28/11/2013

Tsunami











Stéphane Piatzszek (argumento)
Jean-Denis Pendanx (desenho)
Futuropolis
França, 8 de Novembro de 2013215 x 290 mm, 112 p., cor, cartonado
20,00 €


Este foi um caso de sedução à primeira vista. Mal folheei Tsunami, fiquei prisioneiro do traço e das cores de Pendanx e, sem resistir, esqueci o monte (que alternadamente vai crescendo e mingando) de leituras (mais ou menos) urgentes que tenho para fazer.
Em boa hora o fiz, pois a sedução que o desenho exerceu, estendeu-se ao argumento, num relato poético e sensível, que apela mais às emoções e à contemplação do que à adrenalina.
História que podia ser real, narra a chegada de Romain à ilha de Sumatra, na Indonésia, nove anos após o tsunami que devastou aquela região do globo.
Tem apenas 24 anos e chega em busca da irmã, com quem a diferença de idades – ela é 16 anos mais velha – nunca permitiu grande intimidade; irmã que desapareceu sem deixar rasto nem dar notícias, após um período de voluntariado ao serviço de uma ONG, para auxiliar as vítimas daquela tragédia natural.
Sem nunca ter saído de França, de certa forma ainda a despertar para a vida de adulto, Romain vai deparar com um país – que pensa conhecer de cor pelas muitas fotografias que viu mas que se vai relevar um imenso mistério que ele terá de desvendar – ainda a braços com as consequências do tsunami, a principal das quais será as muitas vítimas que ficaram por encontrar e a quem não foi possível fazer o funeral.
Entre as dificuldades de uma língua diferente, de uma geografia diferente feita de inúmeras ilhas e ilhotas, de uma forma de estar diferente e de hábitos e tradições culturais totalmente diferentes, Romain, a par de uma relação tumultuosa com Jessie, experiências com drogas e algumas ajudas inesperadas, vai crescer, descobrir uma faceta que desconhecia na irmã e o segredo que a levou a desaparecer.
Para narrar esta busca – que se revela dupla, da irmã, desaparecida, e de si mesmo, num percurso iniciático – Piatzszek opta por um registo poético, sensível e de uma enorme ternura – mas não lamechas – dando a Romain tempo para crescer e passando ao papel desenhado, com uma naturalidade desarmante, aspectos sobrenaturais – estranhos para nós europeus – das tradições indonésias relacionadas com o culto dos mortos e a condução para o céu das almas perdidas.
O desenho – num regresso circular ao princípio deste texto – se nem sempre apresenta as devidas proporções, é de uma imensa harmonia com o tom do registo, alternando sequências gráficas narrativas com belíssimas ilustrações de página inteira que deslumbram e apelam à contemplação, ao mesmo tempo que conseguem transmitir uma sensação de paz interior e tranquilidade que apetece pelo contraste que apresenta com a correria do nosso quotidiano. 


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