10/06/2013

Douce France











Simon Rochepeau (texto)
Lionel Chouin (desenho)
Futuropolis
França, 7 de Maio de 2013
195 x 265 mm, 128 p., cor, cartonado
19,00 €


Resumo
70 anos após o final da II Guerra Mundial, a pequena comunidade de Saint-Yves decide homenagear a Resistência local através da construção de um memorial no local onde muitos dos seus membros pereceram. O rosto visível dessa homenagem será o seu antigo líder, Raymond Langlade, hoje com 92 anos.

A supervisionar as obras está o ambicioso , um natural da terra, que tentará fazer a ponte entre o grupo construtor que ganhou o concurso e a empresa local subcontratada para levar a cabo a construção.
Mas o que começa como uma homenagem, em breve ameaça transformar-se numa guerra surda e num ajuste de contas à distância, desenterrando segredos que alguns preferiam ocultar para sempre

Desenvolvimento
Este é um livro de várias leituras.
Desde logo, a evocação – em tom de homenagem - de uma época dura em que uma geração combateu – e morreu a fazê-lo – contra um invasor, uma ditadura, uma ideia desumana.
Depois, o contraste entre lutas. A de então, contra os nazis, a actual contra o desemprego, o esvaziamento dos ideais, o tratamento do ser humano apenas como números e nada mais.
E, sem comparar uma e outra, a forma como mostra como ambas afecta(ra)m, condiciona(ra)m e motiva(ra)m as reacções de quem as vive(u). E como ambas leva(ra)m alguns, em função das suas ambições, sonhos e valores – mesmo que distorcidos - a trair amigos, ideais e sonhos. Sem lições de moral ou julgamentos – esses ficam para cada leitor.
Como para cada um fica as considerações que possa tecer sobre o tempo que o ser humano consegue guardar dentro de si ódios, rancores e animosidades, à espera da primeira oportunidade – que pode demorar dias, anos ou décadas… - para se vingar, denunciar ou espezinhar o objecto desses ressentimentos.
Pena é, no entanto, que um ponto de partida prometedor e uma abordagem com muitas razões para ser estimulante, se perca um pouco em função do desenho de Lionel Chouin. Numa primeira fase interessante e até apelativo graficamente, com algumas soluções conseguidasem termos de grafismo e da cor aplicada - em tons de azul e laranja em função dos momentos descritos - à medida que se torna mais impressionista (e atraente?), perde em legibilidade, acabando por se tornar cansativo pela dificuldade que o leitor enfrenta ao longo das páginas em distinguir e identificar os diversos intervenientes.

Isso prejudica e retarda a leitura e torna-a penosa, a espaços, até porque o argumentista nem sempre escolheu as melhores vias narrativas.
Fica assim, de “Douce France”, uma promessa incumprida na sua plenitude, um retrato incómodo de uma certa França – que com alguns ajustes se poderá estender a outros países desta (cada vez) menos União Europeia - assente na revelação de como décadas depois os conflitos – de diversa ordem - continuam latentes e a provocar fracturas de difícil cura.

A reter
- Mais uma vez, a magnífica edição da Futuropolis.
- A ideia-base de que o relato parte.
- O retrato pouco abonatório (da maioria) dos seres humanos que “Douce France” traça.

Menos conseguido
- A dificuldade de distinção das personagens.

- Algumas indecisões narrativas.


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