Um tigre, dois tigres, três tigres
A vaca foi pró brejo atrás do carro na frente dos bois
Fernando Gonsales
Devir (Brasil, Novembro de 2009 /Agosto de 2010)
210 x 280 mm, 48 p., cor, cartonado
R$ 24,00, 12,99 € / R$ 26,00, 12,99 €
Resumo
Mais duas colectâneas com as
tiras do rato Níquel Náusea e os seus amigos: a rata Gatinha. O rato Ruter, o
Sábio do Buraco, a barata Fliti e muitos outros animais… como nós!
Desenvolvimento
Criado em 1985, o rato Níquel
Náusea, evocação de sarjeta de um certo astro Disney com nome foneticamente
parecido, é já uma verdadeira instituição nos quadradinhos brasileiros, o que
de forma alguma diminui o interesse ou o humor desta criação do também
veterinário – pelas tiras apostaria mais em médico… - Fernando Gonsales.
Porque, se aparentemente em
Níquel Náusea há uma viagem profunda ao maravilhoso mundo animal, um olhar
atento - que não precisa de ser de lince – revela nele bem mais sobre o (nada)
maravilhoso mundo humano.
Passo a explicar: se os
protagonistas destas tiras de jornal são ratos, pulgas, crocodilos, cães,
borboletas e outros animais – embora a par de seres humanos e de mitos e
referências culturais como personagens de BD e de contos infantis ou o Pai
Natal - as suas acções e atitudes traduzem sentimentos e comportamentos (poucas
vezes nobres…) bem mais próprios dos humanos, embora distorcidos e deformados pelo
nonsense e o olhar mordaz que Gonsales emprega em cada situação, obrigando-nos,
assim, a sorrirmos ou rirmos mesmo abertamente – também de nós próprios - com
os poucos quadradinhos com que compõe cada um destes gags, de desenho simples,
mas vivo, expressivo e muito eficaz.
Por isso, não se surpreendam quando
encontrarem em Níquel Náusea elefantes vítimas de bullying, borboletas com
patrocínio nas asas, caracóis que tocam às campainhas e fogem, papagaios
falantes estrelas do cinema mudo, peixes que vivem em lagos que são miragens no
deserto, reflexões sobre a reprodução de micro crustáceos como estimulante
sexual, avozinhas toureiras – é incrível como as consequências da senilidade
(fraca audição, visão, locomoção…) podem originar tantas piadas, saudáveis (!) e
politicamente incorrectas – os inconvenientes de levar um bode para a cama do
casal, provas da existência do Pai Natal, Batman à volta com as seguradoras ou
novas (e inventivas) versões da corrida entre a lebre e a tartaruga e da história
do Capuchinho Vermelho, de histórias de vampiros e de extraterrestres ou de
situações tão banais como uma galinha pôr um ovo ou (não) atravessar para o
outro lado da estrada…
A reter
- O humor corrosivo e certeiro
de Fernando Gonsales, que em cada tira surpreende e desconcerta e revela o(s)
animal(is) que há dentro de cada um de nós.
- A boa concepção gráfica dos
livros, que permite incluir 5 tiras por prancha – são mais de 200 por álbum! –
sem que exista uma mancha branca demasiado grande.
- Em textos recentes sobre
álbuns de autores brasileiros, terminei-os sempre lamentando a sua ausência das
livrarias nacionais. No caso destas (e de outras) colectâneas de Níquel Náusea,
isso não acontecerá, pois elas estão disponíveis em Portugal, distribuídas pela
Devir.
Editora a quem lanço o
desafio para que também faça chegar aos leitores portugueses outros álbuns de
autores brasileiros pertencentes ao seu catálogo, como Curtas e Escabrosas,
Folheteen, Frauzio – Ares da Primavera, Histórias do Clube da Esquina, Mondo
Urbano, Pequenos Heróis, Yeshuah…