Marco Mendes
Mundo Fantasma/Associação Turbina/A Mula (Portugal, Maio de
2012)
210 x 280 mm, 84 p., pb e cor, cartonado
15,90 €
Este álbum, desde já uma das (boas) surpresas editoriais do
ano - pelo conteúdo e pela bela edição - é uma recolha de bandas desenhadas, geralmente de uma única página –
embora pontualmente haja sequência entre algumas delas - publicadas pela primeira
vez no blog do autor com o mesmo nome e, nalguns casos, em fanzines nacionais e
estrangeiros, entre os quais se conta “Tomorrow the chinese will delivery the
pandas”, da responsabilidade do próprio autor, que nasceu em 1978 na Figueira
da Foz e vive actualmente no Porto – reconhecível em boa parte destas pranchas
-, onde foi fundador do Clube do Desenho e do colectivo artístico e editorial
“A Mula”.
Verdadeiro diário gráfico, de tom assumidamente
autobiográfico como entre nós raramente foi praticado, nele Marco Mendes expõe
– e se expõe – apontamentos diversos do seu quotidiano, referentes aos seus
amigos, à sua namorada, aos seus anseios, êxitos e (algumas) frustrações, de
uma forma crua e directa que, por vezes, choca – embora não gratuitamente -
pela forma como se despoja (e se expõe…) totalmente.
Pontualmente revestidos de um sentido de humor desencantado,
estes apontamentos, ricos, nervosos, urgentes por vezes, outras convidando à
contemplação e/ou à reflexão, pelo que revelam mas também pelo que deixam entrever,
tipificam igualmente uma certa forma de vida e algumas das opções (ou da falta
delas?), reveladoras de um tempo – que é o hoje, no qual esta obra surge bem
ancorada.
Graficamente, é notória a evolução ao longo do período
(2007-2001) que o álbum abarca e também a experimentação – de novas técnicas e
materiais - que move o autor (como pode ser comprovado pelos originais patentes na galeria Mundo fantasma, no Porto, até 10 de Junho), desde as primeiras pranchas, traçadas a
esferográfica, em traço directo (ou quase), de forma rude e imediata, até à belíssima capa ou às pranchas mais recentes, mais trabalhadas, com um traço apurado, fruto de múltiplas
passagens em papel vegetal, sempre em busca da linha, da pose, do ponto de
vista ideais, coloridas ou servidas com belo trabalho de cinzentos e sombreados,
que mostram um autor muito dotado, à vontade no tratamento do corpo humano –
auxiliado pela sua prática enquanto professor de desenho, ilustrador e artista
plástico? - e na sua integração nos cenários, de tal forma competente que chega
por vezes a transmitir a ideia – falsa – de que trabalha sobre base fotográfica.
E muito atento, também, aos pequenos gestos do quotidiano,
como é detectável em pormenores – intrínsecos à obra, ao meio, aos ambientes,
não artificiais ou provocados – disso reveladores, como a mão que segura um
cigarro, a posição em que (se) desenha, o abraço de um casal na cama, a forma
como um pé se apoia numa beira… que potenciam o realismo do traço e
credibilizam a autenticidade do que M. Mendes nos vai contando.