da hospedaria que
Lena e Donna gerem.
As características (horríveis) – lado a lado com o carácter
amoral e hiperviolento dos sete assassinos - conferem um tom diferente a esta
aventura, que aqui e ali roça quase o terror e tornam-na uma das mais violentas
que já li de Tex.
Considero mesmo que as páginas 20 e 21 apresentam cruamente
duas das mais violentas cenas que este western já apresentou pois, se são
muitos os mortos e feridos que o ranger e os seus amigos deixaram pelo caminho
ao longo de décadas, os habituais tiroteios e trocas de socos decorrem quase
sempre de forma quase anódina, tão vulgares se tornaram e tão ‘ligeiros’ são os
seus efeitos. Depois, ao longo da história, embora presente, a violência (visual)
atenua-se e as consequências de cenas semelhantes são apenas sugeridas, não
sendo visíveis os seus efeitos…
Com uma galeria de vilões – que noutras ‘paragens aos
quadradinhos’ poderiam dar interessantes sequelas – Os Sete Assassinos fica assim como uma história marcante pela
violência mas também pela forma consistente e equilibrada como se desenrola,
com a acção a decorrer a vários níveis e a conduzir as duas narrativas
paralelas para a esperada confluência, sem o final apressado que tantas vezes é
marca de Tex, e pela força de algumas personagens secundárias, onde não faltam
rivais para os dois Kit e oportunidade de redenção de quem parecia incapaz de
qualquer acto de heroísmo.
Da edição brasileira, quero destacar Monstros Jamais Vistos, a boa leitura que Júlio Schneider fez desta
história em jeito de introdução, embora discorde quando afirma que o facto de
que “nenhuma mulher ou criança é
vitimada pelo bando” não deixa “esquecer que os sete monstros, no fundo (bem no
fundo), são seres humanos” pois parece-me que pelo que é revelado da sua
natureza, em especial as mulheres deveriam ser vítimas dos horrores que os
fora-da-lei nunca hesitam em cometer ao longo de todo o relato e essa falta de
‘apetência’ pelo belo sexo – que a acontecer não seria estreia no Tex de
Boselli - retira um pouco da verosimilhança do relato.
Tex Edição de Ouro #72
Os Sete Assassinos
Mauro Boselli (argumento)
Marcello (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Maio de 2014
135 x 175 mm, 328 p., pb, brochado
R$ 22,90 / 11,00 €
(Texto previamente publicado no Tex Willer Blog de onde são originárias as imagens)
(Texto previamente publicado no Tex Willer Blog de onde são originárias as imagens)
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