Quinto volume da colecção Novela Gráfica, que a Levoir está a disponibilizar semanalmente à quinta-feira
com o jornal Público, este pode ser uma das suas boas surpresas.
Da autoria do português
Miguel Rocha, é um relato de tom neo-realista passado no Alentejo profundo.
Beterraba: A vida numa colher, é a história de Olegário, um homem que se dedica a
transformar um terreno baldio, que lhe pertencia por herança, numa grande
propriedade.
Terra estéril, seca e
agreste, obriga-o a trabalho redobrado. Após descobrir que apenas consegue
plantar nele beterrabas, dedica o resto da sua vida a tentar enriquecer à sua
custa, multiplicando as aplicações da planta e a fazer crescer a sua casa e os
armazéns anexos – sempre no sonho de grandes colheitas.
Associal, virado dentro de si
mesmo, encerra-se com a mulher e as sucessivas filhas, nesse micromundo correspondente
ao perímetro restrito da propriedade, originando assim um relato intimista,
estranho e incómodo – duro e agreste como a terra que lhe serve de cenário.
Com o artifício da utilização
de narradores, que ajudam a dar fluência à narrativa e a interligar os sucessivos
episódios, Miguel Rocha discorre, utilizando um desenho de contornos (quase)
indefinidos, adaptado ao tom que escolheu, e tons quentes e fortes como o sol
alentejano, sobre uma vida passada entre a ilusão e a insanidade e até onde
pode conduzir a busca incessante de realidades possíveis, aparentemente banais,
mas tornadas utópicas por forças (?) superiores ou realidades incontornáveis e
não manipuláveis: um filho varão, a riqueza à custa das beterrabas…
Beterraba: A vida numa colher
Miguel Rocha
Levoir / Público
Portugal, 26 de Março de 2015
170 x 240 mm, 120 p. cor, capa dura
9,90 €
Deixo, já de seguida, a nota de imprensa fornecida pela editora.
Olegário, um patriarca alentejano, luta contra a avareza do
solo, que nada lhe permite cultivar, e a crueldade do destino, que lhe nega o
filho varão que tanto deseja, tentando moldar a terra que o rodeia à sua ambição.
Uma história simultaneamente épica e intimista, a meio caminho entre o
neo-realismo e o realismo mágico sul-americano, marcada pelas cores quentes do
Alentejo, e que no Festival de BD da Amadora de 2004 arrebatou os prémios para Melhor
Livro e Melhor Desenho.
Nascido em 1968, Miguel Rocha é um dos mais talentosos
ilustradores portugueses, senhor de uma importante obra, construída sobretudo
entre finais dos anos 90 e meados da década de 2000, marcada pela versatilidade
gráfica e pelo grande talento pictórico. Possui também uma vasta obra no campo
da ilustração - infantil e não só - e do design, salientando-se o facto de ter
sido seu o cartaz escolhido para o Euro 2004, organizado no nosso país.
Foi também um dos autores
convidados a participar no projecto Vinte e Cinco, com que o Público assinalou
os 25 anos do 25 de Abril, com a história O Museu. Também por esta ligação a um
dos mais relevantes jornais de Portugal torna-se lógica a sua presença nesta
colecção, em que o Público e a Levoir dão a descobrir aos leitores portugueses
o melhor da Novela Gráfica.
Beterraba poderia ser a história de mais uma família pobre, num Alentejo atrasado durante o Salazarismo, não fosse o cunho algo alucinado e surrealista que Migue Rocha introduz na sua narrativa, enchendo-a de estranhas personagens e eventos, que tornam este livro em muito mais do que um simples romance do mundo rural. São sinal disso a bizarra tempestade quase diluvial que assola a propriedade de Olegário, os motivos semi-africanos da escrita que as muitas filhas dele inventam, depois de crescerem numa espécie de isolamento selvagem, e as construções fantásticas e grandiosas que o obcecado patriarca da família vai construindo naquela planície árida e batida pelo Sol, enquanto sonha com as suas plantações de beterrabas...
Beterraba poderia ser a história de mais uma família pobre, num Alentejo atrasado durante o Salazarismo, não fosse o cunho algo alucinado e surrealista que Migue Rocha introduz na sua narrativa, enchendo-a de estranhas personagens e eventos, que tornam este livro em muito mais do que um simples romance do mundo rural. São sinal disso a bizarra tempestade quase diluvial que assola a propriedade de Olegário, os motivos semi-africanos da escrita que as muitas filhas dele inventam, depois de crescerem numa espécie de isolamento selvagem, e as construções fantásticas e grandiosas que o obcecado patriarca da família vai construindo naquela planície árida e batida pelo Sol, enquanto sonha com as suas plantações de beterrabas...
(Nota de imprensa e imagens fornecidas pela editora)
Dispenso estel
ResponderEliminarEu não, Optimus!
EliminarBoas leituras!
Li e adorei. É uma pena que o Miguel Rocha não seja publicado aqui no Brasil.
ResponderEliminarConcordo, Lula!
EliminarDevia haver maior intercâmbio entre edições portuguesas e brasileiras, para maior divulgação dos autores dos dois países.
Boas leituras!