Os leitores
portugueses que a 18 de Agosto de 1949 viram na capa de estreia do Mundo de
Aventuras uma prancha de um certo Luís Ciclón (assim mesmo, com sotaque
hispânico), estavam certamente longe de imaginar que se tratava de uma criação
norte-americana, na origem intitulada Steve Canyon.
E também que apanhavam
a meio uma aventura de um herói que tinha nascido cerca de dois anos antes, a
13 de Janeiro de 1947, há precisamente 65 anos.
Canyon era um veterano
da Força Aérea norte-americana, que dirigia a sua própria companhia de aviação,
o que o fez visitar destinos exóticos em África, na Ásia ou na América Latina.
Aventureiro sensível ao
sofrimento dos menos bafejados pela sorte e à beleza feminina – embora as
mulheres com quem se cruzou e por quem se apaixonou tivessem geralmente tanto
de belo como de malvado e inacessível - voltaria ao activo no início da década
de 1950, para participar na Guerra da Coreia (e depois na do Vietname),
assumindo aí a série um tom que alguns classificam como imperialista e de cariz
propagandístico da política dos EUA, mas que deve ser interpretado á luz da
Guerra Fria que então se vivia. O seu casamento com Summer Smith, uma das suas
antigas paixões, em 1970, retirou interesse à série, que assumiu então um tom mais
próximo do melodrama.
A estreia de Steve
Canyon, no formato de tira diária de imprensa, aconteceu em simultâneo em 168
jornais, muito por força da fama granjeada pelo seu autor Milton Caniff,
igualmente criador de Terry e os Piratas, série que abandonara em 1946,
desagradado pelo facto de os direitos não lhe pertencerem.
Caniff, um dos maiores
desenhadores de sempre a preto e branco, assistido por Dick Rockwell (sobrinho
do famoso Norman Rockwell), dedicou-se ao novo herói até à data da sua morte, a
3 de Maio de 1988, tendo a última tira sido publicada a 4 de Junho desse mesmo
ano.
Em Portugal, “Luís
Ciclón” (ou Ciclone), marcou presença no Mundo de Aventuras, embora de forma
irregular, até ao final da década de 1980, tendo surgido igualmente em publicações
como Ciclone, Condor ou Condor Popular.
(Versão expandida do
texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Janeiro de 2012)
Boa tarde. Edições nacionais de "Terry e os Piratas" é que não existem, não é verdade? Não haverá em Portugal algum editor que queira avançar com este projecto? Ah, já sei, têm medo de perder dinheiro! A desculpa do costume...apesar das declarações de amor à bd! Obrigado pela atenção. Cumprimentos. Paulo Martins
ResponderEliminarBoa tarde Paulo Martins,
ResponderEliminarPois, eu também gostava muito de recordar Terry e os Piratas, depois de o ter conhecido nas páginas do Mundo de Aventuras, já lá vão uns aninhos...
Mas com amor à BD ou não, pode ter a certeza que editar BD em Portugal é um risco...
Boas leituras!
Nunca compreendi porque é que Steve Cannyon (aliás, Luís Ciclone) não foi mais publicado em Portugal, limitando-se a esporádicas aparições no "Mundo de Aventuras" e noutras revistas da A.P.R.
ResponderEliminarRecordo-me bem da sua primeira aventura, que era uma das que mais me fascinavam naquele novo e atraente semanário de grande formato que publicava algumas das melhores séries americanas dessa época, totalmente desconhecidas entre nós. O enredo aventuroso e, ao mesmo tempo, melodramático, a força expressiva do estilo caniffiano (já nessa época), o clima de guerra e de tragédia, com mensagens políticas subliminares que escapavam à nossa jovem mentalidade, exerciam, de facto, um efeito muito diferente do de histórias mais fantasistas como Flash Gordon ou Brick Bradford.
Quanto a "Terry e os Piratas", li-a pela primeira no "Mosquito", com desenhos de George Wunder, num episódio que também me agradou bastante... mas posteriormente desinteressei-me dela, até me surgir a oportunidade de publicar os seus primeiros episódios no "Mundo de Aventuras" (mais tarde, seriam republicados e prosseguidos no "Público" e numa edição fanzinística de pequena tiragem, por obra e graça de um irredutível apreciador da série, José Pires).
Portanto, "Terry e os Piratas", de Caniff, não é totalmente desconhecida em Portugal, como o foi até à década de 70 do século passado.
Um abraço do
Jorge Magalhães
Caro Jorge Magalhães,
ResponderEliminarConfesso que me agrada ter-lhe evocado mais estas memórias que quis partilhar connosco. Só teríamos a ganhar se escrevesse um livro em que reunisse todas as que o contacto com o mundo da BD lhe proporcionou ao longo de tantas décadas!
Do Steve Canyon, que li no MA e na colecção Condor - e reli agora - não tinha uma imagem muito nítida, mas quanto ao Terry e os Piratas, foi uma das grandes descobertas que fiz no "nosso" Mundo de Aventuras, mas confesso que desconhecia a sua publicação no Público.
Boas leituras... clássicas!