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06/09/2011

La Contessa

#1 – Slow Play
Crisse (argumento)
Herval (desenho)
Drugstore (França, 24 de Agosto de 2011)
215 x 293 mm, 48 p., cor, cartonado
11,50 €

Resumo
Uma competição de poker reúne num cruzeiro em alto mar alguns dos melhores jogadores do mundo. E, atrás do prémio prometido de 30 milhões de dólares em dinheiro vivo, alguns dos maiores ladrões do planeta, entre os quais a misteriosa La Contessa, temida pelas seguradoras e pelos especialistas em segurança dos grandes museus mundiais.

Desenvolvimento
Durante anos, uma das imagens de marca que a banda desenhada franco-belga desenvolveu e afirmou (muito bem) foi a da banda desenhada juvenil de aventuras. Sem que daí viesse mal ao mundo, bem pelo contrário, pois muitas foram as obras de eleição que marcaram e deliciaram gerações de leitores.
Nessa fonte – inesgotável – continuam a beber muitos dos criadores actuais, sem que daí venha, também, qualquer mal ao mundo. Ou à banda desenhada.
La Contessa, anunciado (pela editora) como um dos momentos altos da rentrée aos quadradinhos, é um dos exemplos possíveis.
Na linha de filmes como Ocean’s Eleven – citado no álbum – reúne um grupo de seis ladrões de eleição, famosos pelos seus golpes “impossíveis” que pretendem dar o grande golpe e desviar o chorudo prémio para os próprios bolsos. Entre eles está La Contessa, uma ladra italiana, sensual e misteriosa, que terá um papel fundamental no golpe por… razões que deixo aos leitores descobrir porque o ponto forte desta história é o efeito surpresa do seu desfecho que exemplifica – mais uma vez – que nem sempre tudo o que parece é…
Crisse, embora não deslumbre – e não assine, por isso, uma BD ao nível dos melhores clássicos do género, atrás evocados - desenvolve bem a história, de forma sustentada, distribuindo pistas diversas, criando o suspense necessário e guiando (empurrando?) o leitor como, lhe apraz, até à surpresa final.
Para que a obra pudesse estar uns furos mais acima seria necessário que Herval tivesse dado mais do que o que demonstrou nas páginas deste álbum (mas que se consegue adivinhar numa ou noutra sequência, como naquela que abre o álbum). Porque, globalmente, o seu traço revela-se preso, apesar de algum dinamismo provocado pela diversidade de enquadramentos, e não especialmente atraente, faltando um toque de realismo para dar maior autenticidade e credibilidade ao todo que, no entanto, está bem trabalhado ao nível da cor.
Sobra, no final um relato de tom policial, ligeiro e agradável q.b., para ocupar um final de tarde ao pôr-do-sol…

A reter
- O argumento original de Crisse, coroado pelo desfecho surpreendente.

Menos conseguido
- O trabalho gráfico de Herval ao nível do tratamento das personagens.

06/05/2011

L’ombre aux tableaux

et autres histoires
Jean-C. Denis (argumento e desenho)
Drugstore (França, 30 de Março de 2011)
215 x 293 mm, 184 p., cor, cartonada, 25 €


Resumo
Compilação de várias histórias de Jean-Claude Denis, publicadas em três álbuns no início da década de 1990, a saber: L’ombre aux tableaux, Bonbon Piment, Maï pen raï, Le jeux des animaux, Le Pélican.


Desenvolvimento
Acredito e defendo a banda desenhada enquanto arte na qual texto e desenho funcionam de forma una e indivisível.
Mas, paradoxalmente, escrevo de forma convicta que compro mais depressa um álbum pelo seu argumentista do que pelo seu desenhador. Aliás, há belíssimas histórias comprometidas por desenhadores pouco hábeis e excelentes desenhadores que brilhariam mais se tivessem boas histórias para desenhar. E ainda talentosos desenhadores que nunca serão sequer razoáveis autores de banda desenhada…
O que não implica, paradoxalmente mais uma vez, que não haja alguns desenhadores que me atraem especialmente, muitas vezes por razões que nem eu consigo explicar. Jean-Claude Denis é um desses casos.
Descobri-o há muitos anos quando (ainda só) folheava a revista (a suivre) e tive oportunidade de o ler, mais tarde, algumas vezes. Se enquanto argumentista o considero algo desequilibrado, com algumas obras francamente conseguidas e outras que não o são tanto, como desenhador a sua linha clara, geralmente de tons mais sombrios - ocres, verdes, cinzentos, azulados - raramente vivos ou quentes, em que predomina a figura humana, mais especificamente rostos expressivos, com especial destaque para as belas mulheres, satisfaz-me bastante e acaba por ser a principal razão para a ele voltar recorrentemente. E é dessa forma que Denis vai traçando retratos ternos mas desiludidos, e lúcidos, embora por vezes deformados, da sociedade, do nosso mundo.
Foi o caso desta compilação, recém-editada, que reúne uma mão cheia de histórias, entre curtas e longas, quase todas em lugares exóticos – Brasil, Tailândia, Reunião – nas quais a realidade – que geralmente predomina nos álbuns de Denis – convive estreitamente com o fantástico e/ou o sobrenatural, uma vezes apenas na aparência, outras vezes sendo mesmo concretizado.
É o que acontece na narrativa que abre o álbum e lhe dá título, em que um pintor pouco conhecido, uma vez falecido volta para progressivamente se apossar do corpo – da vontade - da última (da única?) pessoa que lhe deu valor em vida, servindo o conjunto para Denis divagar sobre o momento da criação, a arte, os seus criadores, o seu valor, a sua importância, os críticos…
Igualmente bem conseguidas são Bonbon Piment e Maï pen raï, a primeira sobre uma relação (impossível?) mal compreendida, a segunda sobre como um pormenor pode estragar um sonho de amor.
Aliás, convém referi-lo, os desencontros, as desilusões, as relações terminada ou desfeitas, os finais infelizes são uma constante na obra de Denis, onde abundam histórias sobre pessoas (nem sempre) normais, muitas vezes apanhadas em situações incomuns, ultrapassadas pelo acaso, pelo destino, pela própria incapacidade de se assumirem ou de afirmarem a sua vontade, pessoas solitárias, pouco sociais, incapazes de se relacionarem com os outros… e consigo.
Por isso, de forma resumida, talvez me atreva a escrever que este é um álbum sobre gente, sobre pessoas, sobre relações humanas, melhor, sobre como raramente essas relações devem ser conduzidas.
Sei que é um atrevimento grande fazê-lo porque o resumo acima - como (quase) todos os resumos - é redutor e, por natureza, incompleto, e Denis é um magnífico cronista do quotidiano e do ser humano.


A reter
- O traço de Denis, claro, pelo menos aos meus olhos.
- Os finais inesperados e o tom intimista da maior parte das narrativas.
- A combinação de sentimentos e emoções – por vezes opostos - que ressalta dos seus contos: ternura, tristeza, melancolia, solidão, paixão, incompreensão…


Menos conseguido
- O relato longo que fecha o livro, Le Pélican, povoado por seres humanos (muito) pouco normais…


Curiosidade
- No site da Drugstore pode folhear as primeiras pranchas do álbum (clicando na imagem sob “planches”).

25/10/2010

War Songs

Ivan Brun (argumento e desenho)
Drugstore (França, Setembro de 2010)
215 x 293 mm, 64 p., cor, cartonado

Quais os sons que associámos à palavra ‘guerra’? Gritos de dor, raiva, medo, aflição? Estampidos de bombas, tiros, carros de combate? Assobios de balas, mísseis, aviões? Rajadas de metralhadora, tiros de pistola, disparos de tanques? War Songs é um álbum mudo.
Que imagens associamos à palavra ‘guerra’? Justas medievais? Índios contra cowboys? Combates nas trincheiras? Bombardeamentos e destruição em massa? War Songs é um álbum sobre a invasão do Iraque, sobre as guerras mediáticas e sofisticadas actuais, sobre o terrorismo e (algumas d)as suas causas.
Um álbum só com imagens, sem uma única palavra, embora haja balões com símbolos cuja leitura é universal: comida, dinheiro, alvos, destruição…
Um álbum que conta uma história – igual a tantas histórias – de alguém empurrado para o terrorismo pelas desigualdades mundiais e sociais, pela opressão de um povo, pela força do único poder que hoje em dia existe: o poder do dinheiro, o poder da economia.
Uma história dividida por pequenos episódios, de ritmos diversificados, ao longo dos quais vamos conhecendo o protagonista, o meio em que vive, as necessidades que passa, as diferentes opções que ele e os seus conterrâneos fazem: trabalhar ou lutar, cumprir ou desobedecer…
Pequenos episódios que vão mostrando diferenças que tantas vezes tentamos esquecer: que muitos cães (literalmente) ocidentais comem mais e melhor do que seres humanos de países do terceiro mundo; que as opções correctas nem sempre são (ou parecem…) as mais certas; que são cometidas muitas injustiças quando se usam estereótipos para classificar todos por igual; que a guerra estampada nos jornais e televisões muitas vezes soa asséptica e inconsequente, fazendo esquecer que as vítimas são seres humanos como nós; que por muito bem-intencionada (se isso é possível) que seja uma invasão, quase sempre o quotidiano dos invadidos tende a ficar (bem) pior, apesar de “libertados”.
War Songs – não finalmente, mas para concluir este texto – é um álbum incómodo, que obriga a (re)leitura atenta e a meditar no que se leu, porque quase todas as suas perguntas ficam sem resposta, porque as acusações que faz – a ambos os lados, note-se – são justas e pertinentes.

A reter
- A (triste) actualidade do tema.
- A força de algumas imagens – algumas chocantes até – que incomodam e não deixam o leitor indiferente, apesar da ingenuidade aparente do traço naif com um toque de anime.
Menos conseguido
- A contextualização do álbum na invasão do Iraque o que lhe retira o impacto que uma localização “anónima” poderia ter.
- A dificuldade de interpretação de algumas das imagens (demasiado complexas) utilizadas nos balões, o que retira fluidez à leitura.
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