Lançada originalmente em 1987, La Druzina é o título de um romance do jornalista e escritor Jacques
Mazeau (1949-). A presente adaptação em banda desenhada é também da sua
responsabilidade.
Essa é, aliás, uma característica recorrente no regresso –
nos últimos 15, 20 anos…? – da banda desenhada às adaptações literárias: a
colaboração entre os autores (contemporâneos) originais e os argumentistas e/ou
desenhadores nelas implicados.
Não conhecendo o romance de Mazeau, de concepção clássica –
mas tendo ficado com bastante vontade de o ler, o que já é um ponto a favor
desta adaptação aos quadradinhos – fiquei com a sensação que ele foi capaz de
transpor para um meio narrativo diferente aquilo que será o essencial da
história base, em especial no que diz respeito à definição das personagens, às
suas motivações e – pelo menos em boa parte – à forma como desenvolvem ao longo
da narrativa os diferentes relacionamentos.
Menos conseguido – e escrevo-o baseado na leitura estrita
deste álbum – é a estrutura temporal do relato que, se explora a fundo alguns
momentos, também tem grandes saltos temporais sem que nos seja de alguma forma
explicado o que durante esses (longo) tempo aconteceu. O que não sendo fundamental
para entender o enredo, torna menos conseguido o conjunto.
O traço de Brada, um desenhador oriundo da ex-Jugoslávia, no
início apresenta personagens demasiado semelhantes, o que torna algo difícil
distingui-las, mas acaba por se soltar ao longo da narrativa e, devido à sua
matriz clássica realista, mostra-se adequado ao relato.
Na sua base, estão dois irmãos, Ian e Ratislav, naturais da
Checoslováquia. A acção decorre na segunda década do século XX, entre 1914 e
1918, ou seja durante o período correspondente à I Grande Guerra, que serve de
pano de fundo a duas lutas pela liberdade – ou, mais exactamente?, pela mudança
de regimes: o da Rússia, que terá a sua revolução em 1917, e o da
Checoslováquia, com a transformação ocorrer um ano mais tarde.
Ian, o mais velho, pertence à resistência que luta contra a
opressão austro-húngara, e La Druzina
tem início quando Ratislav recebe uma mensagem do irmão, pedindo para vingar a
sua morte às mãos de três traidores.
Com a cumplicidade inicial da sua namorada Jilha, Ratislav
dedica-se a cumprir a última vontade do irmão, o que o levará a entregar-se à
causa que ele defendia e a percorrer grande parte do seu país natal e da
Rússia, sempre em perseguição dos assassinos denunciados.
Só que, de forma progressiva e bem estruturada, Mazeau vai
mostrando ao leitor que nem sempre o que parece é, acabando La Druzina por assumir um rumo bem
diferente, sendo o aparente protagonismo único de Ratislav por ser ofuscado por
alguém que, surpreendentemente, assume o lugar de destaque no relato de uma
grande maquinação em que se sucedem traições, espionagem e mortes, em nome de
valores – a liberdade, a independência... – que acabarão por apresentar uma
factura bem elevada, num final que, acredito, se revelará bem distante daquele
que muitos arquitectarão ao longo da leitura.
Jacques Mazeau (argumento)
Brada (desenho)
Glénat
França, Junho de 2015
215 x 293 mm, 120 p., cor, cartonado
EAN/ISBN : 9782723463744
19,00 €
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