Enki
Bilal, autor de BD e cineasta, está de regresso com o primeiro tomo
de Bug,
no qual regressa a alguns dos seus temas recorrentes - mas que não
põem em causa a sua qualidade algumas das suas obsessões? - como os
sistemas totalitários, a destruição acelerada do nosso planeta ou
a cada vez maior dependência das tecnologias.
[Jugoslavo
de nascimento, é um dos raros autores com praticamente toda (?) a
obra editada em português. Tal como Bourgeon ou Prado, por exemplo,
por razões que nunca compreendi, o que não significa que questione
a (muita) qualidade de cada um deles, só interrogo o que levou
autores de qualidade similar inquestionável a não terem a mesma
sorte...]
Mas
adiante.
Bug,
mais uma escolha editorial acertada da Arte de Autor,
tem como ponto de partida, a 13 de Dezembro de 20141, um
acontecimento de origem não explicada que apaga, literalmente, todos
os sistemas informáticos e digitais. Discos duros, backups, cópias
de segurança, tudo desaparece num mesmo instante, deixando a
humanidade - então ainda mais dependente do que hoje de telemóveis,
computadores e outros equipamentos - à beira do caos, com suicídios
em massa, quase sem transportes, sistemas bancários, equipamento
médico de ponta e muito mais. Ou sem a capacidade de os utilizar por
não saber de cor coisas tão simples como números de telemóvel ou
endereços de correio electrónico...
Recorrendo,
num primeiro momento, à memória, parcial, dos mais velhos, num
regresso condicional a um passado quase esquecido, os dirigentes das
nações, que nesse futuro - distante apenas duas décadas - sofreram
uma reorganização sensível, com a multiplicação de ditaduras e o
aparecimento de um bloco islâmico, descobrem que um cosmonauta que
na altura do apagão estava no espaço, aparentemente recebeu toda a
informação em falta na sua própria memória.
A
corrida para o alcançar primeiro, a par da tentativa de tornar refém
os seus familiares próximos como formas de pressão, desencadeia um
thriller
de contornos futuristas ao mesmo tempo que levanta questões
importantes sobre a forma como estamos a gerir a nossa relação com
a tecnologia.
Combinando
antecipação científica (possível, até provável) e
ficção política e questionando o lugar do ser humano na sociedade,
Enki Bilal - como em quase todas as suas obras a solo - consegue mais
um ponto de partida estimulante e desafiador. A forma como o
sustentará e como será capaz de dar resposta às situações e
questões que criou, é que irão determinar o interesse global de
Bug.
Bug -
Livro Um
Enki Bilal
Arte de Autor
Portugal, Julho de 2018
234 x 312 mm, 88 p., cor, capa dura
19,90 €
(versão alargada do texto publicado no Jornal
de Notícias de 18 de Agosto de 2019; imagens disponibilizadas pela
editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Acabei de ler agora este livro e gostei!
ResponderEliminarAguardo pelo livro 2.