26/08/2019

O Tesouro do Cisne Negro

Um outro Paco Roca




Depois de obras (muito) humanas e intensas como Rugas, A Casa ou Os Trilhos do Acaso, este O Tesouro do Cisne Negro apresenta-nos um outro Paco Roca, num registo entre a aventura e a reconstrução histórica - quase no campo da reportagem - mais próximo daquele que nos trouxe O Inverno do Desenhador.
O resultado, sendo uma obra muito legível e envolvente, desiludirá os que procurarem o ‘outro’ Paco Roca.
O Tesouro do Cisne Negro é um longo - mas ligeiro - relato que projecta a batalha judicial entre Espanha e uma empresa de recuperação de tesouros submarinos norte-americana. Desconheço quanto os autores se afastaram da realidade neste seu relato com um q.b. de ficcional, mas Paco Roca e Guillermo Corral souberam acrescentar um toque de romance, que humaniza o relato, uns ‘pozinhos’ de conspiração, alguma intriga política e reminiscências de uma tragédia antiga que dão uma outra dimensão a todo o caso e tornam mais interessante a narrativa, sustentada pela linha clara de traço patenteado de Roca.
O resultado final - pese algum desencanto nas primeiras páginas por razões que apresento à frente - acaba por se revelar de uma grande frescura e crescer em envolvência, ganhando a atenção - e a adesão - do leitor, que acaba por esquecer as expectativas que as obras acima citadas justamente criaram e embarcar - quase literalmente…! - numa aventura que combina corsários, piratas, tesouros perdidos e descobertos, uma batalha judicial, uma aturada investigação, um toque romântico e jogos políticos, com um final feliz - ou nem tanto…

Prefácios e posfácios
Prefaciar um livro raramente é fácil. Falo por mim, que mais de uma vez falhei em fazê-lo. Encontrar o equilíbrio entre a emoção, a opinião, uma base teórica de sustentação e criar apetência pela história sem desvendar demasiado, implica demasiadas premissas que nem sempre se conseguem cumprir.
O prefácio de Alexandre Monteiro, arqueólogo náutico e subaquático, muito interessante e cativante, aparentemente falha no quando desvenda do que o leitor irá ler.
Foi isso que provocou em mim o tal ‘desencanto na leitura das primeiras páginas’ que referi acima, porque acreditei então que ia ler numa longa BD o que estava - completamente… - resumido no prefácio.
Engano meu ou - melhor ainda - Guillermo Corral e Paco Roca conseguiram dar à sua narrativa uma ‘alma’ que sobrepujou as revelações feitas e eu - como, acredito, muitos leitores - a partir de certa altura esqueci o que sabia a embarquei na descoberta proporcionada página após página.
Mas, mesmo assim, creio que a edição teria ganho se o prefácio de António Monteiro fosse um posfácio…

O tesouro do Cisne Negro
Guillermo Corral (argumento)
Paco Roca (desenho)
Levoir
Portugal, 4 de Julho de 2019
170 x 240 mm, 232 p., cor, capa dura,
10,90 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. Os prefácios normalmente apenas são lidos uma vez, depois da leitura da obra tornam-se algo redundantes, depende da qualidade dos mesmos e do tipo de obra.

    Falham quando se tornam spoilers.

    Pessoalmente penso que deviam banir a existência de prefácios nestas edições e transformá-las em posfácios.

    Tomei o hábito de apenas ler os prefácios depois da obra em si mas às vezes lá me distraio.

    Para os leitores calejados destas andanças não é preciso muito para imaginar a intriga a partir dos prefácios, não é grave quando se trata de obras conhecidas já com anos em cima mas quando são saídas recentes e a temática é de mistério e aventura é mau, já me aconteceu com o Dylan Dog por exemplo.

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    1. E quando os prefácios incluem vinhetas importantes para o desenrolar dda história? lá está o caldo entornado.

      Vamos banir os prefácios!

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    2. Os prefácios são uma mais-valia da colecção Novela Gráfica e devem continuar. Só há que ter algum cuidado com eles...
      Boas leituras!

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