Por mais que prometa a mim mesmo não o fazer, volta e meia ‘caio na armadilha’ das super-sagas Marvel e dou por mim mergulhado em mais um evento que promete mudar tudo, para no fim tudo ficar igual. Talvez seja essa a essência da magia dos super-heróis: a certeza de que, aconteça o que acontecer, são imutáveis e eternos.
Desta vez, as engodos foram dois: por um lado, o nome de Jason Aaron como responsável pelo corpo principal de Heróis Renascem - “O que aconteceu com os heróis mais poderosos da Terra?”; depois, o desafio de ver reconstruído o Universo Marvel sem um dos seus principais pilares: os Vingadores.
Que Aaron escreve bem, já sabia - por isso o seu nome continua a atrair-me e é inegável a legibilidade da sua proposta. A par disso, de forma criteriosa e desafiadora, não se limitou a (re)criar um mundo sem os Vingadores: acrescentou-lhe umas areias que colocam alguns entraves à marcha da engrenagem original - escrevo eu… - e até modificam essa marcha. Heróis renascem não parte só do princípio que os Vingadores nunca existiram, porque há alguns - Blade, Hulk… - que se recordam deles e sentem a sua falta. Este factor, que a alguns poderá parecer pouco importante, faz com que o argumento vá para lá da recriação de um mundo com outros heróis; lança a premissa de que algo aconteceu - quando? como? onde? - para que os Vingadores desaparecessem. Num primeiro volume de lançamento das bases e poucas respostas, fica muito em aberto para compreendermos (no segundo volume deste díptico) se Aaron irá levar a bom termo a sua história.
Obviamente, para quem como eu, a Marvel é - foi (quase) sempre - uma leitura episódica e pontual, a utilização de um sem número de heróis e vilões - e de heróis transformados em vilões e vice-versa - na sua maioria desconhecidos para mim, enquanto personagens e quanto aos seus poderes não ajuda à fluidez da leitura e em especial em Heróis renascem - Um mundo sem Vingadores há narrativas que se tornam mais confusas e até penosas, apesar de o propósito deste segundo díptico ser revelar a origem ou episódios fundamentais dos novos intervenientes - que nalguns casos me surpreenderam pela proximidade (paródica) aos grandes super-heróis da ‘rival’ DC Comics (recuperando o Esquadrão Sinistro, uma criação de Roy Thomas e Sal Buscema em 1969) e noutros pela forma como trilhando caminhos enviezados, acabam por chagar ao mesmo ponto - veja-se a origem dos Campeões...
Desta volumosa leitura dupla ficou-me especialmente o episódio dedicado a Peter Parker, O espetacular fotógrafo, pela forma como exemplifica primorosamente como é possível recriar/homenagear uma personagem, alterando (praticamente) tudo na sua vida e no seu percurso, sem mudar a sua essência e o seu espírito.
Na verdade, Marc Bernardim, com Rafael de Latorre, Ron Lim e Scott Hanna, apresenta-nos o mesmo Peter nerd, igualmente brilhante na escola e alvo de bullying, com uma variação absoluta num dos acontecimentos trágicos da sua vida e a eliminação da célebre picada da aranha radioactiva. Mas que, mesmo assim, acaba por trilhar um caminho paralelo ao que todos nós conhecemos e - de forma trágica… - assume por completo a ‘grande responsabilidade’.
Como escrevi acima, possivelmente é esta a essência dos super-heróis: são imutáveis e eternos. Mesmo quando tudo muda. Mesmo quando o seu fim chega.
Heróis
Renascem - “O que aconteceu com os heróis mais poderosos da
Terra?” #1
(de #2) *
Inclui
Heroes Reborn (2021) #1-#4
Heróis
renascem - Um mundo sem Vingadores #1
(de #2) **
Inclui
Heroes
Reborn: Hyperion & The imperoal guard 1; Heroes Reborn: Peter
Parker and The Amazing
Shutterbug
1; Heroes Reborn: Magneto & The Mutant Force 1; Heroes Reborn:
Young Squadron 1; Heroes Reborn: Siege Society 1
Vvaa
Panini
Comics
Brasil,
2022
Actualmente
distribuídas em alguns quiosques e bancas portuguesas
*
179 x
260 mm, 128
p., cor,
capa cartão,
R$32,90
/ 9,90
€
**
179 x
260 mm, 168
p., cor,
capa cartão,
R$39,90
/ 12,00
€
(capas disponibilizadas pela Panini Comics; pranchas da versão original norte-americana disponibilizadas pela Marvel; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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