13/02/2017

Jirô Taniguchi (1947-2017)

Nascido em Tottori, na província de Honshû, no Japão, Jirô Taniguchi faleceu no sábado passado, aos 69 anos, na sequência de problemas de saúde que o afectaram nas últimas semanas.
Considerado por muitos ‘o mais europeu dos mangakas’ (autores de banda desenhada japoneses), pelo seu estilo próximo da linha clara, Taniguchi era um autodidacta que iniciou o seu percurso na BD na década de 1970, como assistente de Kazuo Kamimura, um autor de renome no Japão. Na segunda metade daquela década, publicou as suas primeiras obras, de tom policial, com o argumentista Natsuo Sekigawa.
A descoberta da banda desenhada ocidental, nos anos 1980, seduziu-o de imediato e fê-lo descobrir que havia outras formas de narrar e de abordar temas mais adultos e complexos em autênticos romances gráficos com apenas umas poucas centenas de páginas, em oposição às séries de sucesso do seu país de origem, que facilmente somam milhares de páginas.
Entre 1985 e 1991 publicou, de novo com Sekigawa, Botchan no Jidai, uma panorâmica da literatura japonesa em homenagem ao escritor Natsume Sôseki.
O início da sua publicação no mercado francófono, em 1995, pela Casterman, e a rápida adesão dos leitores ocidentais, levou-o a dedicar-se a uma série de obras de carácter mais pessoal, marcadas por protagonistas muito humanos, cujos temas fortes são a introspecção, as relações humanas e familiares e a ligação do homem com a natureza, numa atitude respeitadora e contemplativa.
Estes temas estão presentes em A arte de Jirô - O Homem que Caminha (colecção Os Clássicos da Banda Desenhada – Série Ouro, edição Devir com o jornal Correio da Manhã, em 2005), O Diário do meu Pai e Terra de Sonhos (colecção Novelas Gráficas, 2015 e 2016; edição Levoir com o jornal Público), três das suas obras mais marcantes e as únicas editadas em português.

  

Da sua bibliografia, vasta e diversificada, onde também se encontram westerns e obras de cariz culinário, fazem parte igualmente L’Orme du Caucase, La Montagne Magique, Ícaro (uma colaboração com Moebius), Sky Hawk (um western!), Le Sauveteur ou Un ciel radieux ou Quartier Lontain. Este último foi distinguido com o Alph’Art para melhor argumento, em 2003, pelo Festival de BD de Angoulême, que dois anos depois o recompensaria com o troféu para melhor desenho, por Le sommet des dieux, tendo-lhe ainda dedicado uma exposição retrospectiva em 2015.

(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Fevereiro de 2017; clicar no título dos livros a cor diferente para encontrar uma leitura crítica da obra; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)

4 comentários:

  1. As publicações em português da sua obra fizeram-me ficar um verdadeiro fã.

    Grande autor, com uma abordagem muito intimista.

    Filipe Simões

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  2. Seria bom a Levoir dar continuidade à publicação de mais obras.

    Luís Campos

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  3. Não esperava...Li os dois que foram publicados pela Levoir, gostei muito do "Terra de Sonhos". Deixa uma obra bonita de cariz muito humano. Espero que publiquem mais obras suas.

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  4. À imagem dos comentários anteriores também eu foi um leitor que ficou marcado pelas obras de Jirô Taniguchi por cá publicadas. Obras de um sentimento difícil de igualar.
    Eu também espero que as editoras portuguesas continuem a publicar as suas obras.

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