Porque,
por muitos que venham depois dele, que continuem o seu trabalho, o
copiem ou o homenageiem, Tardi será sempre o primeiro e o único e
(a sua) Paris será sempre Paris. Mas
isso não invalida que outros a possam retratar e/ou continuar aquilo
em que ele foi pioneiro. E fazê-lo de forma competente e conseguida,
como acontece neste quarto volume do Nestor
Burma
pós-Tardi.
Eu
percebo o óbvio da escrita, mas não consigo pô-lo de outra forma:
Nestor
Burma tem
um ‘je
ne sais pas quoi’
que nos seduz e atrai, apesar de ser um ser com muito de odioso e
repugnante, com quem parece impossível estabelecer qualquer tipo de laço ou relação.
Nestor
Burma é um detective privado criado pelo romancista Léo Malet, na
década de 1940, quando decidiu que os protagonistas de romances
policiais não precisavam de ser norte-americanos, mas podiam evoluir
na sua França natal. Nos
anos 1980, Jacques Tardi, 'contemporâneo' de Burma, fez a primeira
de quatro (aclamadas)
adaptações
dos seus inquéritos para BD, aproveitando a liberdade gráfica,
temática e do número de páginas, concedida pela revista (À
Suivre),
retratando num preto e branco
(e cinza)
magnífico a sua paixão por Paris. Não
é, no entanto, a obra de Tardi que a Gradiva propõe aos leitores
portugueses - o
que obviamente se lamenta, embora
prometa a sua edição posterior - mas sim a continuação da série
por Emmanuel Moynot.