28/10/2011

As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy II

Apocalipse
Filipe Melo (argumento)
Juan Cavia (desenho)
Santiago Villa (cor)
Martin Tejada (adaptação sequencial)
George A. Romero (prefácio)
Tinta-da-China (Portugal, 1 de Novembro de 2011)
170 x 240 mm, cor, 112 p., brochado com badanas
16,90 €

Resumo
Depois de evitarem o fim do mundo. Dog Mendonça, o lobisomem de meia-idade, PizzaBoy, agora operador de call-center, o demónio Pazuul e a gárgula falante são obrigados a juntar-se novamente, desta vez para evitar o Apocalipse…
E para além deste quarteto fantástico, numa catástrofe de proporções bíblicas, até a Virgem de Fátima faz uma perninha!

Desenvolvimento
Neste novo livro, a história começa cinco anos após os acontecimentos marcantes do primeiro volume, em belos cenários desenhados por Juan Cavia, servidos por cores mais claras e um traço bem mais definido que muito valorizam a obra, embora custe a acreditar que numa país chamado Portugal, num intervalo de tempo tão curto, Lisboa fosse tão rapidamente reconstruída…!
PizzaBoy trabalha agora num call-center, onde presta ajuda informática. A atitude enfadada, o desinteresse pela tarefa, a falta de atenção dada a quem telefona, os conselhos factuais – “tente desligar o router e reiniciar o computador” - mostram que afinal estamos no mundo real!
Quanto à trama, ela é espoletada por um padre perseguido pelo Vaticano que recorre a Dog Mendonça e à sua equipa para deterem o Apocalipse… iniciado “há quinze minutos e dez segundos”. E se a ética impede o detective de salvar “o mundo à borla”, a precipitação dos acontecimentos não lhe dará outra hipótese, levando ao reencontro dos quatro protagonistas.
Desencadeia-se então a acção, em grande estilo e em ritmo acelerado, que, entre pragas, confrontos monumentais, perseguições e a análise da previsão bíblica através de uma edição… infantil (!), vai levar os protagonistas a Fátima – onde, tal como Jacinta, Francisco e Lúcia, terão direito à respectiva aparição.
Num volume, mais uma vez recheado de referências a uma certa cultura pop, da música, do cinema, da televisão, da própria BD e até auto-citações (!), consubstanciada em zombies, monstros fofinhos, bestas do apocalipse, teorias da perseguição, conspirações religiosas e o mais que os leitores se vão divertir a descobrir, Filipe Melo cria uma obra plena de bom humor, bem escrita e cativante que o leitor não tem outro remédio do que ler num só fôlego.
Aos diálogos, escritos como poucas pessoas o fazem em Portugal – na BD, para além de Arlindo Fagundes não me ocorre mais ninguém – ritmados, vivos, credíveis, divertidos, repletos de alusões e trocadilhos, Melo e os seus companheiros acrescentam também uma planificação muito dinâmica, com múltiplas tomadas de pontos de vista e alguns efeitos bem conseguidos em termos narrativos, como a mudança de cenas mantendo os planos e dando sequência às frases, logo nas páginas iniciais, uma melhoria evidente na aplicação da cor e na iluminação das cenas, bem mais claras e legíveis, e um aprimoramento do traço ágil, caricatural e expressivo, mostrando-se Juan cavia completamente à vontade tanto com a figura humana como nos cenários - naturais ou dantescos - com os quais vão prendendo e surpreendendo o leitor, página após página.
Desta forma, este livro confirma tudo o que o primeiro já tinha mostrado e prometido, indo ainda mais além, com o refinamento da escrita, a melhoria gráfica e a melhor colorização, tendo tudo para ser mais um sucesso em Portugal (à dimensão do nosso mercado, claro) e para passar além-fronteiras, como aliás já está a acontecer com uma nova história, a ser actualmente publicada na revista norte-americana Dark Horse Presents, de que hei-de falar proximamente.
No final, com Lisboa mais uma vez destruída (o que não indicaria um daqueles estudos psicológicos de pacotilha…?), fica a inevitável ponta solta que promete uma continuação para as aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy.
Que, já antevejo, terão no título algo como “assombrosas” ou “espantosas” e um “III” no final…

A reter
- A escrita de Filipe Melo: incisiva, divertida, fluente.
- A significativa melhoria da iluminação, da cor, que realçam ainda mais o traço - melhorado com a prática - de Juan Cavia.
- As boas recordações que as muitas referências trazem a quem foi passando por elas.
- O dossier final com o making-of do livro.
- A mais-valia do prefácio de George A. Romero.

Lançamentos
Tal como aconteceu com o primeiro volume, também este vai ser objecto de uma mini-tournée de apresentação e lançamento, sempre com a presença de Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa, numa promoção empenhada que não justifica por si só o sucesso que a obra inicial conquistou, até porque o seu valor e potencial são inegáveis, mas ajuda a explicá-lo. Por que em Portugal, poucas vezes a BD tem sido alvo da promoção que poderia alavancá-la para lá do nicho habitual de consumidores…
Eis as datas já anunciadas:

1 de Novembro
16h – Lançamento oficial, AmadoraBD 2011 – Fórum Luís de Camões, à Brandoa
17h-19h – Sessão de autógrafos, AmadoraBD 2011
20h – Lançamento na Tertúlia de BD de Lisboa – Parque Mayer
23h – Lançamento no Shortcutz – Bicaense, Lisboa

2 de Novembro
22h – Lançamento no Shortcutz – Hardclub, Porto

3 de Novembro
18h30 – Lançamento na FNAC Chiado, Lisboa

4 de Novembro
18h00 – Lançamento na FNAC Santa Catarina, Porto
19h30 – Lançamento na Mundo Fantasma, Porto

5 de Novembro
15h – Lançamento na Bertrand, Caldas da Rainha

6 de Novembro
15h – Sessão de autógrafos, AmadoraBD 2011
16h – Lançamento “Dog na Dark Horse”, AmadoraBD2011
17h-19h – Sessão de autógrafos, AmadoraBD 2011

9 de Novembro
18h30 – Lançamento na Dr. Kartoon, Coimbra
21h – Lançamento na FNAC Coimbra

10 de Novembro
10h - Aula aberta de BD com João Lameiras, Guimarães

27/10/2011

O tesouro Tintin

Com a estreia (hoje, em Portugal) do filme de Steven Spielberg, que adapta as aventuras de Tintin, os fãs de Tintin, em especial os coleccionadores (que são muitos) aproveitarão para tirar a barriga de misérias pois os últimos anos, não tendo sido isentos de novidades nesta área, obrigavam a puxar bastante os cordões à bolsa, devido à política seguida pela Moulinsart, que detêm os direitos da personagem, apostada em produtos mais luxuosos para fazer de Tintin uma marca de eleição. Por isso, aliás, quando Nick Rodwell assumiu a direcção da Fundação Moulinsart, após casar com Fanny Remi, viúva de Hergé, uma das suas prioridades foi a não renovação ou o cancelamento das muitas licenças relacionadas com Tintin então existentes, pois o desenhador nunca colocou grandes entraves na sua concessão.Essa mesma política explica, também, porque é que a maioria dos produtos agora disponibilizados se baseia nos visuais do filme, pertencentes à Sony Pictures Releasing, e não nos desenhos originais de Hergé, pertencentes á Moulinsart. O que, segundo alguns especialistas de marketing, na perspectiva de serem realizados mais dois filmes, pode levar a que o Tintin do cinema “canibalize” o de Hergé. Ou seja, exactamente o contrário do que Moulinsart pretendia.Duma ou doutra forma, a verdade é que nunca foi possível encontrar produtos com Tintin com tanta facilidade e mesmo os fãs portugueses terão direito a uma “percentagem deste tesouro”. Desde logo, nos brindes coleccionáveis que a McDonalds começou a distribuir na Europa (Portugal incluído) na semana passada ou através da campanha que a Peugeot também trouxe até nós.
.


Antes disso, de forma surpreendente, no final do Verão a Oysho disponibilizou quatro conjuntos de baby-dolls, desenhados em parceria com a Moulinsart, o que constituiu a primeira investida de Tintin na intimidade feminina...










Outros produtos onde dificilmente se adivinhava a efígie do repórter são, por exemplo, embalagens de comida para cães da Purina, nos EUA, e os brioches Pitch, disponíveis na Bélgica, França e Inglaterra, em ambos os casos associados a “caças ao tesouro” via internet.


Mais vulgares e também acessíveis, são os copos oferecidos pela gasolineira Total, na Bélgica, ou as figuras em PVC da Plastoy.






Já em França, há duas colecções em fascículos da Hachette, uma com figuras das personagens e outra com a caravela Licorne para construir em madeira. Uma terceira, um xadrez com as personagens do filme, está em fase de teste.



Vulgares baralhos de cartas, uma versão Tintin do “Mille Bornes”, um jogo de sociedade popular em França, um jogo de tabuleiro, construções Mecanno com os veículos utilizados por Tintin e até bilhetes de raspadinhas, na Bélgica, são outros artigos ao alcance de todas as bolsas.





Como é evidente, nos tempos que correm, também não podiam faltar as adaptações em videojogos das aventuras cinematográficas de Tintin, disponibilizadas já para consolas e telemóveis.

Os dois filmes de Tintin com actores de carne e osso, protagonizados por Jean-Pierre Talbot, "O Mistério do Tosão de Ouro" e "Tintim e as Laranjas Azuis, serão relançados numa edição conjunta em Blu-Ray.
Em termos de livros, se são vários os países a disponibilizar uma edição conjunta dos álbuns em que o filme se baseia, no mercado francófono multiplicam-se as edições que, entre: o romance e o álbum do filme, livros de jogos e mais estudos em torno da obra de Hergé e do seu herói, deverão rondar o milhão de exemplares.








Já nos Estados Unidos, onde o filme só estreia em Dezembro, os álbuns de Tintin, que até à data venderam apenas 5 milhões em mais de 30 anos, regressarão às livrarias com novas capas, mais actuais e chamativas.


Em Portugal, a ASA, que no próximo mês termina a reedição integral da colecção, em formato menor e com novas traduções, anunciou o lançamento de um álbum de grande formato intitulado “A Arte das Aventuras de Tintin”, baseado no filme de Spielberg.
Filme que valeu ao herói de Hergé chegar pela primeira vez à capa da Time distribuída esta semana...
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Outubro de 2011)

26/10/2011

J. Kendall #77

Ameaça em domicílio
Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento)
Enio (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Abril de 2011)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €


Resumo
Um assalto falhado a um banco, transforma-se num sequestro que a polícia de Garden City, encabeçada pelo procurador Robson e o tenente Webb, com a ajuda da criminóloga Julia Kendall, vai tentar resolver da melhor forma.

Desenvolvimento
Eu sei que Julia tem marcado presença regular (quase mensal) aqui, mas garanto que não tenho qualquer tipo de comissão por parte da Mythos. Isso deve-se apenas à qualidade das histórias, geralmente bem acima da média, às quais não tenho conseguido resistir e cuja leitura me tem inspirado estas reflexões. Não sei se com os meus textos já consegui seduzir algum leitor, mas acredito que quem aceitar o desafio de se embrenhar nos casos de polícia que vão surgindo em Garden City não dará o seu tempo por mal empregue.
Partindo de um universo credível e bem estruturado, que em cada episódio vai sendo desenvolvido e aprofundado, Berardi faz de Julia, mais do que uma série policial, uma crónica sobre o quotidiano das grandes cidades, através da introspecção e das reacções de cada um dos seus protagonistas regulares e daqueles que, geralmente criminosos, marcam individualmente cada edição, mas também dos figurantes anónimos que dão corpo e consistência a todas elas.
Este número, ia a escrever “não é uma excepção”, mas na verdade é bem mais do que isso. È um exemplo perfeito do que atrás afirmei, pela forma como o quotidiano de cada um dos intervenientes que foi/vai ser afectado pelo roubo e pelo sequestro, se enquadra na narrativa e é afectado pelo acontecimento central que serve de base à história. De base, sim, embora surja quase como menor, porque o enriquecedor do argumento de Berardi e Calza são os pequenos dramas – e alegrias – das várias pessoas – bem reais - que vamos conhecendo – e com as quais encontramos pontos de contacto. Mesmo que nalguns casos a sua participação seja apenas acessória ou passageira, deixando no leitor a vontade de conhecer mais acerca da sua vida ou do momento concreto que a história abordou.
O que não retira mérito ou interesse à trama central, de forma alguma, bem narrada e explanada, a dois tempos.
Por um lado a acção das autoridades a tentarem gerir da melhor forma o acontecimento, por outro a acção em si, na relação entre o assaltante/sequestrador e as suas vítimas, com vários momentos de suspense em que o frágil equilíbrio criado parece prestes a ser rompido, o que contribui para acentuar a tensão e prender o leitor. Que, no final, uma vez tudo resolvido (?...) ainda tem direito a um surpreendente revelação…

A reter
- A elevada qualidade média dos argumentos de Julia Kendall.
- A forma como a trama central se esbate para dar lugar à crónica do quotidiano.
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