Cómics de Prensa (Manuel Caldas)
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30/09/2022
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Cisco Kid,
como (quase) todas as séries de western, obedece a uns quantos
estereótipos -expectáveis - pelo que é necessário procurar
noutros aspectos as razões para o seu sucesso e a validação da sua
leitura - (ainda) aconselhável… mais de meio século após a sua
publicação. No caso presente, a soberba arte de José Luís Salinas
e, apesar de tudo, aquilo que distingue este western
- a temática romântica e o posicionamento quixotesco de Cisco - da
maioria dos outros.
Ou não, quando as narrativas com que nos
deparamos contrariam as ‘normas’ acima expressas e se sustentam
por si só.
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Cisco Kid - "Lucy, Flor Roja y Belle"
Rod Reed (argumento)
José Luís Salinas (desenho)
Colecção Cómics de Prensa
Libros de Papel (Espanha,
Dezembro de 2011)
280 x 235 mm, 88 p., pb, brochado
16,50 €
1. Descobri
Cisco Kid na minha adolescência, nuns velhinhos fascículos encadernados da
Colecção Audácia, em casa da minha avó.
2. Casa
que, aliás, foi fértil em proporcionar-me descobertas de revistas dos anos 1930
a 1960, deixadas pela minha mãe e tios e que hoje estão na minha “biblioteca”.
3. Talvez
por isso, apesar de depois o ter (re)encontrado com alguma regularidade no
Mundo de Aventuras, para mim, as aventuras de Cisco são a preto, branco e uma
cor, no caso o vermelho desmaiado com que o vi pela primeira vez.
4. E
foi essa a recordação que me veio de imediato à memória, quando olhei para a capa
desta nova incursão de Manuel Caldas pela edição de bandas desenhadas clássicas
norte-americanas.
5. Com
a edição, como habitualmente, bem enquadrada por um texto introdutório, conciso
mas bastante completo e interessante, da autoria de Manuel Andrés.
6. Incursão
que, como não poderia deixar de ser, foi feita com a minúcia, rigor e
competência habituais, o que permite desfrutar das tiras inicias de Cisco Kid
como, possivelmente, nunca até hoje tinham sido publicadas.
7. E,
reconheço, é um prazer admirar o traço realista, fino, elegante e dinâmico do
argentino José Luís Salinas, nesta edição, em que os pretos – sim, o interior é
“apenas” a preto e branco! – têm uma nitidez e um brilho inigualáveis!
8. E,
maior é esse prazer, nas vinhetas e pormenores reproduzidos num formato próximo
dos originais de Salinas, sem que o seu traço perca com isso.
9. Foi
com esse (soberbo) extra, que recordei este pouco convencional western,
protagonizado por um invulgar cowboy, decidido e bom atirador como todos os heróis,
mas igualmente romântico e conquistador, sempre mais preocupado com as –
belíssimas – mulheres com que se cruza, do que com os perigos proporcionados
por facínoras e peles-vermelhas.
10. Porque,
se a base da trama de cada história – e neste tomo são três – encaixa
facilmente nos estereótipos do género, com juízes pouco honestos a criar
esquemas duvidosos para se apoderarem de terras, traficantes de armas a tentar
provocar guerras entre índios e brancos ou aventureiros em busca de minas de
ouro perdidas, elas integram igualmente temáticas bem mais originais.
11. Por
um lado, o tal tom romântico, (por causa dele?) reforçado pelo protagonismo que
é dada às personagens femininas – no caso, a Lucy, a Flor Roja e a Belle presentes
do título deste volume.
12. Depois,
porque esse protagonismo existe também porque elas são bem mais do que seres frágeis
e indefesos a necessitar do abraço protector e acolhedor do herói; Lucy, Flor
Roja e Belle são (muito) belas e sensuais, ninguém duvide, mas também activas e
inteligentes, interventivas e resolutas, provocando mais a acção do que o
próprio Cisco.
13. Este
facto dá um tom de emancipação feminina a este western, temática claramente
presente aliás na narrativa inicial - aquela com que Cisco se estreou nos
quadradinhos, em tiras diárias, a 15 de Janeiro de 1951, num prolongamento da
sua pré-existência como protagonista de um romance de O. Henry e de alguns filmes.
14. Finalmente,
em todas as histórias há também uma nota de humor, que as aligeira, dada por
Pancho, mexicano como Cisco, mas em tudo o mais diferente dele: gordo,
desajeitado, amante de comida e de dormir e fonte inesgotável de gags.
15. A
talhe de foice ao que atrás ficou escrito, acrescento que o presente volume recolhe,
num tamanho apreciável, todas as tiras publicadas pelo King Features Syndicate desde
a estreia de Cisco até 13 de Outubro de 1951.
16. E,
esclarecendo quem possa pensar o contrário, não se trata do primeiro volume da
reedição integral da obra mais conhecida de J. L. Salinas porque, afirma Manuel
Caldas no preâmbulo, não dispõe “de material de reprodução com a qualidade” que
os seus critérios editoriais exigem.
17. O
que não tem que ser negativo pois, em alternativa, Caldas propõe-se que - se
houver “público para apoiar (ou alguém com ganas de, por puro amor à arte,
ajudar)” - este seja o tomo inaugural da colecção Cómics de Prensa, que num
futuro que se deseja próximo, incluirá
títulos como Casey Ruggles (já em preparação!), Scorchy Smith, Dickie
Dare, Gasoline Alley, Jed Cooper, Drago ou outros.
18. Por
isso, mesmo estando em espanhol, por favor tratem de comprar o livro, que até
só chegará às livrarias (do país vizinho…) em Fevereiro, directamente ao editor
porque receberão a reprodução de uma tira no formato original em que foi desenhada e, mesmo “só” a preto e branco, esta é mais uma daquelas edições
imperdíveis como tantas outras que Caldas (nos) tem proporcionado.
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