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30/01/2017

Cadernos de Viagem

As viagens da vida

 “Todas as experiências, boas ou ruins, de algum modo acabam nos fazendo entender que elas fazem parte do caminho para nosso crescimento. (...) A experiência de viver é a maior de todas”
In Cadernos de Viagem

Geralmente associamos a expressão “cadernos de viagem” a um conjunto de esboços feitos durante visitas a algum lugar pelo autor. Aqui, Laudo Ferreira utiliza-a para dar título a uma viagem pelas memórias de Miguel, o protagonista - ou será que são mesmo dele, Laudo?

12/06/2015

Piratas do Tietê – A saga completa – Livro 3









O ponto de partida é absurdo. Ou absurdamente provocador. O rio Tietê, que atravessa a cidade de São Paulo, alberga um barco de piratas que, sem escrúpulos nem limites, abandalham o mais que podem durante as suas investidas em busca de riquezas, bebidas e mulheres.

24/02/2015

Fawcett












A primeira – e grande! – surpresa deste livro é a parceria autoral: André Diniz, no argumento, e o mestre brasileiro Flavio Colin, no desenho. A razão? A existência, entre os dois, de uma diferença de 45 anos. No trabalho comum, esse salto geracional não é de forma alguma visível.

23/01/2015

Pequenos heróis














Há muito na minha lista de desejos, esta foi a primeira grande leitura de 2015 para mim, surge com algum atraso aqui no blog, mas ainda muito a tempo para a recomendar.

17/12/2014

Happy!











Se a quadra natalícia é propícia a histórias mais ternas e/ou lamechas, imbuídas do (chamado?) espírito da época, alguns escolhem caminhos tortuosos para atingirem aquele desiderato.
Como a dupla Grant Morrison (que dispensa apresentações) e Darick Robertson (The Boys, Transmetropolitan) neste Happy!.

15/12/2014

Dog Mendonça chega ao Brasil








Durante esta semana a Devir Livraria vai começar a distribuir no Brasil As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy, primeiro tomo da trilogia escrita pelo músico e realizador português Filipe Melo e desenhada pelos argentinos Juan Cavia e Santiago Villa.
Oportunidade para os leitores brasileiros descobrirem uma divertida e conseguida homenagem aos filmes, séries de TV e quadr(ad)inhos que marcaram as gerações dos anos 80 e 90, que já vendeu mais de 30 mil exemplares no conjunto das edições portuguesa e norte-americana (da Dark Horse).

20/05/2014

Leituras Novas Brasil – Maio 2014

Esta é uma nova secção aperiódica que surgirá sempre que se justificar.
Pretendo com ela divulgar alguma da informação que me chega regularmente do Brasil, até porque uma parte significativa dos visitantes de As Leituras do Pedro estão naquele país.
Como habitualmente, os textos, quando existem, são da responsabilidade das editoras e, no caso presente, optei por os manter em brasileiro.

Assim, já a seguir descubram as primeiras Leituras Novas provenientes do Brasil.

14/03/2012

Yeshuah









Assim em cima assim embaixo
O círculo interno o círculo externo
Laudo ferreira (argumento e desenho)
Omar Viñole (arte-final)
Devir Livraria (Brasil, Dezembro de 2009 e Agosto de 2010)
165 x 240 mm, 160 p. e 136 p., pb, brochado
R$ 23,00 / R$ 22,50



Resumo
Biografia ficcionada da vida de Jesus Cristo, assenta numa profunda pesquisa bibliográfica não só das tradições católicas e dos evangelhos canónicos mas também de escritos apócrifos.
O primeiro tomo aborda desde a concepção e nascimento de Cristo até ao seu encontro com João Baptista e o segundo mostra a sua permanência no deserto durante 40 dias, o estabelecimento e consolidação do seu ministério e o seu primeiro encontro com Judas Iscariotes.

Desenvolvimento
São muitas as biografias de Jesus Cristo existentes, umas mais romanceadas do que outras, o que não deve surpreender numa sociedade ocidental que se diz cristã e seguidora dos seus ensinos - embora a prática o demonstre muito pouco…
E nos últimos anos, de forma recorrente, também por culpa do sucesso mediático de algumas delas, temos mesmo assistido a uma proliferação de obras, potencialmente polémicas, que, mais do que colocar em causa Cristo, têm questionado a imagem que ao longo dos séculos a Igreja Católica foi (de)formando dele.
Este tríptico de Laudo Ferreira e Omar Viñole – o terceiro tomo e último tomo deverá ser editado no segundo semestre do corrente ano – pode bem encaixar-se nesta (abrangente) corrente criativa.
Não porque se adivinhe ou perceba nele a vontade de chocar, não porque se apreenda alguma intenção de polemizar, mas porque, para o preparar, Laudo Ferreira documentou-se - de forma série e aprofundada – em grande número de obras – históricas, canónicas e apócrifas - indo bem mais além da visão tradicional de todos mais ou menos conhecida, ao mesmo tempo que contextualiza a sua narrativa numa época histórica precisa, da qual faz uma boa recriação gráfica.
Até porque, o seu intuito era – e conseguiu-o – humanizar as personagens ligadas aos eventos de que Jesus foi protagonista, primeiro Maria, a sua mãe, depois o próprio Jesus. Não só porque os apresenta como seres humanos com fraquezas, hesitações, problemas, questões e dúvidas em relação ao que deles é exigido, mas também porque os despoja dos traços místicos e/ou divinos que normalmente lhe estão associados.
Para isso, sem entrar em pormenorização de explicações para o que de sobrenatural existe na história tradicional cristã, Laudo Ferreira leva as personagens a procurarem no seu interior a força, as razões, as motivações para realizarem – nem sempre linearmente – os feitos que lhe são atribuídos – embora nalguns casos fique a dúvida de como conseguiram lá chegar, como no caso da cura do cego.
Com isso, consegue uma obra de grande densidade emocional, muito estimulante – que deve ser lida de espírito aberto, sem preconceitos – cujo conteúdo não é preciso aceitar mas cuja leitura pode até ajudar a afirmar as crenças daqueles que têm fé.

A reter
- O dinamismo gráfico de uma obra que obriga a leitura atenta e ponderada.
- A consistência da narrativa, apesar de afrontar questões profundamente enraizadas na cultura e no senso comum ocidentais.

Menos conseguido
- Apesar de contribuir para a credibilização da obra, a utilização dos nomes originais dos diversos intervenientes, se não fará grande diferença à maioria dos leitores - dado o desconhecimento geral da cultura bíblica nos nossos dias - poderá causar alguma confusão – e quebra do ritmo de leitura - àqueles que estão mais familiarizadas com a Bíblia.
- O baptismo de Jesus por João Baptista, no final do primeiro tomo, segue o modelo católico, com o despejar de algumas gotas na sua cabeça. Algo pouco credível, ainda mais devido à investigação e à contextualização da acção na sua época histórica, sabendo que a palavra “baptizar” no original significa “imergir, mergulhar”…


29/02/2012

Histórias do Clube da Esquina











Laudo Ferreira (argumento e desenho)
Omar Viñole (arte-final e cor)
Devir Livraria (Brasil, Agosto de 2011)
160 x 230 mm, 48 p., cor, brochado com badanas
R$ 22,50



Resumo
O Clube da Esquina foi o nome dado  à “esquina que ficava no cruzamento da rua Divinópolis com Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte”, local de encontro de gente jovem, entre os quais alguns músicos que, com as suas melodias e as suas letras, haveriam de fazer história na música popular brasileira.
Nomes como Lô Borges, Toninho Horta ou Milton Nascimento, aos quais outros se haveriam de juntar.

Desenvolvimento
Histórias do Clube da Esquina é um álbum que evoca a sua história, as suas histórias, combinando excertos de entrevistas, pequenas anedotas, episódios reais e o respectivo enquadramento histórico.
Aparentemente denso – o pequeno formato do álbum contribui para essa ideia (errónea) de pranchas cheias e com muito texto – Histórias do Clube da Esquina revela-se um surpreendente documentário em BD, bem estruturado e desenvolvido, sem momentos mortos nem palavras a mais, pelo equilíbrio que Laudo Ferreira conseguiu entre os diversos momentos apresentados, apesar da sua forte carga informativa.
Retrato emocional – da parte do autor, da parte dos entrevistados - de um momento único da música, da cultura brasileira, terá para além da sua consistência enquanto obra narrativa, um significado especial para a geração - as gerações – que cresceram a ouvir Milton Nascimento e os outros membros do Clube da Esquina, sim, mas também Chico Buarque, Maria Bethânia, Simone ou tantos outros que de uma ou outra forma foram por ele influenciados ou cantaram as suas canções.
Por isso, obrigado Laudo, obrigado Omar, pelas memórias que a sua leitura evocou, pelas memórias futuras que a sua leitura criou.

 A reter
- A conseguida ligação entre os vários registos do relato, cuja estrutura apresenta um dinamismo insuspeito à partida.
- A justa evocação de músicos e canções que marcaram gerações. E a mim!



09/06/2010

Tarzan: A Origem do Homem-Macaco e Outras Histórias

Joe Kubert (argumento e desenho)
Devir Livraria (Brasil, Maio de 2010)
165 × 240 mm, 208 p., cor, brochado com abas


Tarzan foi um dos heróis que mais me marcou e ao qual ainda volto com prazer – não igual, porque a minha idade, as minhas experiências, a minha mentalidade, a minha própria concepção do mundo, em geral, e da banda desenhada, em particular, são outras – mas, ainda, prazer.
Possivelmente – eu pelo menos acredito nisso – porque o tenha lido na altura certa, quando era capaz de me maravilhar com o seu exotismo, a sua selvajaria, as suas aventuras…
Entre os diversos autores que passaram por Tarzan, dois ouve que me marcaram especialmente, apesar das suas concepções gráficas e narrativas serem (quase) diametralmente opostas: Russ Manning (de traço limpo, imaculado, pormenorizado, anatomicamente perfeito, belo, delicado, se assim o posso definir) e Joe Kubert (com um traço sujo, agressivo, violento, selvagem como Tarzan, os animais da selva e o seu mundo). Mais tarde, descobri (e maravilhei-me plasticamente) também (com) Burne Hogarth, mas já vivia então um tempo diferente…
No Brasil, país onde a indústria (e o mercado) de “quadrinhos” existe(m) e atravessa(m) um bom momento, acaba de sair este tomo com as primeiras histórias de Tarzan feitas por Kubert e são as mesmas que o (para mim saudoso) Mundo de Aventuras publicou a partir de 1975. E que correspondem à origem do homem-macaco, adaptando o primeiro romance escrito por Edgar Rice Burroughs, o “pai” de Tarzan. Uma origem que Kubert, (re)cria de forma violenta, animal mesmo, encenando, possivelmente, o mais selvagem de todos os Tarzan que a BD conheceu, mais próximo dos animais em cujo meio foi criado e sobrevive, do que dos seres humanos a cuja raça pertence.
O traço de Kubert – pormenorizado, eficaz, muito dinâmico – é agreste, intimida quase – vejam-se as cenas em que Tarzan se exalta mais – transporta-nos para uma selva bem mais real (e assustadora) do que a maior parte das versões em banda desenhada da criação de Burroughs.
Com excepção de uma, talvez, onde Kubert foi beber muita da sua inspiração, nalguns casos decalcando poses e vinhetas: a primeira aventura de Tarzan nos quadradinhos, a que Manuel Caldas há poucos meses editou, recuperada e restaurada, da forma que só ele é capaz de fazer.

Curiosidade
- Numa das histórias deste tomo, algumas das pranchas são da autoria de Burne Hogarth.

01/06/2010

10 Pãezinhos – Fanzine e Mesa para dois












Fábio Moon e Gabriel Bá (argumento e desenho)
Devir Livraria (Brasil, Outubro de 2007 e Dezembro de 2006)
165 X 240 mm, 216 p. / 56 p., pb, brochado


Nasceram em 1976, são gémeos, brasileiros e desde sempre quiseram fazer banda desenhada. A esse sonho dedicaram energia e vontade, escrevendo e desenhando quando podiam divertir-se (de outra forma), estudando arte para serem melhores, auto-editando-se, quando essa era a única alternativa, num fanzine semanal (!), cumprindo (os seus próprios) prazos por respeito por aqueles que os liam, cumprindo (os) prazos (dos outros), nos primeiros contratos profissionais, mesmo quando a obra já não os motivava...
A história desse(s) percurso(s) – primeiro separados, depois em duo – está contada na primeira pessoa, de forma notável, em “10 Pãezinhos - Fanzine”, que compila, explicando, elementos diversos das suas carreiras ao longo de uma década iniciada em 1991. E que, para além de permitir a descoberta da “pré-história” de Moon e Bá e a sua evolução no domínio das técnicas narrativas próprias dos quadradinhos, é uma magnífica declaração de amor pela arte de narrar em imagens sequenciais.
Dessas narrativas, do tom poético de muitas delas, aqui e ali com um toque de humor, ironia, amargura ou ternura, quase sempre inspiradas nas suas vidas ou nas daqueles com quem se cruzam, destaca-se uma sensibilidade fora do comum e uma capacidade invulgar para exprimir aos quadradinhos sentimentos, emoções e dúvidas bem humanas.
O que está também patente em “10 Pãezinhos - Mesa para dois”, a história (mais longa, o que permite aprofundar o carácter das personagens, explorá-las melhor…) de um escritor em crise criativa, bloqueado face ao papel em branco, que contrata uma assistente para conversar, ajudando-o assim a terminar o seu romance, e que na prática é uma metáfora sobre as coisas e as pessoas que não conseguimos ver apesar de estarem mesmo à nossa frente. Mas também uma história sobre relacionamentos difíceis – ou sobre a dificuldade de nos relacionarmos? - num mundo globalizado, regido pela comunicação, em que estamos cada vez mais sós e isolados, fechados na nossa própria concha, narrada de forma sensível e pausada, num preto e branco delicado e expressivo.

(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 18 de Outubro de 2008, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

20/05/2010

Níquel Náusea #7 – Em boca fechada não entra mosca

Fernando Gonsales (argumento e desenho)
Devir Livraria (Brasil, Novembro de 2008)
212 x 282 mm, 48 p., cor, brochado


Era uma vez um rato (quase) analfabeto, cuja leitura hesitante facilmente adormecia a sua ninhada. Não! Era uma vez um rato que servia de provador a Mickey Mouse. Não, outra vez! Era uma vez um rato com bom olfacto… o que é insuportável para quem vive num esgoto… Não e não! Era ainda outra vez…
Aquele rato existe mesmo (desde que os heróis de papel sejam reais…) e tem nome: Níquel Náusea. Evocação de sarjeta do astro Disney, evidente no trocadilho óbvio e satírico, que dispensa mais comentários, mas aponta já para o que é a tira de imprensa que protagoniza e a que dá nome, de origem brasileira.
Aquele rato tem amigos. Ratos, como ele, também: Rato Ruter, o rato mutante (sem super-poderes, porque aqui falamos de coisas sérias!); o Sábio do Buraco, que sabe e conhece tudo… às vezes; a rata Gatinha, por quem se apaixonou, parideira profícua (de 10 em 10 minutos, exageram alguns…), mãe das suas muitas proles, que educa com amor e bofetões (que tanta falta fazem a tantos hoje em dia – o amor e, principalmente, os bofetões…); um rato canalha, com chapéu de orelhas de Mickey (vá lá saber-se porquê, gostava de se fazer passar por ele), que não passa de um Pateta (e não, este trocadilho não é meu, está mesmo no site do Níquel (http://www2.uol.com.br/niquel/index.shtml), que convém visitar regularmente, para acompanhar o dia-a-dia do rato.
Por isso, era uma vez um, dois, três, mais ratos – aqueles, os citados, e outros mais. E também um elefante de nariz sensível, uma minhoca com medo de ser enterrada viva, pulgas de classe que só mordiam cães de raça, cupins que fazem buracos na(s portas de) madeira para espreitarem as boazonas do prédio, um super-cão cuja visão de raio X o leva a atacar todos os (esqueletos de) humanos, traças viciadas em naftalina e insecticida, moscas que caem na sopa para… ler as letrinhas, um lobo mau com demasiado fôlego para soprar velas de aniversário, abelhas que delegam a produção de mel em moscas (a mão de obra mais barata…), uma formiga e um elefante apaixonados apesar das diferenças… religiosas, morcegos fãs de… Batman, caracóis que se divertem a tocar às campainhas e a… fugir… a… toda… a… velocidade…
E…
E mais uma enorme galeria animal (com tanto de humano, com tantos humanos… os maiores animais…?) com a qual o doutor (veterinário, claro está) Fernando Gonsales, faz sorrir, rir, gargalhar abertamente, há quase um quarto de século, que se completa no próximo ano, em tiras que somam já milhares.
Com elas, ele não só explora o conhecimento animal básico que faz parte da cultura geral, como também critica e satiriza a sociedade humana, desconstrói verdades (que julgávamos) absolutas, é cáustico com tantas personagens reais e/ou imaginárias que fazem parte do imaginário colectivo e cultiva um sentido de nonsense indescritível.
Nascido em São Paulo, em 1961, é um dos grandes humoristas brasileiros, publicado diariamente na Folha de S. Paulo e em vários outros jornais de todo o Brasil. Cartoon, ilustração, publicidade e argumentos para TV fazem também parte do seu currículo, onde se contam numerosos prémios e distinções e oito álbuns de Níquel Náusea editados pela Devir Brasil, alguns deles distribuídos em Portugal, estando o sétimo neste momento disponível.
Níquel Náusea que vive em tiras de poucas vinhetas, pintadas com cores lisas, de tons neutros, para salientar o seu traço falsamente simples, enganadoramente feio, uma vez que vive de imagens deformadas (por si só capazes de fazer rir) de animais (para tantos) nojentos. Mas um traço também dinâmico, expressivo, capaz de traduzir de forma directa, muitas vezes sem palavras – desnecessárias -, o gag que Fernando Gonsales imaginou.

Nota: As imagens que ilustram este artigo não pertencem necessariamente ao álbum referido.



(Versão revista e alterada do texto publicado no catálogo do V Salão Internacional de Banda Desenhada de Beja)

19/05/2010

Piratas do Tietê – A saga completa – Todas as histórias em 3 volumes – Livros 1 e 2

Laerte (argumento e desenhos)
Devir Livraria (Brasil, Novembro de 2007)
210 × 280 mm, 112 p., cor+pb, cartonado
1985, um Brasil recém-saído da ditadura, descobria nas bancas a Chiclete com Banana, uma revista de BD “underground” a resvalar para o anarquismo.
Nela, Angeli, o seu criador, depois com Laerte, Glauco ou Luís Gê, traçava um retrato cínico e mordaz das misérias do país, visto através das suas franjas mais marginais. A publicação tornou-se um marco, vendeu três milhões de exemplares numa década, teve até uma versão para Portugal (onde agora há nas livrarias pacotes com a “Edição definitiva para coleccionadores”) e lá nasceram anti-heróis como Rê Bordosa, os Skrotinhos, Bob Cuspe ou os invulgares Piratas do Tietê.
As aventuras destes últimos, traçadas por Laerte com detalhe e pormenores deliciosos, num preto e branco contrastante muito bem trabalhado, e dotadas de uma planificação multifacetada que lhes transmite uma grande dinâmica e ritmo, desenvolvem-se ao longo do rio Tietê, que atravessa a cidade de São Paulo. Recheadas de acção e nonsense, partem dele para as mais diversas paródias ou para libelos anti-economistas, anti-ecologistas ou anti-outra-coisa-qualquer, com base na estranha combinação dos estereótipos das narrativas de corsários com uma crítica exacerbada da actualidade brasileira, utilizando com frequência citações da literatura (Pessoa é protagonista involuntário de uma BD no segundo tomo, onde também se encontram Batman, Fantasma ou a Virgem Maria), cinema, pintura ou mesmo banda desenhada.
Agora, estão compiladas numa bela edição de luxo em três volumes – o segundo foi recentemente distribuído entre nós -, que incluem notas biográficas e comentários do autor, que enquadram melhor e possibilitam um outro nível de leitura de cada narrativa.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 20 de Outbro de 2008)
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