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06/09/2024

Soda II - Lettres à Satan

À (re)descoberta





Apresentada aos portugueses pela Booktree, de forma incompleta e caótica - dois volumes (ver nota no final) - Soda é, acho que o posso escrever, uma daquelas séries que não contava encontrar nas páginas da Spirou, pelo seu tom mais violento, amoral e adulto.

19/06/2013

Garfield: 35 anos a comer lasanha










A que se deve o êxito de Garfield? Esta é a pergunta (invejosa...?) que se repete sempre que uma obra (uma BD, um romance, um filme, ...) alcança um sucesso acima da média.
Uma parte da resposta, está sempre relacionada com as características intrínsecas do produto. Em Garfield, a par do sentido de humor e da invulgar capacidade de Jim Davis renovar ciclicamente as mesmas piadas, a forma como facilmente nos identificamos com o protagonista não deve ser esquecida.
Ou não é Garfield a imagem de tudo aquilo que nós seríamos se nos deixassem? Porque é indiscutível que todos detestamos as segundas-feiras e os despertadores, dietas e balanças “demasiado sinceras”, tanto quanto gostamos de comer. E trocamos tudo por um bom mimo, ao mesmo tempo que gostaríamos de espezinhar os indefesos como forma de afirmação pessoal, enquanto buscamos uma efémera glória numa qualquer passarela, mesmo que esta seja a cerca dos fundos do nosso quintal (da nossa tv?)...
Garfield, e através dele, nós, realiza tudo isto e foi aqui que Jim Davis jogou a sua melhor cartada, ao fazer-nos rir de nós próprios, através de um gato gordo e cor de laranja...
A escolha de Davis, um gato, num mundo das tiras de imprensa onde abundavam os cães protagonistas (dos quais o mais famoso será Snoopy, tão-só personagem secundário de tira alheia, os “Peanuts” de Charles Schulz) contribuiu também para a adesão do público, apesar de a tira não apresentar grandes inovações a nível gráfico, pese embora o excelente trabalho de Davis ao nível da expressividade das personagens.
Mas, na resposta à questão inicial, há dois outros aspectos incontornáveis: por um lado, a forte aposta no merchandising; por outro, a diversificação de suportes, não limitando Garfield à BD, mas passando-o também ao cinema de animação, sem perda de qualidades nem características.
Não há melhor maneira de comemorar os 35 anos de Garfield, do que (re)ler as suas aventuras e, para ajudar, a Booktree lançou no ano passado “O Mundo de Garfield”, quase um milhar de tiras diárias e pranchas dominicais inéditas em português.
E como em todos os álbuns de recolhas de tiras de jornal, criadas para serem lidas diariamente, ressalta deles um aspecto: a repetição (quase à exaustão) das mesmas situações, com as mesmas personagens.
Em Garfield, se isto acontece (por isso, pela enésima vez o vemos a fazer jus ao título de gato mais preguiçoso do universo; a assaltar o frigorífico ou a roubar comida ao seu dono (ou será mais escravo...?), a humilhá-lo ou a pontapear Oddie, o cão pateta; em busca de um momento de glória na cerca do fundo do jardim, ou a praticar o seu passatempo favorito: esmagar aranhas), a forma como Jim Davis consegue sempre surpreender-nos com os (novos) desfechos que dá a (velhas) situações, convidam a uma leitura continuada, com a certeza que será entremeada muitas vezes por sorrisos francos ou mesmo saudáveis gargalhadas.

(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 19 de Junho de 2003, a propósito dos 25 anos de Garfield)


24/02/2012

Garfield











FUNtástico
Viva a Dieta!
Jim Davis
Booktree (Portugal, Fevereiro de 2012)
200 x 200 mm, 96 p., pb, brochado
12,00 €




“A que se deve o êxito de Garfield? Esta é a pergunta (invejosa...?) que se repete sempre que uma obra (uma BD, um romance, um filme, ...) alcança um sucesso acima da média.
Uma parte da resposta, está sempre relacionada com as características intrínsecas do produto.
Em Garfield, a par do sentido de humor e da invulgar capacidade de Jim Davis renovar ciclicamente as mesmas piadas, a forma como facilmente nos identificamos com o protagonista não deve ser esquecida.
Ou não é Garfield a imagem de tudo aquilo que nós seríamos se nos deixassem?
Porque é indiscutível que todos detestamos as segundas-feiras e os despertadores, dietas e balanças “demasiado sinceras”, tanto quanto gostamos de comer.
E trocamos tudo por um bom mimo, ao mesmo tempo que gostaríamos de espezinhar os indefesos como forma de afirmação pessoal, enquanto buscamos uma efémera glória numa qualquer passarela, mesmo que esta seja a cerca dos fundos do nosso quintal (da nossa tv?)...
Garfield, e através dele, nós, realiza tudo isto e foi aqui que Jim Davis jogou a sua melhor cartada, ao fazer-nos rir de nós próprios, através de um gato gordo e cor de laranja...
A escolha de Davis, um gato, num mundo das tiras de imprensa onde abundavam os cães protagonistas (dos quais o mais famoso será Snoopy, tão-só personagem secundário de tira alheia, os “Peanuts” de Charles Schulz) contribuiu também para a adesão do público, apesar da tira não apresentar grandes inovações a nível gráfico, pese embora o excelente trabalho de Davis ao nível da expressividade das personagens.
Mas, na resposta à questão inicial, há dois outros aspectos incontornáveis: por um lado, a forte aposta no merchandising; por outro, a diversificação de suportes, não limitando Garfield à BD, mas passando-o também ao cinema de animação, sem perda de qualidades nem características.” 

O texto acima, publicado no Jornal de Notícias, a 19 de Junho de 2003, então a propósito do lançamento no mercado nacional das primeiras compilações de Garfield pela Booktree, mantém toda a actualidade no momento em que mais dois títulos daquela editora – Viva a dieta! e FUNtástico – chegam às livrarias nacionais.
E neles, como escrevi então, “como em todos os álbuns de recolhas de tiras de jornal, criadas para serem lidas diariamente, ressalta um aspecto: a repetição (quase à exaustão) das mesmas situações, com as mesmas personagens.
Em Garfield, se isto acontece (por isso, pela enésima vez o vemos a fazer jus ao título de gato mais preguiçoso do universo; a assaltar o frigorífico ou a roubar comida ao seu dono (ou será mais escravo...?), a humilhá-lo ou a pontapear Oddie, o cão pateta; em busca de um momento de glória na cerca do fundo do jardim, ou a praticar o seu passatempo favorito: esmagar aranhas), a forma como Jim Davis consegue sempre surpreender-nos com os (novos) desfechos que dá a (velhas) situações, convidam a uma leitura continuada, com a certeza que será entremeada muitas vezes por sorrisos francos ou mesmo saudáveis gargalhadas”. 

E, concluindo hoje: porque Garfield é, de alguma forma, uma instituição – com tudo o que isso tem de bom e pouco do que é negativo - dentro do seu género. Porque com ele, sabemos o que contamos e como contamos.
Poderão uns apontar o traço simples e repetitivo; outros as limitações em termos de cenário – o interior da casa (cama, mesa, sofá, pouco mais…) ou a cerca do jardim; alguns apontarão a limitada galeria – Garfield, Jon, uma (rara) namorada de um deles, Oddie, o sobrinho do gato, as aranhas (pouco mais do que figurantes e carne para canhão… ou jornal!)…
O que só dá mais força a uma verdade incontornável: a cada nova leitura e a cada leitura nova, Garfield diverte, desconcerta, surpreende e faz (pelo menos) sorrir.
O que, neste tempo – em qualquer tempo – não é de todo displicente.

Nota 1: Hoje como em 2003 – e como em (quase) todas as colectâneas de tiras de imprensa – nestes livros de Garfield falta a indicação (clara – na ficha técnica?) da data original de publicação das bandas desenhadas nos jornais (embora seja possível descobri-las nas “letras pequeninas” de cada tira diária ou prancha dominical).
O que podendo ser pouco significativo para a maioria dos leitores, a alguns (poucos?) ajudará  a contextualizar os gags no seu tempo e a sua posição na cronologia da série.
E isso revela-se tanto mais importante quando – porquê? - o álbum Viva a Dieta! inclui as tiras diárias e pranchas dominicais de 1 de Março a 14 de Setembro de 1999 juntamente com as de 11 de Abril a 27 de Maio de 1993…!
Quanto a Funtástico, publica as tiras diárias e pranchas dominicais de 29 de Junho de 1998 a 28 de Fevereiro de 1999. 

Nota 2: Embora algumas tenham sido publicadas aqui a cores, as pranchas dominicais e tiras diárias reproduzidas nestes dois álbuns são-no todas a preto e branco.

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