Começa
a ser difícil contabilizar as edições capazes de surpreender quem
segue a edição de banda desenhada em Portugal.
Que
é como quem diz,
igualmente
sob
um prisma interessante, neste momento é (quase) impossível garantir
que esta ou aquela obra não terá edição em português.
Originalmente,
Creepshow,
foi um filme de terror de 1982, dirigido por George A. Romero, a
partir de uma série de cinco contos de Stephen King, três dos quais
escritos propositadamente para a película. Em
que, diga-se a título de curiosidade, participaram, entre outros,
Leslie Nielsen e Ted Danson.
Creepshow
deu
origem nesse
mesmo ano a
uma revista de número único com o mesmo título, com os cinco
contos adaptados pelo mestre da BD de terror, Bernie Wrightson.
Homenagem
às revistas de terror dos anos 1950, como a Creepy,
a Erie
ou
Tales
from the Cript,
Creepshow
herdou delas o ritmo e a forma narrativa, num equilíbrio entre o que
é exposto e o que é deixado subentendido, com o terror puro
associado a seres grotescos, mortos-vivos ou monstros, a caminhar a
par com as questões subliminares.
Graficamente,
não sendo um
dos trabalhos de referência de Wrightson,
apetece
dizer que ele nunca desenhou mal e Creepshow
ostenta
as qualidades que o distinguiram neste género específico: um bom
domínio da anatomia humana, a expressividade dos rostos e da postura
corporal, seres suficientemente grotescos e assustadores para
cumprirem a sua função na época e ainda serem, pelo menos,
incómodos hoje em dia, e
um bom domínio da planificação, que combina uma divisão mais
tradicional da página com vinhetas de grande dimensão.
Os
contos de Stephen King, mestre também no domínio literário de
terror, têm como ponto de partida situações banais - uma
reunião
de família,
um
adultério,
a
saturação do casamento…
- e
sentimentos bem comuns e humanos - desejos de riqueza, vingança,
medos escondidos, curiosidade, atracção pelo desconhecido. E
que são abordados
de forma clássica, com momentos dramáticos e de tensão elevada,
suspense q.b., desfechos
nem
sempre prováveis
e com algum humor negro.
A
reter
-
A
publicação - inesperada - de um clássico em português.
-
A diversificação editorial da Planeta na área da banda
desenhada.
-
A
homenagem a títulos marcantes dos anos 1950, que o malfadado Comics
Code Authority fez desaparecer.
-
A inclusão
de um prefácio e de um posfácio que ajudam a situar a obra no seu
contexto original.
-
A
aparição
de um parente (!) distante de Swamp Thing, criado
uma década antes por Bernie Wrightson e Len Wein, num
dos contos.
Menos
conseguido
-
As
edições da Planeta têm tido desde sempre alguns problemas com
as traduções,
mas nesta edição agravam-se. Traduções lineares e frases em que
verbo e sujeito não têm concordância, são alguns exemplos,
particularmente graves no prefácio.
Creepshow
Adaptação
do
filme
homónimo
de George R. Romero
Stephen
King (guião)
Bernie
Wrightson (desenho)
Planeta
Portugal,
Maio de 2019
205
x
280
mm,
72
p., cor, capa dura
20,00
€
Pedro, comprei no Sábado e aproveitei para ler metade e depois ver o filme e ler a outra metade.
ResponderEliminarQue bela experiência.
Pois as edições da Planeta, eu que até comprei todas a edições do Darth Vader pelo Gillen e o Larroca para as despachar logo a seguir e ir buscar as edições em inglês.
ResponderEliminarTinham tudo para resultar, bom papel, bom design, boas cores, capa dura mas traduções manhosas.
Estou a ver que continua a ser assim.