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28/03/2011

Peanuts – Obra completa – 1961-1962

Charles Schulz (argumento e desenho)
Afrontamento (Portugal, Outubro de 2010)
215x175 mm, 328 p., pb, cartonado com sobrecapa, 23,21 €


Resumo
Sexto volume da compilação integral dos Peanuts, inclui as tiras diárias e as pranchas dominicais publicadas originalmente nos anos de 1961 e 1962.
O arranjo gráfico é de Seth e a introdução da cantora Diana Krall (que curiosamente invoca mais as suas memórias dos Peanuts da animação do que da banda desenhada…).


Desenvolvimento
Escrever recorrentemente sobre um mesmo tema é (quase) sempre complicado.
É o que me tem acontecido – felizmente! – em relação aos Peanuts e a Schulz, seja por motivo de efemérides ou de novas edições, como é agora o caso. Escrevi felizmente, contrariando o que exprimi na primeira frase, mas não me enganei, porque isso me tem obrigado a debruçar uma e outra vez, com redobrada atenção, sobre uma das obras-primas que o século XX nos legou.
Correspondente aos anos 11 e 12 da vida da tira, este volume mostra os Peanuts em velocidade de cruzeiro, com a estrutura da série mais do que estabelecida e a personalidade dos intervenientes bem definida.

Nada que significasse estagnação ou repetição, longe disso, pois Schulz, então num dos seus períodos de maior criatividade, continuou a introduzir novas personagens e situações e a fazer experiências (gráficas, narrativas…). Foi assim que surgiu Frieda (com os seus caracóis naturais…!) e o seu gato Faron, que Linus (e por arrastamento Snoopy!) usou óculos durante cerca de um ano, que Sally teve um crescimento acelerado, que Snoopy começou a receber repetidas visitas de uns passarinhos, antepassados do
 (mais tarde) indispensável Woodstock... E se a maior parte destas inovações se mantiveram nos anos seguintes, outras desapareceram tão naturalmente como tinham aparecido, sinónimo da sua ineficácia – na óptica do autor ou dos leitores… - mas também da vitalidade e da personalidade da própria série.
Por outro lado, a leitura cronológica de um período alargado – dois anos, no presente caso – de uma tira diária como os Peanuts, extremamente rica a vários níveis, permite ver como Schulz abordava temas da actualidade (de então, claro!) ou recorrentes (mais evidentes uns do que outros): Natal, o aniversário de Beethoven, o regresso à escola, a queda das folhas no Outono, a época do basebol, as estações do ano, o Dia das Bruxas/Grande Abóbora… E como conseguia, inovar e renovar a cada nova abordagem - mesmo que por vezes as diferenças sejam apenas subtis… e por isso mesmo ainda mais conseguidas - quer de uns anos para os outros, quer na sucessão de piadas em torno de um mesmo tema, que se podiam suceder ao longo de vários dias ou poucas semanas.
Pesem embora as inovações referidas, estes Peanuts são aqueles a que os leitores já se tinham habituado, encontrando por isso exactamente o que esperavam deles: os sucessivos falhanços de Charlie Brown, com o papagaio, as cartas ao correspondente, no basebol ou perante os outros – embora haja também uma das raras respostas à altura que ele deu a Lucy; a dependência… de Linus em relação ao cobertor; a crueldade crescente das tiradas de Lucy, quer como psiquiatra, quer sendo ela própria (!); a (inexistente) relação de Lucy com Schroeder; a paixão platónica de Linus por miss Othmar, a sua professora; o protagonismo crescente de Snoopy – assumindo outras personalidades, a sua relação com a casota; as referências à rapariguinha ruiva por quem Charlie Brown se apaixona mas com quem nunca falará…
Em resumo, mais uma sublime oportunidade de descobrir os Peanuts de sempre de uma forma nova, renovada. Aproveitem!


A reter
- Ao longo da leitura fui assinalando as tiras e pranchas dominicais de referência ou que me pareceram mais conseguidas. Acabei o livro com umas quantas dezenas seleccionadas… Mais uma prova da genialidade de Schulz! Ou da sua coerência!
- A qualidade da edição, em tudo fiel à original. E onde se destaca o grafismo sóbrio, cuidado e atraente de Seth.
- A tradução de Gabriela Rocha, com conta, peso e medida.

Menos conseguido
- O tempo (excessivo) que tem mediado entre a edição de cada um dos volumes.

Curiosidades
- Logo nas páginas iniciais, Lucy enterra o cobertor de Linus, num episódio que serviu de base à primeira graphic novel dos Peanuts, a editada nos EUA por estes dias.
- Os “famosos” – do cinema, da BD, da música… - que têm assinado cada introdução, mostrando a universalidade da obra de Schulz.

Sugestão

- Comercializar à parte a caixa para guardar cada dois volumes da colecção. Ou incluir nos volumes respectivos um vale que permita depois obtê-las. O sistema actual, convida a esperar pela edição conjunta dos dois volumes em lugar de os ir comprando á medida que são publicados, o que é penalizador para a editora.

12/02/2010

Peanuts, obra completa – 1959-1960


Charles M. Scuhlz (argu-mento e desenho)
Introdução de Whoopi Goldberg
Afron-tamento (Portugal, Novembro de 2009)
220 x 174 mm, 324 p., pb, cartonado com sobrecapa com badanas

Em 2004, a editora norte-americana Fantagraphics Books lançava o primeiro tomo de um ambicioso projecto: a edição integral dos "Peanuts" de Charles M. Schulz, anunciando-o como "o mais aguardado e ambicioso projecto editorial da história das tiras diárias americanas".
Dos 25 volumes previstos, lançados a uma média de dois por ano, estão já editados 12, devendo a edição ficar concluída em 2016. Cada volume, com mais de 300 páginas, reúne por ordem cronológica, recuperadas e restauradas, todas as tiras diárias e pranchas dominicais publicadas nos jornais ao longo de dois anos, com excepção do primeiro que abarca o período 1950-1952.
O notável arranjo gráfico da colecção é da responsabilidade de Seth, também ele autor de BD, sendo cada volume prefaciado por personalidades de diferentes áreas que de alguma forma foram influenciadas pela obra de Schulz, como Matt Groening, criador dos Simpsons, a cantora Diana Krall, a actriz Whopi Goldberg ou a ex-tenista Billie Jean King.
Em 2006, a Afronta-mento, a exemplo do que têm feito outras editoras um pouco por todo o mundo, lançou os dois primeiros tomos, em versão portuguesa “Peanuts – Obra completa”, tendo até ao momento editado cinco volumes, o último dos quais em Dezembro último, correspondente ao período 1959-1960. Este volume, dedicado a um período em que os alicerces da série já estavam lançados e Schulz já tinha encontrado o seu caminho, inclui, entre muitas outras, as tiras dedicadas ao nascimento de Sally, a irmã de Charlie Brown (aqui bebé mas que em pouco tempo atingirá a idade dos outros Peanuts), a aparição inaugural da Grande Abóbora, a primeira consulta da “psiquiatra” Lucy e, claro, a página que Schulz sempre referiu como a sua favorita, a prancha dominical de 14 de Abril de 1960, aqui reproduzida.
Para este ano, a Afronta-mento prevê lançar em Maio o sexto tomo, referente a 1961-1962, com a caixa arquivadora para os volumes #5 e #6, e em Outubro os volumes 7 e 8 com a respectiva caixa.

(Versão revista e aumentada do texto publicado a 6 de Fevereiro de 2010 na revista NS, distribuídas aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

26/11/2009

BD para o Natal - RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland


Regina Pessoa (argumento e desenho)
Edições Afrontamento/Niepoort (Portugal, 2009)
Livro: 185 x 292 mm, 24 p., cor, cartonado
Embalagem: 304 x 196 x 80 mm


Depois do (justamente) multipremiado filme animado “História Trágica com final feliz”, este livro marca uma incursão de Regina Pessoa pela banda desenhada para (nos) contar (um)a história do Vinho do Porto. E da razão porque nele existem categorias diferentes: Ruby e Tawny. Para o fazer, inspirou-se (e que bela e bem conseguida foi esta inspiração) na história, melhor, em personagens e situações de “Alice no País das Maravilhas”, em especial nos gémeos TweedleDum e TweedleDee.
Tudo começa numa rua normal, de uma cidade normal, com gente normal, homogénea, cinzenta, de pasta e telemóvel, seguindo (n)a manada, ao longo de passeios e ruas, com rumo definido, sem saber para onde vai. (A)Normalizada.
Só que um dos homens da nossa história – da história da Regina – vislumbra um coelho (branco, de relógio…) a virar uma esquina e decide segui-lo, por um longo corredor, ao fundo do qual descobre uma pequenina porta, com uma fechadura em forma de… cálice! Entra então num mundo novo e diferente, onde (já) existe cor, onde se fabrica (de forma apaixonada…) o vinho, compreendendo as suas diferenças, ganhando vontade de ser diferente, transformando-se também ele em…
A história, assim simples, mas bela e dinâmica, onírica e fantástica, sem palavras para que imaginemos nós tudo o que dizem e pensam – e, porque não, sentem - os protagonistas, está traçada de forma agradável e harmoniosa, com pontuais aplicações de cor que dão vida e realçam pormenores (vivos).
E se a obra por si só é uma bela prenda, que dizer da embalagem que a acondiciona, uma requintada caixa, selada com etiqueta desenhada por Regina Pessoa, que no seu interior, para além do livro, contém duas garrafas de Vinho do Porto – Ruby e Tawny, claro – com RubyDum e TawnyDee nos seus rótulos, a inevitável etiqueta “Drink me” (!) pendurada do gargalo, para degustar enquanto se lê ou apenas para guardar zelosamente e fazer inveja aos amigos que nos visitam.
Uma edição em relação à qual há que agradecer que os livros não tenham todos esta (excelente) embalagem porque, senão, de quantas mais casas ia precisar eu para guardar a minha biblioteca de BD?!
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