Racista, eu?!
Chamar a actualidade [acrescida após as recentes eleições europeias, já este texto estava escrito e agendado] a uma ficção histórica como, apesar da sua base humorística, é a série Les Tuniques Bleues, pode parecer estranho, mas foi o que fizeram Cauvin e Lambil neste Capitain Nepel, com um subterfúgio que penso ser desnecessário explicar, mas que a temática escolhida irá esclarecer, eventualmente com a ajuda da visualização da segunda prancha aqui mostrada.
A trama é simples: Blutch e Chesterfield são encarregados de acompanhar o protagonista que dá título ao álbum até Fort Bow, o seu antigo aquartelamento, uma vez que o capitão vai substituir temporariamente o coronel Appeltown que está doente e incapaz de comandar.
Uma vez lá chegados, a primeira medida do novo comandante é expulsar índios, chineses e negros que viviam e/ou serviam no forte. A introdução do racismo na mecânica habitual e bem oleada da série - e procurem-na se não a conhecem, porque vale bem a pena e há uma vintena de álbuns editados em português... - é feita de forma conseguida, pese embora o tom acusador desassombrado e até panfletário, com os dois autores a mostrarem que seja qual for a cor da pele - branca, preta, vermelha, amarela... - há sempre racismo latente, à espera de um pretexto para surgir em todo o seu horror.
A par desta questão, a forma como Cauvin e Lambil, nas primeiras páginas, expõem como a obediência cega que o exército exige e impõe se torna algo natural nos soldados, é pura e simplesmente brilhante e a primeira sequência do álbum poderia figurar em qualquer tratado - de humor ou não - anti-militarista.
Les
Tuniques Bleues #35 - Capitain Nepel
Raoul
Cauvin (argumento)
Willy
Lambil (desenho)
Dupuis
Bélgica,
1993
218
x 300 mm, 48 p., cor, capa dura
12,50
€
(imagens disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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