Eu, como muitos outros portugueses, desde que me conheço
(como leitor de BD) vi as editoras deixarem a meio muitas séries/obras, na
maior parte das vezes sem qualquer razão aparente.
Homem-Aranha: Tormento
– agora recuperado integralmente pela Levoir na colecção Poderosos
Heróis Marvel distribuída às quintas-feiras com o jornal Público - foi um
desses casos, embora ligeiramente diferente, pois a Portugal no início da
década de 1990 só chegou o primeiro (de dois) número(s) da mini-série
brasileira.
Obra marcante da década atrás citada – e Luís Salvado explana
porquê numa introdução bem conseguida – hoje tem que ser lida com olhos
diferentes dos que usei quando li a tal edição brasileira.
Porque o leitor que sou hoje tem uma bagagem – e uma
exigência – diferente(s) do de então e porque o tempo passado deixou algumas
marcas. Ou, melhor explicado, porque o que então era inovação e diferença, hoje
é apenas mais uma obra com algum arrojo gráfico. O que, convenhamos, não retira
mérito a McFarlane, apenas o confirma como um dos autores que inovou e fez a
diferença – gráfica – no mundo dos comics de super-heróis.
Essa diferença assenta(va) essencialmente numa planificação
hiper-dinâmica e arrojada, com recurso frequente a vinhetas verticais, à
multiplicação de vinhetas de diferentes tamanhos, muitas vezes sobrepostas, e à
explosão das cenas de acção em páginas de (quase) vinheta única, bem como às
poses extremas, pouco naturais e anatomicamente improváveis do Homem-Aranha e
das suas teias.
Paradoxalmente, o McFarlane escritor tinha (muito) menos virtudes que o seu homólogo desenhador e parte do dinamismo dado pelo grafismo era (até) quebrado pelo excesso de caixas de texto que entrecortavam as frases e retiravam qualquer ensejo de concretização à leitura acelerada que o desenho só por si pedia.
Paradoxalmente, o McFarlane escritor tinha (muito) menos virtudes que o seu homólogo desenhador e parte do dinamismo dado pelo grafismo era (até) quebrado pelo excesso de caixas de texto que entrecortavam as frases e retiravam qualquer ensejo de concretização à leitura acelerada que o desenho só por si pedia.
Quanto à história em si – um feroz e violento (re)encontro
do Homem-Aranha com o Lagarto, ‘patrocinado’ por uma sensual e estranha
desconhecida com poderes místicos – assume um tom de quase terror, acentuado
pelo grafismo sujo patenteado pelo traço de McFarlan, embora em boa verdade
pudesse ter sido condensado – com mais mérito? – em menos páginas do que as
aqui apresentadas.
Homem-Aranha: Tormento
Todd McFarlane
Levoir/Público, Portugal, 20 de Agosto de 2015
175 x 265 mm, 136 p., cor, capa dura, 8,90 €
Concordo totalmente,e a releitura só me fez confirmar aquilo que ja sabia desde que li o tpb original na decada de 90.
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