Depois
de Os
Vampiros, de Filipe Melo
e Juan Cavia, a banda
desenhada portuguesa volta a abordar - de forma muito interessante - o
sempre incómodo tema da
guerra colonial em Filhos
do Rato, tendo
curiosamente escolhido o mesmo território, a Guiné, para o
desenrolar da acção.
Curiosamente
- mais uma vez - o argumento pertence a Luís Zhang, filho de pais
chineses - ou seja alguém que aparentemente não terá qualquer
ligação ao conflito colonial - e o relato, que tem por bases
acontecimentos verídicos, é feito a dois tempos, em 1973, em pleno
confronto, e em 1975, após o abandono do território pelo exército
português.


Surgindo
como segundo álbum do autor, mas sendo na verdade o primeiro, porque
a sua elaboração foi interrompida para criar exactamente
Jardim dos Espectros,
Filhos do Rato revela
o seu à-vontade quer no registo
a preto e branco, quer nas (poucas) pranchas a cores, quer na
introdução pontual destas, gerindo dessa forma tempos, emoções e
tensão. Para isso, contribui também a planificação muito variada,
que adopta diferentes ‘modelos’ consoante as necessidades -
página tradicional, tiras de vinheta única horizontais, vinhetas
verticais, página de vinheta única com outras menores nela
inseridas… - o que confere uma grande dinâmica ao
relato e à própria leitura.
O
tratamento impressivo do ser humano, sem que isso lhe retire
expressividade, e a legibilidade das sequências
mudas são outro
contributo fundamental para transmitir ao leitor as emoções que
imperam no relato: medo, desânimo, incompreensão, desprezo, ódio…
Filhos
do rato
Luís
Zhang (argumento)
Fábio
Veras (desenho)
Comic
Heart/G. Floy
Portugal,
Março de 2019
205
x 285 mm, 88 p., cor, capa dura
14,00
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
Boas, Pedro: o livro custa 14€ e não 16€. Obrigado pela leitura!
ResponderEliminarBD bastante interessante. Se retratasse Angola aí que a "barraca" vinha abaixo. Como se trata da Guiné nem arrefece nem aquece aos meandros da politiquice. Gostei. Para quando impressão colorida? Acho que ganhava mais consistência. Bem haja por uma Bd de autoria portuguesa. O lado de Z gostei imenso. Parece que vamos num caminho penso mais correcto, não sermos demasiado projecto final de curso, nem tão "pulp",mas termos identidade em termos comerciais. Isto é a minha singela opinião.
ResponderEliminarNa verdade, a impressão foi a cores! Ou seja, há cores em muitas páginas, e em todos os cadernos (na prática, o livro na gráfica foi tratado como sendo "a cores"). A opção do autor foi fazer algo negro, usando pretos e castanhos, e usar as cores em certos momentos para assinalar momentos da história.
EliminarNão esquecer as várias obras de António Vassalo Miranda e o cinzas da revolta de Miguel Peres e Jihon.
ResponderEliminarE relativamente ao tema em si, recomendo que pesquisem "Marcelino da Mata".
Penso que esta é e sempre será a versão definitiva. A cor está lá, em momentos específicos, e a opção do preto e branco foi propositada para conferir à obra uma determinada estética. Pessoalmente acho que o preto e branco ajuda e muito a criar o ambiente pretendido, separando o “presente” com laivos de cor, do passado totalmente a preto e branco.
ResponderEliminar"promete vir a ser um caso muito sério na banda desenhada nacional."
ResponderEliminarGosto de ver o optimismo desta frase. Eu colocaria: "promete vir a ser um caso muito série de um artista nacional na BD lá fora."
A arte marca pontos e a história promete. Irei investigar, concerteza.... Parabéns à Comic Heart/G.Floy.
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