Tex Edição Gigante #22 – Seminoles
Gino D’Antonio (argumento)
Lúcio Filippuci (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2008)
182 x 277 mm, 242 páginas, preto e branco, capa brochada
Resumo
Tex Willer e Kit Carson chegam ao Forte Bliss, no Louisiana, com a missão de escoltarem um índio seminole, Ochala, entretanto condenado à forca, para ser julgado pelo assassínio de um ranger. Antes de lá chegarem, o índio é libertado por um membro da sua tribo, dando origem a uma caçada humana, que levará Tex até aos pântanos dos Everglades, na Florida.
Desenvolvimento
Sendo “mais uma” história de Tex, este argumento de Gino D’Antonio, adaptando-se bem ao “modelo” estabelecido da personagem, introduz algumas inovações ou diferenças em relação a ele, o que fazem com que se destaque da “produção” habitual. Por um lado, em boa parte do relato, retoma o modelo do justiceiro solitário, um pouco esquecido nos tempos mais recentes. Depois, a principal e mais notória, humaniza o herói, que “raramente tem dúvidas e nunca se engana” (como diria alguém…), levando-o a arrepiar caminho e a mudar de objectivo a meio da história. Finalmente, faz com que sensivelmente metade da narrativa decorra em zonas pantanosas, verdejantes e repletas de vida animal, o que contrasta com as longas planícies desérticas ou as montanhas rochosas que Tex normalmente calcorreia, enquanto lhe permite referir uma realidade histórica concreta, que raramente os westerns, em geral, e Tex, em particular abordaram, a forma como os seus habitantes naturais foram empurrados para o seu interior pelos brancos e a relação de cumplicidade que estableceram com os escravos negros fugitivos. Ao mesmo tempo, faz da caçada humana, feita a dois tempos, por Tex (inicialmente com Carson, no final com Jesus), e por Lafarge (com os seus cúmplices), uma corrida contra o tempo.
E com tudo isto – ou apesar de tudo isto – consegue um western bem escrito e ritmado, de final previsível a partir do meio, é certo, mas de leitura agradável e cativante. Fica a dúvida do que Gino D’Antonio poderia fazer com Tex, se não tivesse falecido em 2006, ainda este livro não estava totalmente desenhado.
A reter
- O desenho realista e expressivo de Filippucci, feito de traço fino e trabalhado, num preto e branco belo e eficaz, quase sempre sem grandes manchas contrastantes, especialmente feliz no retrato esfusiante das paisagens naturais arborizadas. No tratamento do rosto humano apresenta quase sempre a mesma qualidade, embora oscile pontualmente com representações menos conseguidas. Uma bela obra de um autor habitualmente mais à vontade com relatos de ficção-científica.
- O facto de Tex ter que arrepiar caminho a meio da história, duvidando do objectivo da sua missão e de que o fugitivo seja assim tão culpado, o que raramente se vê nas histórias do ranger. Isto confere-lhe um carácter mais humano e atenua a habitual divisão estanque entre bons e maus.
Menos conseguido
- Um “mau” tão mau como Lafarge, cego por um ódio inexplicável (ou inexplicado na história) para com os seminoles. O que no entanto não é invulgar nos relatos de Tex que, goste-se ou não, obedecem a alguns critérios mais ou menos estabelecidos que são incontornáveis.
- As últimas 8 pranchas, completamente desenquadradas do relato, que não adiantam nada ao mesmo, e que parecem existir apenas para que sejam atingidas as 242 páginas padrão dos “Texones”. O que poderia ter sido facilmente conseguido prolongando algumas das cenas já existentes.
Curiosidade
Na página 64 da edição em causa, na última vinheta, Faca Longa é ferido com um tiro no braço direito, um pouco abaixo do ombro (onde coloca a mão após receber uma bala disparada por Tex). Curiosamente, daí para a frente, sempre que o ferimento é referido (pág. 92, primeira vinheta, ou pág. 111, 3ªvinheta, por exemplo), ele situa-se no ombro oposto, o esquerdo!
(texto postado originalmente no Blog do Tex, a 15 de Maio de 2009)