Não havendo com frequência – o que talvez até seja bom
porque senão deixaríamos de as valorizar tanto - obras como Peanuts, Mafalda ou Calvin and Hobbes,
o que geralmente procuro numa colectânea de tiras de banda desenhada é que me
divirtam e surpreendam.
Armandinho Zero, cumpriu os dois pressupostos.
Antes de entrar propriamente na obra, registo com satisfação
(mais) este olhar sobre a banda desenhada brasileira contemporânea – depois das
(estimulantes) propostas da Polvo – que permite espreitar um pouco as histórias
aos quadr(ad)inhos que actualmente (tão bem) se produzem no Brasil.
Armandinho, criação de Alexandre Beck, com influências
reconhecíveis mas assimiladas num estilo e numa abordagem próprias, nasceu como
tira diária de imprensa em 2010 e é nesse formato que continua a ser publicado
em diversos jornais brasileiros.
O protagonista – baptizado pelos leitores já com a tira em
publicação, num curioso processo que este livro permite conhecer – dá nome à
série e é uma criança de 5 ou 6 anos, irrequieta, traquina, observadora e
mordaz. Nada de muito novo neste meio e nem a sua ambientação no Brasil faz a
diferença, num mundo cada vez mais (maçadoramente) igual, fruto da
globalização.
Apesar disso, quer o traço agradável, simpático e bastante
expressivo de Beck, quer o bom trabalho de cor que ele denota, quer,
principalmente o humor desarmante que ele aplica, fazem de Armandinho uma leitura
agradável e bastante divertida.
Com um olhar terno mas crítico sobre o mundo actual, a vida
em família ou a convivência com um sapo dentro de casa (!), Armandinho, para
além deste último, quase só contracena com os pais – de quem conhecemos apenas
as pernas, o que torna o mundo em que se move ainda mais seu.
Os problemas escolares, as questões alimentares, a falta de
tempo dos progenitores (para o que é realmente importante), a guerrilha pela
manutenção do sapo como animal de estimação e, principalmente (?), as questões relacionadas
com a infância, sejam elas a imaginação, os temores, as traquinices ou a
perspectiva diferente que as crianças conseguem ter do (mesmo) mundo em que
vivemos, são abordados com humor, ternura e sentido crítico q.b. por Beck, como
se pode comprovar nesta edição cuidada que, inspiradamente A Castor de Papel
decidiu trazer aos leitores portugueses.
Armandinho Zero
Alexandre Beck
O Castor de Papel
Portugal, Outubro de 2014
210 x 150 mm, 96 p., brochado com badanas
ISBN: 9789898761026
9,54 €
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