Obra autobiográfica (?), de crónica social, de humor e de coragem, A Loja foi uma das agradáveis surpresas do recente Amadora BD e, porque não, da BD nacional em 2019, pela forma como se atreve a olhar para o umbigo desta arte no nosso país.
Não
sei se Derradé alguma vez sonhou deixar o seu emprego de informático
para abrir uma loja de BD - e este é o resumo deste livro - mas as similitudes entre o autor e o
protagonista - ou
o seu empregado...? - deste
A Loja,
parecem apontar nesses sentido. Embora - e desculpem lá o trocadilho
- neste país faça mais
sentido manter os empregos e não tentar pôr em prática sonhos aos
quadradinhos…
A
Loja
é uma obra a que podem ser apontados dois tempos, quase
dois registos.
No primeiro, é a crónica social que impera, uma crónica marcada
por algum
desencanto
e desilusão apesar do manto do humor que a sustenta, na qual Derradé
apresenta alguns dos preconceitos que continuam a existir contra a BD
no nosso país: a
sua pretensa infantilidade, a sua menoridade em relação às obras
ilustradas - ou aos livros ‘sérios’…
A
isso, acrescenta alguns episódios que, podendo parecer apenas
elementos paródicos de um relato divertido, infelizmente são na
verdade a transposição para as suas páginas de factos reais que ao
longo dos anos foram vivenciados por outros - editores, lojistas -
neste país.
Com
o embalo ganho
na primeira metade da obra, com
estes episódios em
que se adivinha algo
de catártico, o autor entra então no melhor do seu livro: o
corajoso
- por via de eventuais represálias! - retrato
do zoo da BD nacional, com a introdução de uma série de
personagens (bem) inspirados em seres reais, facilmente reconhecíveis
para quem frequenta festivais, lançamentos e páginas do Facebook,
reproduzindo os
seus tiques e
particularidades de
forma eficaz e feliz, com um
especial destaque para o impagável e hilariante episódio dos
‘Fritas’! Se
estas páginas são divertidas q.b. para aguentarem uma leitura
‘ignorante’, os conhecedores dos retratados tirarão da sua
leitura muito mais, arriscando mesmo bem dispostas gargalhadas.
Num
registo assumidamente de humor, possivelmente seria neste ponto
(página 57) que o livro deveria terminar, sem o toque romântico e
de regresso à realidade que as últimas pranchas constituem, mas
podemos perdoar Derradé se ele concretizar a sequela que de alguma
forma fica prometida…
A
Loja
Derradé
Polvo
Portugal,
Outubro de 2019
220
x 165
mm, 64
p., pb,
capa mole com
badanas
8,99
€
Zoo? ZOO??!!! Estás a chamar-me animal?? Já disse ao Dário para meter uma personagem nova no vol. 2, o Anacleto, crítico de BD no Porto, carago!
ResponderEliminarInteressante os termos BD, comics e mangá... ilustra bem as 3 maiores escolas dessa arte....
ResponderEliminarquase não se vê fumetto, manhwa, tebeo....
Se bem que em Portugal, BD designa muitas vezes todos os tipos de BD: franco-belga, comics, fumetti, mangá, etc...
EliminarGalícia e Romênia também usam o termo BD
EliminarSe quadrinhos é BD então a revista Gina também é BD ou a será que a Gina é fotonovela?
ResponderEliminarPorque se Greg copia-por-cima-de-fotos Land faz um grande sucesso como artista de BD com os seus desenhos foto-realistas com enredo não podemos afirmar que nesta perspectiva as suas BDs não são diferentes da Gina?
Resumindo se a Gina não é BD o Greg Land não vale um chavo.
Espera aí, então e o Alex Ross?
Fico-me por aqui.