Rumo à aventura pelos Mares do Sul
Marinheiro, contrabandista, espírito livre Jon Rohner, é tanto um émulo distante de Corto Maltese, quanto um aventureiro inspirado na literatura de aventuras de autores como Jack London ou Robert Louis Stevenson. Aliás, a proximidade deste último é bem maior, como comprova a leitura do volume integral Jon Rohner, que a Arte de Autor acaba de editar.
Na verdade, o seu criador, o veterano espanhol Alfonso Font, um dos convidados do recente Maia BD, foi mais longe e fez de Stevenson um amigo de Rohner e, deste último, o pretenso narrador das diversas histórias que aquele viria a incluir em Nos Mares do Sul.
Decorrendo no final do século XIX, quando o escritor, após um périplo por diversas ilhas do Pacífico, acabou por escolher Upolu como destino e onde viria a acabar os seus dias, estas narrativas são tanto homenagem como a evocação da grande aventura, e exalam uma mescla de fascínio e repulsa pelos hábitos, diferentes, dos habitantes daqueles mares, espelhando o que sentiam então os viajantes europeus ou norte-americanos perante as suas crenças religiosas ou os seus hábitos de vida que, nalguns casos, passavam mesmo pelo canibalismo.
Rohner, vivendo com um pé de cada lado da ténue fronteira que divide a legalidade do pequeno crime, é um daqueles anti-heróis que funciona mais como linha condutora dos acontecimentos do que alguém que exige para si o protagonismo.
Este, a par dos selvagens locais, como eram então apelidados, é entregue a fugitivos da lei, curandeiros e vigaristas, belas mulheres por vezes cruéis, personagens singulares e militares e capitães de navio impiedosos, que compõem outros tantos retratos realistas e humanos de pessoas geralmente pouco aconselháveis, pelo seu egoísmo, cupidez e/ou violência.
Mesmo assim, o exotismo e o colorido das paisagens, o apelo do grande oceano e o barco à vela a vogar livremente nele, são um apelo irresistível, potenciado pelo traço dinâmico de Font, para partir em companhia de Rohner e Stevenson, rumo à aventura.
Jon
Rohner
Alfonso
Font
Arte
de Autor
Portugal,
Maio de 2024
210
x 285 mm, 112
p., cor,
capa dura
23,95
€
(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias online de 14 de Junho de 2024 e na versão em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Arte de Autor; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Interessante, vou comprar.
ResponderEliminarNão entendo é a opção de colocar uma capa a preto e branco sendo que o interior é a cores, é para emular as edições das obras de Hugo Pratt pela AdA? mas mesmo aqui se as estórias do Corto têm páginas a cores as capas também são a cores, mesmo no caso dos pastiches que fizeram nos últimos anos.
Adorei este livro, começa-se a ler e não se consegue largar. Fiquei triste quando constatei que de Jon Rohner não há mais nada desde 2004.
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