De adolescente rebelde a realizador visionário
Já referi a propósito de Patos ou O Mundo sem Fim, o novo paradigma que vai grassando pelo mercado português de BD, que passa pela edição de obras que extravasam as temáticas habituais e podem cativar leitores que não acompanham este género narrativo. Não por acaso, a segunda, como A Estrada, que também podia ter citado, estiveram no topo das vendas do mercado franco-belga, como aconteceu com As Guerras de Lucas, que a Ala dos Livros acaba de colocar nas livrarias nacionais, uma biografia não autorizada e não oficial de Georges Lucas, o que não impediu um profundo trabalho de documentação e investigação da parte dos autores para serem fiéis à realidade.
Indicada para os amantes de biografias, os fãs de Star Wars, aqueles que gostam de cinema e os que querem saber um pouco mais sobre os meandros desta arte que é ao mesmo tempo um imenso negócio, As Guerras de Lucas surpreende pela forma como agarra o leitor a quem o tema possa dizer menos - como era o meu caso... - e o leva através de uma história sobre o correr atrás de um sonho e a paixão pelo cinema, num meio que está muito longe de ser aberto ou fácil, para mais para criadores sem nome ou os devidos apadrinhamentos.
Apresentando o protagonista como tímido, socialmente reservado e propenso a depressões, As Guerras de Lucas mostra como com poucos apoios, a suspeição dos estúdios e até a desconfiança de amigos e de muitos que com ele trabalharam no primeiro filme de Star Wars, o realizador - termo redutor para o muito que ele fez e é - foi capaz de fazer avançar e legar uma obra que revolucionou o cinema, ultrapassando questões financeiras, pessoais e técnicas, que estamos longe de imaginar quando vemos um filme.
Narrada com um traço semi-caricatural, que se revela notavelmente dinâmico para evitar tempos mortos ou falhas no ritmo, As Guerras de Lucas assumem maioritariamente uma paleta a preto, branco e cinza, a que pontualmente são acrescentados apontamentos de cor num pormenor, uma vinheta ou até uma prancha para destacar momentos mais significativos.
Renaud Roche e Laurent Hopman conseguiram dotar de alma o seu relato, ultrapassando a simples exposição de factos que até se poderia tornar maçadora, de tal forma que a certa altura nos sentimos a sofrer com Lucas e a torcer por ele e pelo seu projecto, para que chegue a bom porto e seja finalmente desfrutado com enorme sucesso no escuro das salas dos cinemas, apesar de sabermos que assim irá ser.
As
Guerras de Lucas
Laurent
Hopman
(argumento)
Renaud
Roche (desenho)
Ala
dos Livros
Portugal,
Abril
de 2024
210
x 270mm, 208
p.,
cor, capa dura
31,00
€
(versão revista e ampliada do texto publicado na página online do Jornal de Notícias de 10 de Maio de 2024 e na versão em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Ala dos Livros; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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