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04/11/2009

As Leituras dos Heróis – David, de “BRK”

(Segundo Filipe Pina)

Pergunta: Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas do David?

Resposta – Sendo um gajo que tem a mania que é fixe, que tem a mania que está numa fase de mudança, tinha que ser uma cena tipo Homem-Aranha, com aquele género de humor e as suas dúvidas todas. Mas o David não é do tipo de ler BD.

16/09/2009

BRK – Tomo 1

Filipe Pina (argumento)
Filipe Andrade (desenho)
ASA (Portugal, Setembro de 2009)
190 x 274 mm, 80 p., cor, capa brochada com badanas

Em 2008, escrevi o texto seguinte (que agora actualizei) para o catálogo do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja:


"BRK" é o diminuitivo de break, designação de uma organização antiglobalização internacional na história mas simboliza também a vontade dos autores de "quebrar com o molde da BD em Portugal", justificando também o inglês pela vontade de "a de vender internacionalmente".
Anunciada no "BDJornal", onde foi publicada desde o #14, de Agosto/Setembro de 2006, (com excepção do #21), como "uma saga que vai deixar marcas na BD portuguesa", sendo necessário o passar do tempo para o confirmar, não tenho, no entanto, dúvidas de que, em muitos aspectos, "BRK" é (e será), sem dúvida, uma marca nestes tempos que vão correndo.
Sem ordenação de razões por importância, desde logo pela forma como foi sendo publicada, regularmente, em episódios, ao longo de vários meses, retomando um formato que durante muito tempo imperou, o da história em continuação, que prendia e deixava o leitor suspenso, ansiando pelo número seguinta da revista/jornal para conhecer cada nova peripécia da narrativa. E Filipe Pina, o argumentista, soube gerir bem este aspecto, conseguindo criar momentos de suspense em cada suspensão da história, surpresas, dúvidas, falsas certezas até, criando mais e novas razões para que a leitura fosse retomada posteriormente, dois meses depois.
"BRK", explicavam os seus autores no início, é a história de "David, um rapaz" (sub)urbano "de 17 anos, bastante diferente dos outros". Porque, ao contrário da maior parte dos adolescentes de hoje, é bastante consciente de si e do mundo, responsável e interessado, com vontade de mudar e provocar mudanças. Embora como quase todos os adolescentes - só os adolescentes? - perdido num mundo em constante mudança, cada vez menos propício à actuação individual e menos receptivo aos que querem fazer inflectir o curso dos acontecimentos globalizadores.
O retrato traçado de David - bem como daqueles que lhe são próximos - é bastante realista e credível. Para além de David ser bem trabalhado a nível psicológico, o tom realista é aprofundado pelo facto de os cenários da acção serem também reais: do Porto a Almada ou Lisboa, e de algumas situações - a repórter da RTP que faz a reportagem do atentado, … - apelarem para o Portugal real e existente, que todos conhecemos e onde tudo se passa. Realismo extendido pela ancoragem à realidade actual - para lá das questões e vivências da adolescência, a boleia dos perigos do terrorismo mundial e das questões antiglobalização. Destes dois tópicos, alimenta-se boa parte da trama; do primeiro, sobram razões para as duas situações mais espectaculares da BD até agora: o atentado no "MkDonaldes" (é mesmo assim), na Avenida dos Aliados, no Porto, logo nas primeiras pranchas, e a (surpreendente) falta de gravidade, que encerra o 3º capítulo.
A contrastar com estes dois actos espectaculares, que por isso ganham maior relevância, o tom do resto da narrativa é voluntariamente contido, pausado, lento até, feito principalmente de diálogos e monólogos, para aprofundar dúvidas e sentimentos, que justificam as hesitações e as acções. Como em qualquer ser humano.
Tom, já escrevi, apenas entrecortado com as tais duas cenas espectaculares e pela morte, a tiro, de um familiar de David, na página 67, a última que eu li… E que, apesar de menos impactante que as outras duas citadas, de um ponto de vista global - tem mais condições para provocar mudanças e inflexões, que, com sinceridade, fico a agurdar com interesse, porque interage directamente com David, protagonista mas não herói - afirmando, mais uma vez, o lado humano da narrativa, que é sobre gente, não sobre sítios ou grupos.
Graficamente, em "BRK", Filipe Andrade percorre caminhos que cada vez mais autores experimentam e que eu acredito cada vez mais serão seguidos neste milénio há pouco iniciado. Fazendo a síntese entre a banda desenhada tradicional franco-belga (em especial no que à forma narrativa diz respeito), os comics norte-americanos (de super-heróis, que com certeza, inspiram as cenas mais espectaculares e arrojadas) e os mangas japoneses (no desenho da figura humana e na expressividade dos rostos), numa mescla harmoniosa que assenta numa planificação que embora algo tradicional, não deixa de ser variada no que a ângulos e planos diz respeito, e plenamente capaz de ajudar a marcar o ritmo que interessa aos dois autores.

A abrir este texto, fazia uma ressalva: Escrevo conhecendo apenas as primeiras 67 pranchas de "BRK". Desconheço, portanto como a história vai terminar. Mais, fico suspenso numa altura em que uma inflexão importante na narrativa, até no seu tom, é introduzida.
Agora, ano e meio depois, conhecendo o final deste primeiro volume, acho que pouco há a acrescentar. Confirma-se que o tom inicial do relato, que privilegiava os relacionamentos e as dúvidas de David foi progressvamente evoluindo até transformar num relato de acção, com um toque até de antecipação científica. A surpresa final, acrescentada a algumas mudanças significativas, deixa tudo em aberto para o segundo tomo. Resta saber qual o caminho que os dois Filipe vão seguir e esperar que o conheçamos mais depressa do que o tempo que este primeiro álbum demorou a ver a luz do dia.

A reter
- O tom certo dos diálogos.
- O ritmo da obra
- A forma como os autores prendem e mantem o interesse do leitor.

Menos conseguido
- O (muito) tempo que transcorreu entre a suspensão da publicação no BDJornal e a edição em álbum.

Curiosidades
- Quando o restaurante de fast-food do Porto explode, vêem-se na imagem claramente as letras “aldes” (p. 8); quando o facto é referido no noticiário da TV (p. 16), é designado por “MkDonalds”. Não sendo raros – longe disso – os erros – escritos, de pronúncia, … - nas nossas televisões, afinal em que ficamos? MkDonalds ou MkDonaldes?
- Personagens reais em obras de ficção, geralmente são uma mais valia. E o que acontece com a aparição da reporter Rita (Marrafa) de Carvalho. Tornada mais credível por possuir um dos tiques da maior parte dos reporteres televisivos portugueses, ou seja, fazer perguntas em catadupa, sem deixar o entrevistado responder. Pena é que tão poucos respondam como o comandante dos bombeiros faz em BRK…!
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