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03/06/2009

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #51 – O ajudante misterioso

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #51 – O ajudante misterioso
Giancarlo Berardi (argumento)
Giorgio Trevisan (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Fevereiro de 2009)
Revista mensal, 136 x 176 mm, 132 páginas, preto e branco, capa brochada


Resumo
Na quadra natalícia, um trio de ladrões disfarçados de Pai Natal praticam uma série de assaltos e Júlia é mais uma vez chamada para colaborar com a Procuradoria de Garden City. Só que desta vez ela vai contar com um ajudante muito especial…

Desenvolvimento
“J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga” – ou simplesmente “Julia”, no original italiano – é um policial que, geralmente, privilegia a introspecção em relação à acção. O que não quer dizer que esta não possa surgir pontualmente, criando episódios, distintos do que é habitual na série que é, com certeza, a mais interessante de origem Bonelli distribuída nos quiosques portugueses (onde, da mesma proveniência, também aparecem “Tex”, “Mágico Vento” e “Zagor”).
A protagonista de “Júlia”, que lhe dá nome, é uma jovem professora universitária e criminóloga que colabora com a polícia da pacata cidade de Garden City, traçando o perfil dos criminosos que a justiça busca. Bonita (a sua figura foi inspirada na actriz Audery Hepburn), frágil, recusando (inconscientemente) assumir uma vida pessoal/sentimental e libertar-se dos seus medos e fantasmas, é ela que faz grande parte do relato em off, compartilhando connosco as pistas que a ajudam a descobrir os criminosos ou os seus estados de espírito e sentimentos mais íntimos.
Com isso, Berardi (o mesmo que criou o mítico “Ken Parker”) consegue, de forma equilibrada, traçar pormenorizados retratos psicológicos em relatos pausados e consistentes, em que um tom invulgarmente humano contrasta com o lado policial das narrativas, muitas vezes duro, de uma violência mais implícita do que explícita.
Neste “O ajudante misterioso”, um bem conseguido conto natalício (cuja razão do título deixo ao leitor descobrir), Berardi aproveita para discorrer – sem moralismos, nem condenações, mais como quem se limita a relatar factos - sobre o vazio de tantas vidas hoje em dia, vividas sem objectivos, muitas vezes apenas em função do imediato, do (falso) estatuto e da imagem que se transmite aos outros.

A reter
- O tom de fantasia que o desfecho configura à história, de todo invulgar em Júlia, apesar de os argumentos de Berardi estarem longe de seguir um modelo rígido.
- O protagonismo (bem feminino) de Júlia, que lhe granjeou um bom número de leitoras fiéis, algo de inabitual nos títulos Bonelli e na BD ocidental em geral.

Menos conseguido
- A forma algo simplista como Júlia e o seu ajudante “especial” impedem o assalto final. Que apesar de tudo não choca muito… Afinal, é preciso sentir o espírito natalício e acreditar no Pai Natal…
- A edição é fraca, é verdade. Em especial para os leitores portugueses, habituados ao bom papel e colorido de comics e álbuns franco-belgas. Mas, mais do que fraca, o adjectivo que melhor a classifica é popular (um dos segredos do êxito Bonelli em Itália). Popular no sentido de acessível, o que só é conseguido com papel de segunda qualidade, pequeno formato (menor ainda no Brasil por questões de aproveitamento de papel) e o preto e branco. Claro que quem dominar o italiano, pode sempre optar pela edição original (maior e melhor impressa), mas a verdade é que “Júlia” é um daqueles casos em que se deve ignorar o embrulho e apreciar o conteúdo.

Curiosidade
- Intitulada “Julia” em Itália, esta série teve o mesmo título no Brasil, mas apenas durante os primeiros quatro números, para não ser confundida com uma outra publicação homónima, dedicada a romances cor-de-rosa.- O desenhador desta história (porque nos títulos Bonelli, há sempre vários desenhadores em acção, para garantir a periodicidade mensal de títulos com (pelo menos) uma centena de páginas), Giorgio Trevisan, serviu-se de si mesmo para modelo do co-protagonista, Mosby.
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