Vilão Electro em "O Povo no Poder - Parte Um", in Homem-Aranha #111 (Amazing Spider-Man #612) |
24/11/2011
Greve geral
23/11/2011
Tintin e a Alph-Art
Hergé (argumento e desenho)Edições ASA (Portugal, Novembro de 2011)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado
8,90 €
Um pouco de história: a 3 de Março de 1983, Hergé, falecia na Bélgica, aos 75 anos, vítima de leucemia e deixava incompleta aquela que deveria ser a 24ª aventura de Tintin, o mais célebre repórter dos quadradinhos, mesmo se foram poucas as linhas por si escritas.
Eram apenas 42 páginas, só esboçadas, aqui e ali com o desenho um pouco mais avançado, ainda com indecisões de nomes, nalguns casos com sequências alternativas. Em termos de argumento e diálogos, a obra estava mais adiantada, mas terminava igualmente nas primeiras quatro vinhetas da página 42.
Nelas, Tintin encontra-se em situação desesperada, avançando devido à pressão de uma pistola nas suas costas, sendo o seu destino... a imortalidade. Não como o célebre herói de BD que é, mas transformado em estátua, quando o seu corpo for coberto com poliéster líquido, para ser trabalhado por um famoso escultor. Isto porque, em Tintim e a Alph-Art, o herói evolui no meio da pintura moderna, um dos temas que apaixonou Hergé no final da sua vida, enfrentando um bando de falsificadores e traficantes de arte, liderados por um místico que, a ter continuado a história, acabaria por se revelar um dos seus grandes inimigos, o pérfido Rastapopoulos.
Para acalmar os rumores de uma eventual conclusão da obra pelos seus colaboradores, três anos depois, em 1986, era editado um álbum com dois cadernos: um, reproduzia as 42 páginas esboçadas por Hergé; o outro, continha a transcrição dos diálogos. A partir dele, rapidamente surgiram no mercado, a preços exorbitantes e com pequenas tiragens, diversas versões pirata “finalizadas” da história, algumas das quais ainda hoje circulam na net ou mesmo em edições impressas.
No início de 2004, a 29 de Janeiro, aproveitando o pretexto dos 75 anos do nascimento de Tintin, e tentando revitalizar um catálogo onde há muito faz falta uma novidade, foi editado em França Tintin e a Alph-Art, no formato habitual e ao mesmo preço da restante colecção, tal como a Verbo fez meses depois e a ASA faz hoje, concluindo a reedição integral das aventuras de Tintin, com nova tradução e formato reduzido.
Esta edição, reproduz as tais 42 pranchas, transcreve os respectivos diálogos e foi enriquecido com alguns documentos entretanto descobertos, quase todos respeitantes a uma fase mais inicial da obra, na qual Hergé explorava ainda diversas possibilidades temáticas, nomeadamente o tráfico de droga.
E mesmo estando a história numa fase tão embrionária, uma justificação surge de imediato para a edição: descobrir a forma de trabalhar de Hergé. Como ele ia esboçando a narrativa, como aqui e ali uma ou outra imagem ganhava mais importância, levando-o a aperfeiçoá-la ainda no esboço, como as ideias iam surgindo, sendo postas de parte ou integradas no relato, obrigando, quantas vezes, a renumerar as páginas. E ver a sua forma de desenhar, repetindo o traço diversas vezes, de forma sobreposta, até encontrar a versão ideal que, mais tarde copiaria, por decalque, para o original.
E há também um princípio de história, quase dois terços de um álbum, escrito já de forma consistente, com diálogos que, em muitos casos, se adivinham (quase) definitivos, com um fio condutor consistente e capaz de prender o leitor que chega à fatídica página 42 e fica em suspenso – desta vez para sempre – sem saber qual a sorte do herói.
(Versão revista e corrigida do texto publicado no Jornal de Notícias de 22 de Agosto de 2004)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado
8,90 €
Um pouco de história: a 3 de Março de 1983, Hergé, falecia na Bélgica, aos 75 anos, vítima de leucemia e deixava incompleta aquela que deveria ser a 24ª aventura de Tintin, o mais célebre repórter dos quadradinhos, mesmo se foram poucas as linhas por si escritas.
Eram apenas 42 páginas, só esboçadas, aqui e ali com o desenho um pouco mais avançado, ainda com indecisões de nomes, nalguns casos com sequências alternativas. Em termos de argumento e diálogos, a obra estava mais adiantada, mas terminava igualmente nas primeiras quatro vinhetas da página 42.
Nelas, Tintin encontra-se em situação desesperada, avançando devido à pressão de uma pistola nas suas costas, sendo o seu destino... a imortalidade. Não como o célebre herói de BD que é, mas transformado em estátua, quando o seu corpo for coberto com poliéster líquido, para ser trabalhado por um famoso escultor. Isto porque, em Tintim e a Alph-Art, o herói evolui no meio da pintura moderna, um dos temas que apaixonou Hergé no final da sua vida, enfrentando um bando de falsificadores e traficantes de arte, liderados por um místico que, a ter continuado a história, acabaria por se revelar um dos seus grandes inimigos, o pérfido Rastapopoulos.
Para acalmar os rumores de uma eventual conclusão da obra pelos seus colaboradores, três anos depois, em 1986, era editado um álbum com dois cadernos: um, reproduzia as 42 páginas esboçadas por Hergé; o outro, continha a transcrição dos diálogos. A partir dele, rapidamente surgiram no mercado, a preços exorbitantes e com pequenas tiragens, diversas versões pirata “finalizadas” da história, algumas das quais ainda hoje circulam na net ou mesmo em edições impressas.
No início de 2004, a 29 de Janeiro, aproveitando o pretexto dos 75 anos do nascimento de Tintin, e tentando revitalizar um catálogo onde há muito faz falta uma novidade, foi editado em França Tintin e a Alph-Art, no formato habitual e ao mesmo preço da restante colecção, tal como a Verbo fez meses depois e a ASA faz hoje, concluindo a reedição integral das aventuras de Tintin, com nova tradução e formato reduzido.
E mesmo estando a história numa fase tão embrionária, uma justificação surge de imediato para a edição: descobrir a forma de trabalhar de Hergé. Como ele ia esboçando a narrativa, como aqui e ali uma ou outra imagem ganhava mais importância, levando-o a aperfeiçoá-la ainda no esboço, como as ideias iam surgindo, sendo postas de parte ou integradas no relato, obrigando, quantas vezes, a renumerar as páginas. E ver a sua forma de desenhar, repetindo o traço diversas vezes, de forma sobreposta, até encontrar a versão ideal que, mais tarde copiaria, por decalque, para o original.
E há também um princípio de história, quase dois terços de um álbum, escrito já de forma consistente, com diálogos que, em muitos casos, se adivinham (quase) definitivos, com um fio condutor consistente e capaz de prender o leitor que chega à fatídica página 42 e fica em suspenso – desta vez para sempre – sem saber qual a sorte do herói.
Mas confiando que ele se irá libertar, mais uma vez, de uma situação delicada e aparentemente irresolúvel. Como nas outras 23 apaixonantes aventuras, que Hergé escreveu e desenhou, muitas delas autênticas obras-primas, que fizeram de Tintin um dos ícones mais celebrados da banda desenhada e do século XX.
(Versão revista e corrigida do texto publicado no Jornal de Notícias de 22 de Agosto de 2004)
22/11/2011
Mônica #500
Maurício de Sousa produções
Panini Comics (Brasil, Junho de 2011)
135 x 190 mm, 84 p., cor, capa brochada e metalizada
R$ 5,90; 2,45 €
Resumo
Esta é uma edição especial da revista Mônica, comemorativa dos 500 números publicados ininterruptamente no Brasil e assim distribuídos: Editoras Abril – 200 edições (1970-1986); Editora Globo – 246 edições (1987-2006); Panini Comics – 54 edições (2007-?).
Desenvolvimento
Se são poucas as revistas mensais que chegam ao nº 500 (são necessários mais de 40 anos para isso!), se pensarmos apenas nas de banda desenhada - cujo títulos, hoje em dia, são bem menos - esse número reduz-se substancialmente.
Curiosamente, num curto espaço de tempo, o Brasil teve dois casos: Tex, que também passou por várias editoras e sobre a qual já escrevi, e, agora – ou melhor há seis meses, data de publicação original naquele país – a revista da Mônica.
Aproveitando a efeméride – que o é, de facto – mas também a oportunidade de (mais uma vez) apostar no marketing (algo que Maurício de Sousa tem sabido fazer muito bem) foi lançado este número especial, que (re)visita, a dois tempos, o já longo historial desta revista que acompanhou e fez companhia a várias gerações de leitores.
Primeiro, numa história em que as personagens, atravessando o cenário de diferentes heróis – com o bairro do Limoeiro, como ponto de partida, mas também o mundo rural de Chico Bento, a pré-História de Horácio e Piteco, o mundo do além do Penadinho ou o espaço sideral do Astronautra - têm de reencontrar a memória das 499 revistas anteriores, perdida “pelos monstrinhos da vida adulta: compromissos, trabalho, preocupações…”
Para isso, com o habitual humor, terão que evocar no adulto stressado e trabalhador as suas mais ternas e divertidas recordações da infância para que o universo maravilhoso de Maurício de Sousa, (bem) desenvolvido e explanado nas suas revistas, possa (res)surgir.
Depois, na segunda narrativa – são apenas duas nesta revista – a linha temporal tradicional das revistas da turma foi quebrada, tendo o Xaveco assumido todo o protagonismo que (re)conhecemos à Mônica, partindo o Cebolinha numa perseguição através dos tempos – acentuada pela utilização do grafismo da turma em cada uma dessas épocas – e por algumas das histórias mais conhecidas da Mônica, para tentar repor a ordem tal qual nós a conhecemos – e ele habitualmente tenta inverter!
Belo exercício de memória assente no traço tradicional, no humor a que todos nos habituamos e na simplicidade dos meios utilizados, esta edição é sem dúvida um daqueles números de colecção que não só os fãs desejarão ter, mas que merece ser lida por todos aqueles que um dia já se maravilharam com as aventuras da Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e amigos.
Turma da Mônica – Colecção Histórica #23
Caixa com Mônica #23, Cebolinha #23, Cascão #23, Chico Bento #23 e Magali #23
Maurício de Sousa Produções
Panini Comics (Brasil, Maio de 2011)
135 x 190 mm, 244 p., cor, brochada
5,00 €
Ao mesmo tempo, cultivando essa memória – criando-a junto dos mais novos, evocando-o junto dos que nasceram há mais tempo – a Panini tem reeditado as primeiras revistas da Turma da Mônica na sua Colecção Histórica, sendo que este mês estão nas bancas portuguesas as revistas #23 da Mônica (de Março de 1972), Cebolinha (Novembro de 1974), Cascão, Chico Bento (ambas de Junho de 1983) e Magali (Maio de 1990), juntamente com uma caixa em cartolina para as guardar. A par do cultivo da memória – que pelas diferentes datas de lançamento originais pode chegar a diferentes gerações - esta reedição – com cada número enriquecido com um texto alusivo/explicativo da autoria de Paulo Back, permite também apreciar a turma em diferentes épocas e avaliar a sua evolução gráfica e temática.
Panini Comics (Brasil, Junho de 2011)
135 x 190 mm, 84 p., cor, capa brochada e metalizada
R$ 5,90; 2,45 €
Resumo
Esta é uma edição especial da revista Mônica, comemorativa dos 500 números publicados ininterruptamente no Brasil e assim distribuídos: Editoras Abril – 200 edições (1970-1986); Editora Globo – 246 edições (1987-2006); Panini Comics – 54 edições (2007-?).
Desenvolvimento
Se são poucas as revistas mensais que chegam ao nº 500 (são necessários mais de 40 anos para isso!), se pensarmos apenas nas de banda desenhada - cujo títulos, hoje em dia, são bem menos - esse número reduz-se substancialmente.
Curiosamente, num curto espaço de tempo, o Brasil teve dois casos: Tex, que também passou por várias editoras e sobre a qual já escrevi, e, agora – ou melhor há seis meses, data de publicação original naquele país – a revista da Mônica.
Aproveitando a efeméride – que o é, de facto – mas também a oportunidade de (mais uma vez) apostar no marketing (algo que Maurício de Sousa tem sabido fazer muito bem) foi lançado este número especial, que (re)visita, a dois tempos, o já longo historial desta revista que acompanhou e fez companhia a várias gerações de leitores.
Primeiro, numa história em que as personagens, atravessando o cenário de diferentes heróis – com o bairro do Limoeiro, como ponto de partida, mas também o mundo rural de Chico Bento, a pré-História de Horácio e Piteco, o mundo do além do Penadinho ou o espaço sideral do Astronautra - têm de reencontrar a memória das 499 revistas anteriores, perdida “pelos monstrinhos da vida adulta: compromissos, trabalho, preocupações…”
Para isso, com o habitual humor, terão que evocar no adulto stressado e trabalhador as suas mais ternas e divertidas recordações da infância para que o universo maravilhoso de Maurício de Sousa, (bem) desenvolvido e explanado nas suas revistas, possa (res)surgir.
Depois, na segunda narrativa – são apenas duas nesta revista – a linha temporal tradicional das revistas da turma foi quebrada, tendo o Xaveco assumido todo o protagonismo que (re)conhecemos à Mônica, partindo o Cebolinha numa perseguição através dos tempos – acentuada pela utilização do grafismo da turma em cada uma dessas épocas – e por algumas das histórias mais conhecidas da Mônica, para tentar repor a ordem tal qual nós a conhecemos – e ele habitualmente tenta inverter!
Belo exercício de memória assente no traço tradicional, no humor a que todos nos habituamos e na simplicidade dos meios utilizados, esta edição é sem dúvida um daqueles números de colecção que não só os fãs desejarão ter, mas que merece ser lida por todos aqueles que um dia já se maravilharam com as aventuras da Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e amigos.
Turma da Mônica – Colecção Histórica #23
Caixa com Mônica #23, Cebolinha #23, Cascão #23, Chico Bento #23 e Magali #23
Maurício de Sousa Produções
Panini Comics (Brasil, Maio de 2011)
135 x 190 mm, 244 p., cor, brochada
5,00 €
Ao mesmo tempo, cultivando essa memória – criando-a junto dos mais novos, evocando-o junto dos que nasceram há mais tempo – a Panini tem reeditado as primeiras revistas da Turma da Mônica na sua Colecção Histórica, sendo que este mês estão nas bancas portuguesas as revistas #23 da Mônica (de Março de 1972), Cebolinha (Novembro de 1974), Cascão, Chico Bento (ambas de Junho de 1983) e Magali (Maio de 1990), juntamente com uma caixa em cartolina para as guardar. A par do cultivo da memória – que pelas diferentes datas de lançamento originais pode chegar a diferentes gerações - esta reedição – com cada número enriquecido com um texto alusivo/explicativo da autoria de Paulo Back, permite também apreciar a turma em diferentes épocas e avaliar a sua evolução gráfica e temática.
Leituras relacionadas
Maurício de Sousa,
Panini,
Turma da Mônica
21/11/2011
Habibi
Colecção écritures
Craig Thompson (argumento e desenho)Casterman (França, 26 de Outubro de 2011)
172 x 240 mm, 672 p, pb, brochado com badanas
24,95 €
Habibi é a história de Dodola, vendida pelos pais ainda criança para desposar um escriba – com quem aprende a ler e a escrever e os contos sagrados que a acompanharão toda a vida -, raptada de casa do marido para ser feita escrava, fugitiva para se esconder no deserto durante anos, capturada e transformada em favorita do sultão.
Habibi é a história de Zam que Dodola resgatou do mercado de escravos, que com ela viveu no deserto, que por ela se tornou eunuco.
Habibi é a história de cada um, quando o destino – ou os homens? – os separou, como (sobre)viveram com a memória do outro.
Habibi é a história do seu reencontro, tão feliz quanto doloroso, tão esperado quanto receado, tão belo quanto pungente, porque Habibi é a história de um grande amor, uma história bela – como todas as histórias de amor – mas também uma história incómoda, profunda e dolorosa – como só as histórias de amor sofridas podem ser.
Mas Habibi é também uma história de busca e iniciação, uma história de uso (e abuso) mercantil do sexo, de sensualidade reprimida, de desejos abafados, de mal-entendidos sobre o que é – o que pode ser – a sexualidade. Uma história de abusos, violações e profanações.
Habibi é ainda uma história de sobrevivência, de resistência, de abdicação e de luta, um conto sobre a pequenez do indivíduo face ao mundo hostil que o rodeia, o traga, o engole, o expele em fezes.
Habibi é também um conto religioso – mais próximo de Deus ou de Alá – do que muitos contos “mesmo” religiosos, um conto sobre falsa religiosidade, assente numa sólida base teológica, proveniente da leitura atenta e exigente do Corão (complementando a da Bíblia que fez parte da educação de Thompson). O que possibilita, aos crentes (verdadeiros), aos conhecedores de um e/ou outro daqueles livros sagrados, desfrutar dos paralelos que o autor vai traçando entre ambos ao longo da sua obra e de um outro nível de leitura que Habibi tem.
Habibi é, igualmente, uma obra coerente e consistente, em que é notória a pesquisa que o autor fez a vários níveis – dentro de si próprio e a nível religioso, já o disse - mas também a nível da escrita (que tem um papel importante ao longo do relato), dos hábitos e das tradições orientais.
Habibi é uma fábula intemporal, universal, uma versão bem mais dura e terrível das 1001 Noites, igualmente situada num sultanato oriental imaginário, num tempo que parece anacrónico, mas que pormenores diversos revelam ser hoje, revelam ser agora, revelam ser aqui, ao nosso lado, em nossa casa…
Em Habibi, Craig Thompson, mais uma vez, como no espantoso Blankets – que era mais directo, mais acessível, menos cerebral – expõe-se, despoja-se, mostra-se, revela-se, evoca por pressupostas personagens as suas experiências traumáticas, os abusos que sofreu, as suas dificuldades de relacionamento, de forma total, sensível, tocante, embaraçosa, pungente.
Habibi é também uma fantástica narrativa em banda desenhada, arte que Thompson domina como poucos, transportando o leitor ao longo das páginas de uma longa história – complexa e profunda – que, apesar disso - por isso - se lê de um só fôlego.
Habibi é também, ainda, igualmente, um notável trabalho de artesão, que ocupou 7 anos da vida do autor, com pranchas de pura contemplação, outras de uma energia louca, algumas de pura emoção outras de acção a rodos, com muitas dezenas de pranchas feitas autênticas obras de arte oriental, numa colagem, numa moldagem do estilo ao ambiente e ao cenário da história.
Habibi é, por tudo isto, uma obra notável. Daquelas que é obrigatório ler, de um só fôlego, escrevi-o atrás, porque não conseguimos parar sem conhecer o fim, enredados sem forma de fugirmos na teia que Thompson vai tecendo, com mestria e competência – com génio, porque não dizê-lo - com conta e medida, avanços e recuos, descobertas e revelações. Daquelas que é obrigatório reler, uma duas, três, dez vezes para descobrir, desvendar, desfrutar de tudo o que Craig Thompson nela colocou para nós.
Habibi, finalmente, é daquelas obras únicas e incontornáveis, “extenuantes e estimulantes” escreveu alguém de forma particularmente feliz, que tornam medíocres tudo o que sobre elas se escreva – o que eu até aqui escrevi - porque ficará sempre muito aquém do que ela é e nos pode proporcionar.
A reter
- Habibi, no seu todo, uma obra notável.
Craig Thompson (argumento e desenho)Casterman (França, 26 de Outubro de 2011)
172 x 240 mm, 672 p, pb, brochado com badanas
24,95 €
Habibi é a história de Dodola, vendida pelos pais ainda criança para desposar um escriba – com quem aprende a ler e a escrever e os contos sagrados que a acompanharão toda a vida -, raptada de casa do marido para ser feita escrava, fugitiva para se esconder no deserto durante anos, capturada e transformada em favorita do sultão.
Habibi é a história de Zam que Dodola resgatou do mercado de escravos, que com ela viveu no deserto, que por ela se tornou eunuco.
Habibi é a história de cada um, quando o destino – ou os homens? – os separou, como (sobre)viveram com a memória do outro.
Habibi é a história do seu reencontro, tão feliz quanto doloroso, tão esperado quanto receado, tão belo quanto pungente, porque Habibi é a história de um grande amor, uma história bela – como todas as histórias de amor – mas também uma história incómoda, profunda e dolorosa – como só as histórias de amor sofridas podem ser.
Mas Habibi é também uma história de busca e iniciação, uma história de uso (e abuso) mercantil do sexo, de sensualidade reprimida, de desejos abafados, de mal-entendidos sobre o que é – o que pode ser – a sexualidade. Uma história de abusos, violações e profanações.
Habibi é ainda uma história de sobrevivência, de resistência, de abdicação e de luta, um conto sobre a pequenez do indivíduo face ao mundo hostil que o rodeia, o traga, o engole, o expele em fezes.
Habibi é também um conto religioso – mais próximo de Deus ou de Alá – do que muitos contos “mesmo” religiosos, um conto sobre falsa religiosidade, assente numa sólida base teológica, proveniente da leitura atenta e exigente do Corão (complementando a da Bíblia que fez parte da educação de Thompson). O que possibilita, aos crentes (verdadeiros), aos conhecedores de um e/ou outro daqueles livros sagrados, desfrutar dos paralelos que o autor vai traçando entre ambos ao longo da sua obra e de um outro nível de leitura que Habibi tem.
Habibi é, igualmente, uma obra coerente e consistente, em que é notória a pesquisa que o autor fez a vários níveis – dentro de si próprio e a nível religioso, já o disse - mas também a nível da escrita (que tem um papel importante ao longo do relato), dos hábitos e das tradições orientais.
Habibi é uma fábula intemporal, universal, uma versão bem mais dura e terrível das 1001 Noites, igualmente situada num sultanato oriental imaginário, num tempo que parece anacrónico, mas que pormenores diversos revelam ser hoje, revelam ser agora, revelam ser aqui, ao nosso lado, em nossa casa…
Em Habibi, Craig Thompson, mais uma vez, como no espantoso Blankets – que era mais directo, mais acessível, menos cerebral – expõe-se, despoja-se, mostra-se, revela-se, evoca por pressupostas personagens as suas experiências traumáticas, os abusos que sofreu, as suas dificuldades de relacionamento, de forma total, sensível, tocante, embaraçosa, pungente.
Habibi é também uma fantástica narrativa em banda desenhada, arte que Thompson domina como poucos, transportando o leitor ao longo das páginas de uma longa história – complexa e profunda – que, apesar disso - por isso - se lê de um só fôlego.
Habibi é também, ainda, igualmente, um notável trabalho de artesão, que ocupou 7 anos da vida do autor, com pranchas de pura contemplação, outras de uma energia louca, algumas de pura emoção outras de acção a rodos, com muitas dezenas de pranchas feitas autênticas obras de arte oriental, numa colagem, numa moldagem do estilo ao ambiente e ao cenário da história.
Habibi é, por tudo isto, uma obra notável. Daquelas que é obrigatório ler, de um só fôlego, escrevi-o atrás, porque não conseguimos parar sem conhecer o fim, enredados sem forma de fugirmos na teia que Thompson vai tecendo, com mestria e competência – com génio, porque não dizê-lo - com conta e medida, avanços e recuos, descobertas e revelações. Daquelas que é obrigatório reler, uma duas, três, dez vezes para descobrir, desvendar, desfrutar de tudo o que Craig Thompson nela colocou para nós.
Habibi, finalmente, é daquelas obras únicas e incontornáveis, “extenuantes e estimulantes” escreveu alguém de forma particularmente feliz, que tornam medíocres tudo o que sobre elas se escreva – o que eu até aqui escrevi - porque ficará sempre muito aquém do que ela é e nos pode proporcionar.
A reter
- Habibi, no seu todo, uma obra notável.
20/11/2011
Quarteto Fantástico, 50 anos
Há 50 anos, era editada nos EUA Fantastic Four #1, um comic-book que renovou por completo o género de super-heróis e lançou as bases do universo Marvel que hoje conhecemos.Na realidade, são diversas as opiniões acerca da data exacta de lançamento, por isso conta a data de Novembro impressa na capa da revista, que custava apenas 10 cêntimos de dólar e mostrava quatro super-heróis desconhecidos a combater um monstro que emergia do solo.
A inovação não advinha do conceito – os super-heróis já existiam há mais de duas décadas – nem da sua associação - o primeiro super-grupo, a Justice League of America, na época já fazia sucesso há quase um ano.
Os próprios heróis apresentados eram pouco inovadores: Reed Richards, o senhor Fantástico, lembrava os antecessores Plastic Man (criado por Jack Cole, em 1941) e Elongated Man (John Broome e Carmine Infantino, 1960); Sue Storm, futura senhora Richards e a Mulher Invisível, evocava a Invisible Scarlett O’Neil (Russell Stam, 1940); Johnny Storm homenageava o Tocha Humana original (Carl Burgos, 1939).
O que tornava diferente este quarteto eram as suas relações familiares – Reed e Sue casariam em 1965, Johnny era irmão de Sue – e o modo como funcionavam como uma verdadeira família, partilhando o mesmo tecto e também os problemas do dia-a-dia, comuns aos seus leitores (mortais): contas para pagar, necessidade de emprego, incompatibilidades de temperamentos, problemas de relacionamento ou a obrigação de assumirem as consequências dos seus actos. Para além disso, Reed, um génio inventivo, e a ponderada Sue surgiam como os sustentáculos do grupo, fazendo face às partidas constantes que Johnny, um adolescente tardio mais interessado em carros potentes e bonitas namoradas, pregava ao Coisa, permanentemente deslocado pelo seu aspecto monstruoso.
Ou seja, na prática, havia uma humanização dos super-heróis cuja popularidade estava na época em decréscimo acentuado, substituídos pelas histórias aos quadradinhos de suspense e de terror. Super-heróis que, seguindo estas premissas, voltariam ao topo da popularidade e se multiplicariam nos meses seguintes com a chegada do Homem-Aranha, Hulk, Demolidor ou X-Men.
Os criadores do Quarteto Fantástico foram Stan Lee, então há mais de 20 anos a trabalhar na futura Marvel Comics e na época a pensar mudar de ramo, e Jack Kirby, justamente considerado o “rei dos comics”, que desenhou mais de 2500 páginas das suas aventuras.
O número inaugural do Quarteto Fantástico, narrava a origem dos seus poderes, surgidos após o foguete em que se deslocavam ser bombardeado por raios cósmicos no espaço – uma temática então em voga, dada a corrida espacial que opunha EUA e URSS - com consequências diversas para cada um dos seus componentes, que no entanto decidiram utilizá-los para ajudar a humanidade.
E se alguma vez se perguntou como estica a roupa do sr. Fantástico, por que é que Sue Storm não precisa de se despir antes de se tornar invisível ou porque não arde a roupa de Johnny quando se transforma no Tocha Humana, fique sabendo que não é o primeiro a fazê-lo. Logo após a estreia do Quarteto Fantástico, um leitor escreveu a Stan Lee colocando aquelas questões. Socorrendo-se do génio inventivo de Reed Richards, o escritor introduziu em “Fantastic Four” #6 o conceito de “moléculas instáveis” que formariam um tecido capaz de se adaptar aos super-poderes de quem o usasse.
Dessa forma, Lee respondeu a esse leitor e resolveu um outro problema: a fonte de receitas do Quarteto, que patenteou a invenção passando a fornecer o tecido a quase todos os seus colegas super-heróis da Marvel!
Como complemento, no número de estreia havia o confronto com o Toupeira, a primeira de muitas ameaças que a “super-família” enfrentaria, com destaque para seres monstruosos e extra-terrestres, com o Doutor Destino e Galactus, Skrulls e Krees à cabeça. A partir do terceiro número, o quarteto passou a ter uniformes, um quartel-general e o invulgar “fantasticarro”, recebendo as suas aventuras o subtítulo de “The Greatest Comic Magazine In The World”.
Com o passar do tempo, ao seu lado haveriam de surgir outros super-heróis como o Homem-Aranha, o Surfista Prateado ou Namor. Alguns deles – She-Hulk, Luke Cage, o Homem-Formiga ou, recentemente, o Homem-Aranha - ocuparam mesmo, de forma provisória, um lugar no Quarteto, quer por abandonos temporários, desaparecimentos misteriosos ou falecimentos (a prazo) provocados pela máquina de marketing da Marvel.
O sucesso de papel levou-os à televisão, em desenhos animados, logo em 1967, tendo sido diversos os regressos a este suporte ao longo das décadas, incluindo o direito a uma paródia numa abertura dos SImpsons.
Curiosamente, foi necessário esperar até 1993 para assistir à sua estreia em cinema, interpretados por actores de carne e osso, numa película candidata a pior filme de sempre que a Marvel proibiu. O regresso ao grande ecrã do Quarteto Fantástico – mesmo assim abaixo dos seus pergaminhos em BD - só teria lugar em 2005, num filme homónimo dirigido por Tim Story e protagonizado por Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Chris Evans e Michael Chiklis, que regressariam dois anos depois em “Quarteto Fantástico e Surfista Prateado”.
Hoje, meio século depois da sua estreia, se Reed e Sue já foram pais por duas vezes (Franklin nasceu em 1968 e Valeria em 1999, apesar de aparentarem idades próximas!), parece que o tempo não passou por eles e que tudo continua essencialmente na mesma, continuando no topo das preferências dos leitores que, com eles, se continuam a identificar.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 15 de Novembro de 2011)
A inovação não advinha do conceito – os super-heróis já existiam há mais de duas décadas – nem da sua associação - o primeiro super-grupo, a Justice League of America, na época já fazia sucesso há quase um ano.
Os próprios heróis apresentados eram pouco inovadores: Reed Richards, o senhor Fantástico, lembrava os antecessores Plastic Man (criado por Jack Cole, em 1941) e Elongated Man (John Broome e Carmine Infantino, 1960); Sue Storm, futura senhora Richards e a Mulher Invisível, evocava a Invisible Scarlett O’Neil (Russell Stam, 1940); Johnny Storm homenageava o Tocha Humana original (Carl Burgos, 1939).
O que tornava diferente este quarteto eram as suas relações familiares – Reed e Sue casariam em 1965, Johnny era irmão de Sue – e o modo como funcionavam como uma verdadeira família, partilhando o mesmo tecto e também os problemas do dia-a-dia, comuns aos seus leitores (mortais): contas para pagar, necessidade de emprego, incompatibilidades de temperamentos, problemas de relacionamento ou a obrigação de assumirem as consequências dos seus actos. Para além disso, Reed, um génio inventivo, e a ponderada Sue surgiam como os sustentáculos do grupo, fazendo face às partidas constantes que Johnny, um adolescente tardio mais interessado em carros potentes e bonitas namoradas, pregava ao Coisa, permanentemente deslocado pelo seu aspecto monstruoso.
Ou seja, na prática, havia uma humanização dos super-heróis cuja popularidade estava na época em decréscimo acentuado, substituídos pelas histórias aos quadradinhos de suspense e de terror. Super-heróis que, seguindo estas premissas, voltariam ao topo da popularidade e se multiplicariam nos meses seguintes com a chegada do Homem-Aranha, Hulk, Demolidor ou X-Men.
Os criadores do Quarteto Fantástico foram Stan Lee, então há mais de 20 anos a trabalhar na futura Marvel Comics e na época a pensar mudar de ramo, e Jack Kirby, justamente considerado o “rei dos comics”, que desenhou mais de 2500 páginas das suas aventuras.
O número inaugural do Quarteto Fantástico, narrava a origem dos seus poderes, surgidos após o foguete em que se deslocavam ser bombardeado por raios cósmicos no espaço – uma temática então em voga, dada a corrida espacial que opunha EUA e URSS - com consequências diversas para cada um dos seus componentes, que no entanto decidiram utilizá-los para ajudar a humanidade.
E se alguma vez se perguntou como estica a roupa do sr. Fantástico, por que é que Sue Storm não precisa de se despir antes de se tornar invisível ou porque não arde a roupa de Johnny quando se transforma no Tocha Humana, fique sabendo que não é o primeiro a fazê-lo. Logo após a estreia do Quarteto Fantástico, um leitor escreveu a Stan Lee colocando aquelas questões. Socorrendo-se do génio inventivo de Reed Richards, o escritor introduziu em “Fantastic Four” #6 o conceito de “moléculas instáveis” que formariam um tecido capaz de se adaptar aos super-poderes de quem o usasse.
Dessa forma, Lee respondeu a esse leitor e resolveu um outro problema: a fonte de receitas do Quarteto, que patenteou a invenção passando a fornecer o tecido a quase todos os seus colegas super-heróis da Marvel!
Como complemento, no número de estreia havia o confronto com o Toupeira, a primeira de muitas ameaças que a “super-família” enfrentaria, com destaque para seres monstruosos e extra-terrestres, com o Doutor Destino e Galactus, Skrulls e Krees à cabeça. A partir do terceiro número, o quarteto passou a ter uniformes, um quartel-general e o invulgar “fantasticarro”, recebendo as suas aventuras o subtítulo de “The Greatest Comic Magazine In The World”.
Com o passar do tempo, ao seu lado haveriam de surgir outros super-heróis como o Homem-Aranha, o Surfista Prateado ou Namor. Alguns deles – She-Hulk, Luke Cage, o Homem-Formiga ou, recentemente, o Homem-Aranha - ocuparam mesmo, de forma provisória, um lugar no Quarteto, quer por abandonos temporários, desaparecimentos misteriosos ou falecimentos (a prazo) provocados pela máquina de marketing da Marvel.
O sucesso de papel levou-os à televisão, em desenhos animados, logo em 1967, tendo sido diversos os regressos a este suporte ao longo das décadas, incluindo o direito a uma paródia numa abertura dos SImpsons.
Curiosamente, foi necessário esperar até 1993 para assistir à sua estreia em cinema, interpretados por actores de carne e osso, numa película candidata a pior filme de sempre que a Marvel proibiu. O regresso ao grande ecrã do Quarteto Fantástico – mesmo assim abaixo dos seus pergaminhos em BD - só teria lugar em 2005, num filme homónimo dirigido por Tim Story e protagonizado por Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Chris Evans e Michael Chiklis, que regressariam dois anos depois em “Quarteto Fantástico e Surfista Prateado”.
Hoje, meio século depois da sua estreia, se Reed e Sue já foram pais por duas vezes (Franklin nasceu em 1968 e Valeria em 1999, apesar de aparentarem idades próximas!), parece que o tempo não passou por eles e que tudo continua essencialmente na mesma, continuando no topo das preferências dos leitores que, com eles, se continuam a identificar.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 15 de Novembro de 2011)
Leituras relacionadas
Efeméride,
Marvel,
Quarteto Fantástico
19/11/2011
One Week
Isabel Baraona
Ao Norte (Portugal, Novembro de 2011)
105 x 148 mm, 36 p., pb, brochado com badanas
“One Week”, de Isabel Baraona, o décimo primeiro e último livro do projecto O Filme da Minha Vida, é apresentado hoje, às 17h30, no Espaço AO NORTE, na Praça D. Maria II, em Viana do Castelo. Na ocasião será também inaugurada uma exposição com os originais da autora que ficará patente ao público até 31 de Janeiro de 2012.
Meia hora antes, às 17h, no Auditório dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais, será projectado o filme homónimo de Buster Keaton, que Isabel Baraona evoca nesta obra, que conta com prefácio do crítico de BD Pedro Moura.
“One Week”, uma curta-metragem muda de apenas 19 minutos datada de 1920, conta a história de um casal, interpretado por Buster Keaton e Sybil Seely, que recebe como presente de casamento uma casa do género “faça você mesmo”, mas cuja construção vai apresentar dificuldades inesperadas que os dois conseguem ultrapassar com imaginação e criatividade.
A colecção O Filme da Minha Vida, iniciada em Maio de 2008, resultou de um desafio lançado pela Associação Ao Norte a ilustradores e autores de BD portugueses para produzirem um mini-álbum, a preto e branco, inspirado num filme cuja visualização de alguma forma os tenha marcado. Pelas suas páginas passaram nomes como João Fazenda, Miguel Rocha, Filipe Abranches ou Luís Henriques, inspirados por películas de Sergio Leone, Ingmar Bergman, Alfred Hitchcock, Roman Polanski, Luis Buñuel ou João César Monteiro.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 19 de Novemrbo de 2011)
Ao Norte (Portugal, Novembro de 2011)
105 x 148 mm, 36 p., pb, brochado com badanas
“One Week”, de Isabel Baraona, o décimo primeiro e último livro do projecto O Filme da Minha Vida, é apresentado hoje, às 17h30, no Espaço AO NORTE, na Praça D. Maria II, em Viana do Castelo. Na ocasião será também inaugurada uma exposição com os originais da autora que ficará patente ao público até 31 de Janeiro de 2012.
Meia hora antes, às 17h, no Auditório dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais, será projectado o filme homónimo de Buster Keaton, que Isabel Baraona evoca nesta obra, que conta com prefácio do crítico de BD Pedro Moura.
“One Week”, uma curta-metragem muda de apenas 19 minutos datada de 1920, conta a história de um casal, interpretado por Buster Keaton e Sybil Seely, que recebe como presente de casamento uma casa do género “faça você mesmo”, mas cuja construção vai apresentar dificuldades inesperadas que os dois conseguem ultrapassar com imaginação e criatividade.
A colecção O Filme da Minha Vida, iniciada em Maio de 2008, resultou de um desafio lançado pela Associação Ao Norte a ilustradores e autores de BD portugueses para produzirem um mini-álbum, a preto e branco, inspirado num filme cuja visualização de alguma forma os tenha marcado. Pelas suas páginas passaram nomes como João Fazenda, Miguel Rocha, Filipe Abranches ou Luís Henriques, inspirados por películas de Sergio Leone, Ingmar Bergman, Alfred Hitchcock, Roman Polanski, Luis Buñuel ou João César Monteiro.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 19 de Novemrbo de 2011)
18/11/2011
Mahou
Na origem da magiaAna Vidazinha (argumento)
Hugo Teixeira (desenho)
ASA (Portugal, Outubro de 2011)
220 x 297 mm, 56 p., cor, cartonado
13,90 €
Resumo
Bia, uma estudante do liceu, ao folhear um livro da biblioteca é transportada para Mahou, um universo paralelo à Terra onde a magia impera.
Aí descobrirá que foi de lá que a sua mãe um dia partir e terá que defrontar a metade má de si própria num confronto que poderá decidir o futuro de Mahou.
Desenvolvimento
Este foi para mim uma das maiores surpresas entre os (vários) lançamentos nacionais que houve este ano no AmadoraBD.
Desde logo, pela inflexão no estilo de Hugo Teixeira, que aqui, sem o abandonar totalmente, se distancia um tanto do traço manga que o caracterizava, moldando-o juntamente com as influências franco-belgas e dos comics que possui para o adaptar ao tom da narrativa. Ou tendo encontrado finalmente o seu próprio estilo? Se só o futuro o poderá dizer, sendo evidente que ainda tem um caminho a percorrer, em especial ao nível do tratamento da figura humana, nas proporções e rostos (nalguns casos simplificados ao máximo, de forma que se percebe ser voluntária – para esconder alguma s limitações?), é de realçar a dinâmica das pranchas e também o uso da cor, havendo já neste álbum algumas pranchas interessantes.
Depois, pela formato escolhido, o álbum tradicional franco-belga, num ruptura mais evidente com (manga) o que até agora tinha feito, como forma de procurar (e educar?) o público juvenil a quem a história mais directamente se destina. Desde logo pela juventude da protagonista, mas também pela forma como está trabalhada a temática fantástica, em torno da magia e do que com ela pode ser feito.
Finalmente, pela descoberta de uma nova argumentista na BD nacional (algo que tem sido raro, convenhamos), Ana Vidazinha de seu nome, que assina uma história agradável, bem construída e melhor escrita, coerente e com algumas soluções interessantes, que deixa em aberto a possibilidade de novos volumes que permitam avaliar até onde pode ir esta nova dupla de autores e as potencialidades de Mahou.
A reter
- A consistência do argumento de Vidazinha.
- A evolução gráfica de Hugo Teixeira que, no entanto, terá que ser apenas mais um passo na sua progressão.
Menos conseguido
- A colocação de alguns balões, contrária ao sentido de leitura.
Hugo Teixeira (desenho)
ASA (Portugal, Outubro de 2011)
220 x 297 mm, 56 p., cor, cartonado
13,90 €
Resumo
Bia, uma estudante do liceu, ao folhear um livro da biblioteca é transportada para Mahou, um universo paralelo à Terra onde a magia impera.
Aí descobrirá que foi de lá que a sua mãe um dia partir e terá que defrontar a metade má de si própria num confronto que poderá decidir o futuro de Mahou.
Desenvolvimento
Este foi para mim uma das maiores surpresas entre os (vários) lançamentos nacionais que houve este ano no AmadoraBD.
Desde logo, pela inflexão no estilo de Hugo Teixeira, que aqui, sem o abandonar totalmente, se distancia um tanto do traço manga que o caracterizava, moldando-o juntamente com as influências franco-belgas e dos comics que possui para o adaptar ao tom da narrativa. Ou tendo encontrado finalmente o seu próprio estilo? Se só o futuro o poderá dizer, sendo evidente que ainda tem um caminho a percorrer, em especial ao nível do tratamento da figura humana, nas proporções e rostos (nalguns casos simplificados ao máximo, de forma que se percebe ser voluntária – para esconder alguma s limitações?), é de realçar a dinâmica das pranchas e também o uso da cor, havendo já neste álbum algumas pranchas interessantes.
Depois, pela formato escolhido, o álbum tradicional franco-belga, num ruptura mais evidente com (manga) o que até agora tinha feito, como forma de procurar (e educar?) o público juvenil a quem a história mais directamente se destina. Desde logo pela juventude da protagonista, mas também pela forma como está trabalhada a temática fantástica, em torno da magia e do que com ela pode ser feito.
Finalmente, pela descoberta de uma nova argumentista na BD nacional (algo que tem sido raro, convenhamos), Ana Vidazinha de seu nome, que assina uma história agradável, bem construída e melhor escrita, coerente e com algumas soluções interessantes, que deixa em aberto a possibilidade de novos volumes que permitam avaliar até onde pode ir esta nova dupla de autores e as potencialidades de Mahou.
A reter
- A consistência do argumento de Vidazinha.
- A evolução gráfica de Hugo Teixeira que, no entanto, terá que ser apenas mais um passo na sua progressão.
Menos conseguido
- A colocação de alguns balões, contrária ao sentido de leitura.
Leituras relacionadas
ASA,
Hugo Teixeira,
Vidazinha
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