E agora, a Guiné
A
História é importante. Pelo que nos ensina e pela forma como nos
ajuda a entender o presente e nos prepara para o futuro.
Acontecimento
traumático e ainda demasiado envolto em secretismo, a guerra
colonial, que tantas vítimas fez e tantas marcas deixou, a nível
individual e colectivo, no nosso país, necessita de ser falada,
evocada e discutida como forma de catarse e para ajudar a curar
algumas feridas.
Co.Br.A
a série de Marco Calhorda de
que acaba de ser editado o segundo volume, é um contributo
nesse sentido.
Série de ficção, baseada em factos históricos e com (algumas) personagens reais como intervenientes, depois de Goa, muda-se agora, dois anos depois, de armas e bagagens - mais aquelas do que estas... - para a Guiné Bissau. Corria o ano de 1969 e o então governador António de Spínola tentava passar da guerra tout court para a política de "africanização", que visava tornar o ocupante português mais próximo da população local, como forma de esvaziar os motivos que moviam os 'terroristas do PAIGC'.
Na metrópole, adivinhando uma oportunidade de voltar a ganhar relevo no seio do estado português, o líder do Co.Br.A prepara-se para actuar em sentido contrário, agudizando o conflito militar.
Relativamente ao primeiro volume, Operação Goa, auto-conclusivo, é notório o maior à-vontade narrativo de Calhorda, com o relato a fluir de forma mais leve e descontraída, sem excessos de texto narrativo nem atropelos no ritmo. A divisão desta segunda entrega em três tomos terá tido, certamente, um contributo decisivo neste aspecto, que se revela fundamental para que o leitor acompanhe melhor o narrar de um momento histórico que, na maioria dos casos, decerto desconhece.
Em sentido contrário, de alguma forma, está o trabalho gráfico do sérvio Zoran Jovicic, que substituiu Daniel Maia como desenhador da série, uma vez que questões de agenda do artista português, com uma traço mais seguro e dinâmico, impediram a sua continuidade. No entanto, a evolução de Jovici ao longo deste primeiro livro é evidente e algumas limitações relacionadas com proporções, movimento e postura estática dos intervenientes vão sendo limadas ao correr das páginas.
Em termos pessoais, também teria preferido que os traços delimitadores das vinhetas fossem mais finos, adequando-se às características do próprio traço do desenhador, já que em páginas em que o branco predomina sobre as manchas de negro, de que Jovicic faz um bom uso, a grelha da prancha revela-se algo pesada.
Concluída a leitura deste primeiro tomo, como se de uma banda desenhada (só) de aventuras se tratasse, fica o apetite pela continuação e (mais uma) prova de que a História também pode ser aprendida ou descoberta com prazer.
Co.Br.A.
- Operação Conacri - Tomo
1
Marco
Calhorda (argumento)
Zoran
Jovicic (desenho)
Ala
dos Livros
Portugal,
Abril de 2024
210
x 270 mm, 80
p., pb, capa dura com sobrecapa
18,50€
(imagens disponibilizadas pela Ala dos Livros; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Sem comentários:
Enviar um comentário