Depois de obras (muito) humanas e intensas como Rugas,
A
Casa ou Os
Trilhos do Acaso, este O Tesouro do Cisne Negro
apresenta-nos um outro Paco Roca, num registo entre a aventura e a
reconstrução histórica - quase no campo da reportagem - mais
próximo daquele que nos trouxe O
Inverno do Desenhador.
O resultado, sendo uma obra muito legível e envolvente, desiludirá
os que procurarem o ‘outro’ Paco Roca.
O Tesouro do Cisne Negro
é um longo - mas ligeiro - relato que projecta a batalha judicial
entre Espanha e uma empresa de recuperação de tesouros submarinos
norte-americana.
Desconheço quanto os autores se afastaram da realidade neste seu
relato com um q.b. de ficcional, mas Paco Roca e
Guillermo Corral souberam
acrescentar um toque de romance, que humaniza o relato, uns
‘pozinhos’ de conspiração, alguma intriga política e
reminiscências de uma tragédia antiga que dão uma outra dimensão
a todo o caso e tornam mais interessante a narrativa, sustentada pela
linha clara de traço patenteado de Roca.
O resultado final - pese algum desencanto nas
primeiras páginas por razões que apresento à frente - acaba por se
revelar de uma grande frescura e crescer em envolvência, ganhando a
atenção - e a adesão - do leitor, que acaba por esquecer as
expectativas que as obras acima citadas justamente criaram e embarcar
- quase literalmente…! - numa aventura que combina corsários,
piratas, tesouros perdidos e descobertos, uma batalha judicial, uma
aturada investigação, um toque romântico e jogos políticos, com
um final feliz - ou nem tanto…
Prefácios e posfácios
Prefaciar um livro raramente é fácil. Falo por mim, que mais de uma
vez falhei em fazê-lo. Encontrar o equilíbrio entre a emoção, a
opinião, uma base teórica de sustentação e criar apetência pela
história sem desvendar demasiado, implica demasiadas premissas que
nem sempre se conseguem cumprir.
O prefácio de Alexandre Monteiro, arqueólogo náutico e
subaquático, muito interessante e cativante, aparentemente falha no
quando desvenda do que o leitor irá ler.
Foi isso que provocou em mim o tal ‘desencanto
na leitura das primeiras páginas’ que referi acima, porque
acreditei então que ia ler numa longa BD o que estava -
completamente… - resumido no prefácio.
Engano meu ou - melhor ainda - Guillermo Corral
e Paco Roca conseguiram dar à sua narrativa uma ‘alma’ que
sobrepujou as revelações feitas e eu - como, acredito, muitos
leitores - a partir de certa altura esqueci o que sabia a embarquei
na descoberta proporcionada página após página.
Mas, mesmo assim, creio que a edição teria ganho se o prefácio de
António Monteiro fosse um posfácio…
O tesouro do Cisne Negro
Guillermo Corral (argumento)
Paco Roca (desenho)
Levoir
Portugal, 4 de Julho de 2019
170 x 240 mm, 232 p., cor, capa dura,
10,90 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Os prefácios normalmente apenas são lidos uma vez, depois da leitura da obra tornam-se algo redundantes, depende da qualidade dos mesmos e do tipo de obra.
ResponderEliminarFalham quando se tornam spoilers.
Pessoalmente penso que deviam banir a existência de prefácios nestas edições e transformá-las em posfácios.
Tomei o hábito de apenas ler os prefácios depois da obra em si mas às vezes lá me distraio.
Para os leitores calejados destas andanças não é preciso muito para imaginar a intriga a partir dos prefácios, não é grave quando se trata de obras conhecidas já com anos em cima mas quando são saídas recentes e a temática é de mistério e aventura é mau, já me aconteceu com o Dylan Dog por exemplo.
E quando os prefácios incluem vinhetas importantes para o desenrolar dda história? lá está o caldo entornado.
EliminarVamos banir os prefácios!
Os prefácios são uma mais-valia da colecção Novela Gráfica e devem continuar. Só há que ter algum cuidado com eles...
EliminarBoas leituras!