Simon Rochepeau (texto)
Lionel Chouin (desenho)
Futuropolis
França, 7 de Maio de 2013
195 x 265 mm, 128 p., cor,
cartonado
19,00 €
Resumo
70 anos após o final da II Guerra Mundial, a pequena
comunidade de Saint-Yves decide homenagear a Resistência local através da
construção de um memorial no local onde muitos dos seus membros pereceram. O
rosto visível dessa homenagem será o seu antigo líder, Raymond Langlade, hoje
com 92 anos.
A supervisionar as obras está o ambicioso , um natural da
terra, que tentará fazer a ponte entre o grupo construtor que ganhou o concurso
e a empresa local subcontratada para levar a cabo a construção.
Mas o que começa como uma homenagem, em breve ameaça
transformar-se numa guerra surda e num ajuste de contas à distância,
desenterrando segredos que alguns preferiam ocultar para sempre
Desenvolvimento
Este é um livro de várias leituras.
Desde logo, a evocação – em tom de homenagem - de uma época
dura em que uma geração combateu – e morreu a fazê-lo – contra um invasor, uma
ditadura, uma ideia desumana.
Depois, o contraste entre lutas. A de então, contra os
nazis, a actual contra o desemprego, o esvaziamento dos ideais, o tratamento do
ser humano apenas como números e nada mais.
E, sem comparar uma e outra, a forma como mostra como ambas
afecta(ra)m, condiciona(ra)m e motiva(ra)m as reacções de quem as vive(u). E
como ambas leva(ra)m alguns, em função das suas ambições, sonhos e valores –
mesmo que distorcidos - a trair amigos, ideais e sonhos. Sem lições de moral ou
julgamentos – esses ficam para cada leitor.
Como para cada um fica as considerações que possa tecer
sobre o tempo que o ser humano consegue guardar dentro de si ódios, rancores e
animosidades, à espera da primeira oportunidade – que pode demorar dias, anos
ou décadas… - para se vingar, denunciar ou espezinhar o objecto desses
ressentimentos.
Pena é, no entanto, que um ponto de partida prometedor e uma
abordagem com muitas razões para ser estimulante, se perca um pouco em função
do desenho de Lionel Chouin. Numa primeira fase interessante e até apelativo
graficamente, com algumas soluções conseguidasem termos de grafismo e da cor
aplicada - em tons de azul e laranja em função dos momentos descritos - à medida que se torna mais impressionista (e atraente?), perde em legibilidade, acabando por se tornar cansativo pela dificuldade que o leitor enfrenta ao longo das
páginas em distinguir e identificar os diversos intervenientes.
Isso prejudica e retarda a leitura e torna-a penosa, a
espaços, até porque o argumentista nem sempre escolheu as melhores vias narrativas.
Fica assim, de “Douce France”, uma promessa incumprida na
sua plenitude, um retrato incómodo de uma certa França – que com alguns ajustes
se poderá estender a outros países desta (cada vez) menos União Europeia - assente
na revelação de como décadas depois os conflitos – de diversa ordem - continuam
latentes e a provocar fracturas de difícil cura.
A reter
- Mais uma vez, a magnífica edição da Futuropolis.
- A ideia-base de que o relato parte.
- O retrato pouco abonatório (da maioria) dos seres humanos que
“Douce France” traça.
Menos conseguido
- A dificuldade de distinção das personagens.
- Algumas indecisões narrativas.