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02/10/2009

Je t'ai aimé comme on aime les cons

Maria José Giménez (argumento)
José Miguel Fonollosa (desenho) 
Dargaud (França, Maio de 2008) 
149 x 210 mm, 112 p., pb, brochado
Uma separação raramente é fácil. Uma separação quando sentimos que fizemos tudo para ela durar, sem o correspondente empenho da outra parte, mais difícil é. E como ficar quando, após quatro anos de vida em conjunto, o parceiro, como item para mitigar a ausência agora forçada, pede apenas… a televisão? É o que acontece a Miranda, uma valenciana de 27 anos, no momento em que termina a relação com Pedro. Uma relação intensa mas dolorosa, prova (se necessário) de como o amor é cego (e surdo…), de como ele afecta o mais lúcido dos mortais, de como é uma força tão irresistível, mesmo (ou especialmente?) quando nos arrasta inexoravelmente para um abismo (interior, no caso de Miranda). É uma crónica urbana de uma relação minada (também) pelas dificuldades financeiras, pelas (sucessivas) faltas de emprego e pela obrigação de compartilhar apartamentos com desconhecidos, mas acima de tudo pela incapacidade de entrega de uma parte, retrato vivo de boa parte da juventude de hoje, em parte a isso forçada pelas dificuldades de iniciar a vida que os jovens hoje enfrentam, mas também pela sua cada vez menor responsabilização e pela maturidade adiada. O que dá uma força e uma razão inusitada ao título da obra. Fim de relação com que se inicia este livrinho (“inho”, no formato, apenas), no qual vamos acompanhar Miranda ao longo de mais de uma centena de páginas, nas quais a conhecemos melhor e às razões que a levaram a terminar tudo, apesar do muito que gostava de Pedro. Razões que nos são reveladas numa série de flashbacks que ritmam a narrativa, não deixando que se instale alguma monotonia e criando momentos de tensão que os autores conseguem transmitir apesar do traço simples, em registo humorístico, próximo do desenho de imprensa mas eficaz e pleno de movimento. Mas que não deixa de contrastar com a abordagem séria do tema, que ganha força e capacidade de reter a atenção do leitor exactamente na sua banalidade, no retrato sincero de uma situação corriqueira. E que se conclui num happy-end, em que a protagonista, depois de compreender o que a levou aquele ponto, consegue aceitar – finalmente – o que aconteceu, retomar a auto-estima e refazer a vida, com a ajuda de familiares e amigos que, em boa verdade, na vida real muitas vezes não aparecem quando deles se precisa.
(Texto publicado originalmente no BDJornal #23 – Verão de 2008)
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