06/02/2025

Spirou: Panique en Atlantique

Há vida depois de Bravo?




Autor de duas obras-primas da banda desenhada contemporânea - Diário de um ingénuo e os 4 tomos de A esperança nunca morre... - Émile Bravo deixou a um nível altíssimo - dificilmente alcançável? - a fasquia dos Spirou de autor.
Mas a verdade é que há vida para além dele.

Quanto mais não seja, porque o negócio tem de continuar e as 'versões de autor', sejam elas de Spirou, Lucky Luke, Blake e Mortimer ou Thorgal são um bom negócio. [O que não invalida nem impede que sejam simultaneamente, muitas delas, belíssimas obras.]

E como o negócio tem - e já tinha, na altura, em 2010 - de continuar, o caminho escolhido por Lewis Trondheim e Fabrice Parma em Panique en Atlantique era uma das vias que pode ser seguida, a via do humor puro.

No âmago da história, está a mudança de Spirou de groom no hotel Le Moustic para a mesma tarefa na primeira viagem de um imenso transatlântico repleto de milionários e 'famosos'. As presenças (proibida) de Spip e (clandestina) de Fantasio, em busca de um 'furo' jornalístico e um 'ligeiro' problema colateral de (mais) uma nova (e genial) invenção do Conde de Champignac, vão fazer com que o navio afunde em pleno oceano, embora envolvido por um campo de forças que garante a sobrevivência de tripulantes e passageiros durante cerca de uma semana.

Tudo isto é narrado a um ritmo alucinante, com a multiplicação de gags e clara inspiração em desenhos animados como a própria capa já aponta e com um traço divertido que realça quer o tom alucinante do relato, quer o seu lado mais 'apatetado', o que choca claramente com os Spirou mais tradicionalistas mas serve muito bem esta narrativa em concreto.

E se não é possível ignorar a crítica que Trondheim faz aos diversos tipos de comportamento associal dos humanos em situações limite, nem as diversas referências à série que espalhou pelo livro, a verdade é que Panique en Atlantique por muito legível que seja - e é! - e por muito que divirta - e também o faz! - é uma daquelas obras para ler e passar à frente, de que possivelmente não se guardará (grande) memória apesar dos momentos bem-dispostos que proporciona.


Spirou: Panique en Atlantique
Lewis Troindheim (argumento)
Fabrice Parme (desenho)
Dupuis
Bélgica, 2010
240 x 320 mm, 64 p., cor, capa dura
15,95

(imagens disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

6 comentários:

  1. O trabalho do Emile Bravo no Spirou é excelente (comprei todos) mas tenho pena que Tome e Janry não tenham continuado no estilo da obra "Machine Qui Rêve", mais adulto, menos caricatural, algo intimista, numa vertente policial que era herança de Jijé e Franquin.

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    1. O Bravo é um caso à parte, indiscutivelmente. Também gostei muito do "Máquina que sonha", de certa forma até acho que pode ser considerado o primeiro "Spirou de autor", mas acho que era impossível continuar a série 'canónica' por essa via.
      Boas leituras!

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  2. Bom bom era ser anunciada uma colecção com um jornal. Há tanto por publicar...

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    1. É verdade, mas em anos recentes, o Público tem sido mais reticente quanto a colecções de BD... Temos de esperar pelas boas notícias que todos desejamos!
      Boas leituras!

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  3. Pessoalmente julgo que os livros com roteiro de Yann e desenhados por Schwartz são das melhores adaptações do personagem gráficamente falando. Deveriam estar á cabeça das opções de qualquer editor.

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    1. Confesso que gostando muito do traço do Scwartz, ainda não li esses que estão há muito na minha lista.
      Boas leituras!

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