É posto hoje à venda, com o jornal Público, o terceiro volume da colecção Novela Gráfica.
Intitulado A Viagem, é da autoria do francês Edmond Baudoin e foi originalmente criada para o mercado japonês.
Imagens e sinopse da editora já a seguir.
Intitulado A Viagem, é da autoria do francês Edmond Baudoin e foi originalmente criada para o mercado japonês.
Imagens e sinopse da editora já a seguir.
Um belo dia, Simon um empregado de
escritório parisiense, abandona a mulher, o filho, a casa, o emprego e a sua
cidade, para partir numa viagem pela França, à procura de si próprio.
Uma viagem poética, contada pelo traço
sensual de Edmond Baudoin, e galardoada em 1997 com o prémio para o Melhor
Argumento no Festival de Angoulême.
A Viagem
Edmond Baudoin
Levoir/Público
Portugal, 12 de Março de 2015
175 x 245 mm, 232 p., preto e branco
capa dura, 9,90 €
capa dura, 9,90 €
Virtuoso do desenho, senhor de um traço
espontâneo e elegante, Edmond Baudoin foi dos primeiros desenhadores europeus a
entrar no poderoso mercado japonês, onde este livro foi originalmente
publicado. Autor diversas vezes premiado, presença assídua nos mais
prestigiados festivais de BD - como por exemplo, no Amadora BD 2014 - Baudoin é
um dos maiores representantes da banda desenhada francesa mais alternativa. Com
A Viagem, os leitores portugueses poderão, pela primeira vez, descobrir a sua
obra.
Nascido em 1942, Baudoin abandona em 1971
o seu emprego como contabilista num hotel de Nice para se dedicar à sua grande
paixão: a banda desenhada e o desenho. Tendo publicado nas principais revistas
francesas como Circus, Pilote, Echo des Savanes e (A Suivre), Baudoin
estreou-se em álbum em 1981, com Les Sentiers Cimentés, título publicado pela
Futuropolis, editora que irá lançar mais de uma dúzia de livros seus em 10
anos.
É um dos grandes representantes do
romance gráfico autobiográfico, de que A Viagem é um exemplo poético, que
mistura elementos da vida real com outros ficcionais. Autor de uma obra
sequencial mais difícil que o normal, mais exigente para com o leitor, que por
vezes parece situar-se a meio-caminho entre a BD e a pintura - ou por vezes a
caligrafia, o que terá sido um a das razões pelas quais os editores japoneses
se interessaram pelo seu trabalho - e que nunca enveredou pela facilidade,
Edmond Baudoin viu esse seu percurso ser recompensado em 1992 ao receber o Alph'Art
para Melhor Álbum no Festival de Angoulême.
"Quando comecei o meu trabalho,
percebia muito bem que estava a fazer algo que poderia ser de facto qualificado
como difícil, na banda desenhada. Para mim, o prémio de Angoulême que recebi
[pelo álbum Couma Aco] virou-me a vida do avesso. Naquele momento, interpretei
aquele prémio como se me dissessem "Seguimos-te até aqui, mas podes ir
muito mais longe, por isso, tens de te tornar um pouco mais tu próprio".
Então, muito bem. Vou mostrar-vos que posso ir um pouco mais longe".
- Edmond Baudoin
A Viagem é um livro que ocupa um lugar singular na obra de Edmond Baudoin, por
ter sido uma banda desenhada encomendada pela editora japonesa Kodansha, alguns
meses depois de Baudoin ter sido premiado em Angoulême, num ano em que o Japão
era país convidado do Festival. O pedido era específico, fazer uma espécie de remake
de um seu anterior livro, também chamado A Viagem, para a revista Morning, uma
revista de manga seinen (para leitores adultos). Por esse motivo, e porque a
história era desenhada directamente no papel fornecido pela editora, e por ter
sido publicada no sentido de leitura japonês, a sua composição e planeamentos
são algo distintos do trabalho normal de Baudoin. O próprio autor explica
algumas das diferenças fundamentais de códigos visuais entre a BD francesa, ou
Ocidental, e o manga japonês (em entrevista dada no ano 2000 a João Miguel
Lameiras):
"Nas minhas histórias, muitas vezes
há quadrados em que a imagem diz uma determinada coisa, o texto diz outra e há
ainda um bocado de texto em voz off, que simboliza o narrador da história. Isto
é, três diferentes níveis de leitura na mesma imagem. No Japão isso é
impossível, tal como não é aconselhável utilizar balões de pensamento, ou
aqueles pequenos textos a dizer “entretanto”, “enquanto isso”, ou “no dia
seguinte”. Em contrapartida, temos um espaço muito maior para desenvolver o
jogo corporal das personagens. E, mais do que pelos diálogos, a caracterização
das personagens faz-se através desse jogo corporal, dos olhares, dos sorrisos.
É uma forma mais visual de contar uma história, mas tão ou mais eficaz do que a
nossa!"
Premiada em 1997 com o Prémio do Festival
de Angoulême para o Melhor Argumento, distinção a que não terá sido estranha o
traço mais solto e livre, menos denso, que adoptou para este
"quase-manga", e que criou um ritmo de narração muito próprio, A
Viagem tornou-se num dos marcos relevantes da sua obra. Depois de Le Voyage, e
ao longo dos anos seguintes, Edmond Baudoin tem vindo a alcançar um estatuto
que lhe tem permitido explorar a sua própria maneira de fazer banda-desenhada.
É, portanto, justo que seja esta a primeira obra sua apresentada aos leitores
portugueses, e que inaugura na colecção Novelas Gráficas o género da
banda-desenhada semi-biográfica.
"Eu não sou músico, mas utilizo
muito a palavra música para expressar a noção de ritmo. Às vezes até falo, por
exemplo, da música de Fellini ou da música de Pasolini. Para mim é muito
importante que os seres andem na sua música. Para alguns, essa música poderá
ser olhar para árvores vivas, pássaros a voar... e porque não? Mas o que quer
que seja, cada um deve encontrar a sua música, e estar na sua música. Para mim
isso é o essencial."
- Edmond Baudoin
Para mais informações, recomendamos a
leitura integral da entrevista que o autor concedeu a João Miguel Lameiras por
ocasião da publicação deste volume em Portugal (no blogue Por
um punhado de imagens), e obviamente, uma visita ao site oficial do autor.
Dispenso este,
ResponderEliminarTodos temos direito às nossas escolhas, Optimus, mas às vezes arrependemo-nos delas!
EliminarPosso dizer, por exemplo, que adiei durante muito tempo a leitura de A Arte de Voar (6.º volume desta colecção) e quando o li, emprestado por um amigo, vi que estava a passar ao lado de uma excelente obra...
Boas leituras!
Um livro muito belo, gostei imenso, a intensidade do desenho e a força emocional é muito forte.
ResponderEliminarAdorei este livro. Transporta-nos mesmo numa viagem de certa forma onírica e de profundos sentimentos. O desenho com belas pinceladas a preto e branco é perfeitamente adequado ao objectivo do trabalho. Que boa surpresa.
ResponderEliminarLetrée
Caros Anónimo e Letrée,
EliminarEsta é uma das virtudes desta colecção: podemos deixar-nos surpreender e/ou seduzir por títulos que de outra forma dificilmente compraríamos. Porque estão em português e a um preço irresistível!
Boas leituras... e mais surpresas boas!