21/11/2011

Habibi

Colecção écritures
Craig Thompson (argumento e desenho)Casterman (França, 26 de Outubro de 2011)
172 x 240 mm, 672 p, pb, brochado com badanas
24,95 €

Habibi é a história de Dodola, vendida pelos pais ainda criança para desposar um escriba – com quem aprende a ler e a escrever e os contos sagrados que a acompanharão toda a vida -, raptada de casa do marido para ser feita escrava, fugitiva para se esconder no deserto durante anos, capturada e transformada em favorita do sultão.
Habibi é a história de Zam que Dodola resgatou do mercado de escravos, que com ela viveu no deserto, que por ela se tornou eunuco.
Habibi é a história de cada um, quando o destino – ou os homens? – os separou, como (sobre)viveram com a memória do outro.
Habibi é a história do seu reencontro, tão feliz quanto doloroso, tão esperado quanto receado, tão belo quanto pungente, porque Habibi é a história de um grande amor, uma história bela – como todas as histórias de amor – mas também uma história incómoda, profunda e dolorosa – como só as histórias de amor sofridas podem ser.
Mas Habibi é também uma história de busca e iniciação, uma história de uso (e abuso) mercantil do sexo, de sensualidade reprimida, de desejos abafados, de mal-entendidos sobre o que é – o que pode ser – a sexualidade. Uma história de abusos, violações e profanações.
Habibi é ainda uma história de sobrevivência, de resistência, de abdicação e de luta, um conto sobre a pequenez do indivíduo face ao mundo hostil que o rodeia, o traga, o engole, o expele em fezes.
Habibi é também um conto religioso – mais próximo de Deus ou de Alá – do que muitos contos “mesmo” religiosos, um conto sobre falsa religiosidade, assente numa sólida base teológica, proveniente da leitura atenta e exigente do Corão (complementando a da Bíblia que fez parte da educação de Thompson). O que possibilita, aos crentes (verdadeiros), aos conhecedores de um e/ou outro daqueles livros sagrados, desfrutar dos paralelos que o autor vai traçando entre ambos ao longo da sua obra e de um outro nível de leitura que Habibi tem.
Habibi é, igualmente, uma obra coerente e consistente, em que é notória a pesquisa que o autor fez a vários níveis – dentro de si próprio e a nível religioso, já o disse - mas também a nível da escrita (que tem um papel importante ao longo do relato), dos hábitos e das tradições orientais.
Habibi é uma fábula intemporal, universal, uma versão bem mais dura e terrível das 1001 Noites, igualmente situada num sultanato oriental imaginário, num tempo que parece anacrónico, mas que pormenores diversos revelam ser hoje, revelam ser agora, revelam ser aqui, ao nosso lado, em nossa casa…
Em Habibi, Craig Thompson, mais uma vez, como no espantoso Blankets – que era mais directo, mais acessível, menos cerebral – expõe-se, despoja-se, mostra-se, revela-se, evoca por pressupostas personagens as suas experiências traumáticas, os abusos que sofreu, as suas dificuldades de relacionamento, de forma total, sensível, tocante, embaraçosa, pungente.
Habibi é também uma fantástica narrativa em banda desenhada, arte que Thompson domina como poucos, transportando o leitor ao longo das páginas de uma longa história – complexa e profunda – que, apesar disso - por isso - se lê de um só fôlego.
Habibi é também, ainda, igualmente, um notável trabalho de artesão, que ocupou 7 anos da vida do autor, com pranchas de pura contemplação, outras de uma energia louca, algumas de pura emoção outras de acção a rodos, com muitas dezenas de pranchas feitas autênticas obras de arte oriental, numa colagem, numa moldagem do estilo ao ambiente e ao cenário da história.
Habibi é, por tudo isto, uma obra notável. Daquelas que é obrigatório ler, de um só fôlego, escrevi-o atrás, porque não conseguimos parar sem conhecer o fim, enredados sem forma de fugirmos na teia que Thompson vai tecendo, com mestria e competência – com génio, porque não dizê-lo - com conta e medida, avanços e recuos, descobertas e revelações. Daquelas que é obrigatório reler, uma duas, três, dez vezes para descobrir, desvendar, desfrutar de tudo o que Craig Thompson nela colocou para nós.
Habibi, finalmente, é daquelas obras únicas e incontornáveis, “extenuantes e estimulantes” escreveu alguém de forma particularmente feliz, que tornam medíocres tudo o que sobre elas se escreva – o que eu até aqui escrevi - porque ficará sempre muito aquém do que ela é e nos pode proporcionar.

A reter
- Habibi, no seu todo, uma obra notável.










20/11/2011

Quarteto Fantástico, 50 anos

Há 50 anos, era editada nos EUA Fantastic Four #1, um comic-book que renovou por completo o género de super-heróis e lançou as bases do universo Marvel que hoje conhecemos.Na realidade, são diversas as opiniões acerca da data exacta de lançamento, por isso conta a data de Novembro impressa na capa da revista, que custava apenas 10 cêntimos de dólar e mostrava quatro super-heróis desconhecidos a combater um monstro que emergia do solo.
A inovação não advinha do conceito – os super-heróis já existiam há mais de duas décadas – nem da sua associação - o primeiro super-grupo, a Justice League of America, na época já fazia sucesso há quase um ano.
Os próprios heróis apresentados eram pouco inovadores: Reed Richards, o senhor Fantástico, lembrava os antecessores Plastic Man (criado por Jack Cole, em 1941) e Elongated Man (John Broome e Carmine Infantino, 1960); Sue Storm, futura senhora Richards e a Mulher Invisível, evocava a Invisible Scarlett O’Neil (Russell Stam, 1940); Johnny Storm homenageava o Tocha Humana original (Carl Burgos, 1939).
O que tornava diferente este quarteto eram as suas relações familiares – Reed e Sue casariam em 1965, Johnny era irmão de Sue – e o modo como funcionavam como uma verdadeira família, partilhando o mesmo tecto e também os problemas do dia-a-dia, comuns aos seus leitores (mortais): contas para pagar, necessidade de emprego, incompatibilidades de temperamentos, problemas de relacionamento ou a obrigação de assumirem as consequências dos seus actos. Para além disso, Reed, um génio inventivo, e a ponderada Sue surgiam como os sustentáculos do grupo, fazendo face às partidas constantes que Johnny, um adolescente tardio mais interessado em carros potentes e bonitas namoradas, pregava ao Coisa, permanentemente deslocado pelo seu aspecto monstruoso.
Ou seja, na prática, havia uma humanização dos super-heróis cuja popularidade estava na época em decréscimo acentuado, substituídos pelas histórias aos quadradinhos de suspense e de terror. Super-heróis que, seguindo estas premissas, voltariam ao topo da popularidade e se multiplicariam nos meses seguintes com a chegada do Homem-Aranha, Hulk, Demolidor ou X-Men.
Os criadores do Quarteto Fantástico foram Stan Lee, então há mais de 20 anos a trabalhar na futura Marvel Comics e na época a pensar mudar de ramo, e Jack Kirby, justamente considerado o “rei dos comics”, que desenhou mais de 2500 páginas das suas aventuras.
O número inaugural do Quarteto Fantástico, narrava a origem dos seus poderes, surgidos após o foguete em que se deslocavam ser bombardeado por raios cósmicos no espaço – uma temática então em voga, dada a corrida espacial que opunha EUA e URSS - com consequências diversas para cada um dos seus componentes, que no entanto decidiram utilizá-los para ajudar a humanidade.
E se alguma vez se perguntou como estica a roupa do sr. Fantástico, por que é que Sue Storm não precisa de se despir antes de se tornar invisível ou porque não arde a roupa de Johnny quando se transforma no Tocha Humana, fique sabendo que não é o primeiro a fazê-lo. Logo após a estreia do Quarteto Fantástico, um leitor escreveu a Stan Lee colocando aquelas questões. Socorrendo-se do génio inventivo de Reed Richards, o escritor introduziu em “Fantastic Four” #6 o conceito de “moléculas instáveis” que formariam um tecido capaz de se adaptar aos super-poderes de quem o usasse.
Dessa forma, Lee respondeu a esse leitor e resolveu um outro problema: a fonte de receitas do Quarteto, que patenteou a invenção passando a fornecer o tecido a quase todos os seus colegas super-heróis da Marvel!
Como complemento, no número de estreia havia o confronto com o Toupeira, a primeira de muitas ameaças que a “super-família” enfrentaria, com destaque para seres monstruosos e extra-terrestres, com o Doutor Destino e Galactus, Skrulls e Krees à cabeça. A partir do terceiro número, o quarteto passou a ter uniformes, um quartel-general e o invulgar “fantasticarro”, recebendo as suas aventuras o subtítulo de “The Greatest Comic Magazine In The World”.
Com o passar do tempo, ao seu lado haveriam de surgir outros super-heróis como o Homem-Aranha, o Surfista Prateado ou Namor. Alguns deles – She-Hulk, Luke Cage, o Homem-Formiga ou, recentemente, o Homem-Aranha - ocuparam mesmo, de forma provisória, um lugar no Quarteto, quer por abandonos temporários, desaparecimentos misteriosos ou falecimentos (a prazo) provocados pela máquina de marketing da Marvel.
O sucesso de papel levou-os à televisão, em desenhos animados, logo em 1967, tendo sido diversos os regressos a este suporte ao longo das décadas, incluindo o direito a uma paródia numa abertura dos SImpsons.
Curiosamente, foi necessário esperar até 1993 para assistir à sua estreia em cinema, interpretados por actores de carne e osso, numa película candidata a pior filme de sempre que a Marvel proibiu. O regresso ao grande ecrã do Quarteto Fantástico – mesmo assim abaixo dos seus pergaminhos em BD - só teria lugar em 2005, num filme homónimo dirigido por Tim Story e protagonizado por Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Chris Evans e Michael Chiklis, que regressariam dois anos depois em “Quarteto Fantástico e Surfista Prateado”.
Hoje, meio século depois da sua estreia, se Reed e Sue já foram pais por duas vezes (Franklin nasceu em 1968 e Valeria em 1999, apesar de aparentarem idades próximas!), parece que o tempo não passou por eles e que tudo continua essencialmente na mesma, continuando no topo das preferências dos leitores que, com eles, se continuam a identificar.


(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 15 de Novembro de 2011)

19/11/2011

One Week

Isabel Baraona
Ao Norte (Portugal, Novembro de 2011)
105 x 148 mm, 36 p., pb, brochado com badanas

“One Week”, de Isabel Baraona, o décimo primeiro e último livro do projecto O Filme da Minha Vida, é apresentado hoje, às 17h30, no Espaço AO NORTE, na Praça D. Maria II, em Viana do Castelo. Na ocasião será também inaugurada uma exposição com os originais da autora que ficará patente ao público até 31 de Janeiro de 2012.
Meia hora antes, às 17h, no Auditório dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais, será projectado o filme homónimo de Buster Keaton, que Isabel Baraona evoca nesta obra, que conta com prefácio do crítico de BD Pedro Moura.
“One Week”, uma curta-metragem muda de apenas 19 minutos datada de 1920, conta a história de um casal, interpretado por Buster Keaton e Sybil Seely, que recebe como presente de casamento uma casa do género “faça você mesmo”, mas cuja construção vai apresentar dificuldades inesperadas que os dois conseguem ultrapassar com imaginação e criatividade.

A colecção O Filme da Minha Vida, iniciada em Maio de 2008, resultou de um desafio lançado pela Associação Ao Norte a ilustradores e autores de BD portugueses para produzirem um mini-álbum, a preto e branco, inspirado num filme cuja visualização de alguma forma os tenha marcado. Pelas suas páginas passaram nomes como João Fazenda, Miguel Rocha, Filipe Abranches ou Luís Henriques, inspirados por películas de Sergio Leone, Ingmar Bergman, Alfred Hitchcock, Roman Polanski, Luis Buñuel ou João César Monteiro.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 19 de Novemrbo de 2011)

18/11/2011

Mahou

Na origem da magia
Ana Vidazinha (argumento)
Hugo Teixeira (desenho)
ASA (Portugal, Outubro de 2011)
220 x 297 mm, 56 p., cor, cartonado
13,90 €

Resumo
Bia, uma estudante do liceu, ao folhear um livro da biblioteca é transportada para Mahou, um universo paralelo à Terra onde a magia impera.
Aí descobrirá que foi de lá que a sua mãe um dia partir e terá que defrontar a metade má de si própria num confronto que poderá decidir o futuro de Mahou.

Desenvolvimento
Este foi para mim uma das maiores surpresas entre os (vários) lançamentos nacionais que houve este ano no AmadoraBD.
Desde logo, pela inflexão no estilo de Hugo Teixeira, que aqui, sem o abandonar totalmente, se distancia um tanto do traço manga que o caracterizava, moldando-o juntamente com as influências franco-belgas e dos comics que possui para o adaptar ao tom da narrativa. Ou tendo encontrado finalmente o seu próprio estilo? Se só o futuro o poderá dizer, sendo evidente que ainda tem um caminho a percorrer, em especial ao nível do tratamento da figura humana, nas proporções e rostos (nalguns casos simplificados ao máximo, de forma que se percebe ser voluntária – para esconder alguma s limitações?), é de realçar a dinâmica das pranchas e também o uso da cor, havendo já neste álbum algumas pranchas interessantes.
Depois, pela formato escolhido, o álbum tradicional franco-belga, num ruptura mais evidente com (manga) o que até agora tinha feito, como forma de procurar (e educar?) o público juvenil a quem a história mais directamente se destina. Desde logo pela juventude da protagonista, mas também pela forma como está trabalhada a temática fantástica, em torno da magia e do que com ela pode ser feito.
Finalmente, pela descoberta de uma nova argumentista na BD nacional (algo que tem sido raro, convenhamos), Ana Vidazinha de seu nome, que assina uma história agradável, bem construída e melhor escrita, coerente e com algumas soluções interessantes, que deixa em aberto a possibilidade de novos volumes que permitam avaliar até onde pode ir esta nova dupla de autores e as potencialidades de Mahou.

A reter
- A consistência do argumento de Vidazinha.
- A evolução gráfica de Hugo Teixeira que, no entanto, terá que ser apenas mais um passo na sua progressão.

Menos conseguido
- A colocação de alguns balões, contrária ao sentido de leitura.

16/11/2011

Hotel

Boichi (argumento e desenho)
Glénat (França, 19 de Outubro de 2011)
130x180 mm, 178 p., pb e cor, brochado com sobrecapa com badanas
10,55 €

Resumo
Antologia de histórias curtas do coreano Boichi, nascido em 1973, apresenta o fim do mundo (ou da vida) como temática omnipresente.

Desenvolvimento
Um hotel com ADN de todas as espécies – excepção feita ao seu humano) – guardado por uma entidade mecânica com consciência (e coração) (em “Hotel”) ou o desejo de fazer regressar o atum (entretanto extinto) aos oceanos terrestres, para o poder degustar novamente sob a forma de sushi (em “Rien que pour les thons”), eis o tema de duas das narrativas deste volume, que marcam o seu tom global: por um lado a divagação sobre o (quase sempre catastrófico) futuro (altamente tecnológico) do planeta, no qual quase sempre o ser humano não tem lugar; por outro, o humor negro com que Boichi pincela os seus argumentos, desconcertando o leitor e atenuando a sua visão pessimista desse futuro.
Dono de um traço hiper-realista agradável e bem expressivo, do qual consegue conjugar os cambiantes (realismo, objectividade, aspecto caricatural, equilíbrio texto/imagem) que julga necessários para o adaptar ao tom das histórias que narra, o autor coreano revela também um excelente domínio da cor, presente nas primeiras pranchas de algumas das histórias, deixando uma grande vontade de o (re)descobrir numa obra totalmente colorida.
Pelo meio há ainda “Present”, uma história que, apesar dos contornos futuristas de que também se rodeia e do tom aparentemente rude e agreste do protagonista masculino, se revela no final profundamente humana e tocante, versando sobre paixão, amor, sentimento, e dor.

A reter
- O contraste entre visão futurista e humor negro que o autor apresenta.
- O excelente traço de Boichi e o seu trabalho de cor.
- A bela capa desta edição de Glénat, com aplicações localizadas de verniz que dão uma outra consistência à ilustração pós-apocalíptica nela impressa.

Menos conseguido
- Como acontece em muitos relatos de ficção-científica, existem nalguns dos contos alguns hiatos temporais desnecessários e difíceis de engolir por quem lê.



15/11/2011

Sept Clones

Stéphane Louis (argumento)
Stéphane De Caneva (desenho)
Véronique Daviet (cor)
Delcourt (França, 5 de Outubro de 2011)
230x320mm, 64 p., cor, cartonado
14,95 €

Resumo
O local é o sistema solar em 2093, com muitos dos seus planetas colonizados. O contacto com outras civilizações já se deu e, com o seu beneplácito, a humanidade prepara-se para dar um passo rumo ao cosmos e a um novo grau de conhecimento. Mas para isso há uma condição: que a população terrestre esteja sobre a égide de um presidente único e universal.
Na véspera da eleição que o designará, sete clones de antigos assassinos são despertados para matarem o Presidente da Humanidade.

Desenvolvimento
Este regresso à segunda temporada da colecção Sept, depois de Sept Personnages, dá-se desta vez sob o signo da ficção científica, numa intriga futurista, que reflecte sobre a importância da tecnologia, a sujeição do individuo ao todo ou a existência de uma alma colectiva, a par dos ontornos políticos subjacentes ao argumento.
Desde logo pelo sistema único – totalitário? – que já rege a humanidade – submersa num sistema em que impera uma hiper-agressiva publicidade, presente em todos os momentos do quotidiano, e uma enorme dependência dos meios de informação. E que há-de tornar-se mais intensa, com a eleição do líder único como única forma de chegar ao conhecimento pleno (?).
No momento em que tudo parece concorrer para esse propósito, sete clones de antigos assassinos, desconhecidos entre eles – embora existam sentimentos, sonhos, laços (tal como nos gémeos…) que só depois perceberão – com vidas/vivências díspares (um sacerdote, um pervertido sexual, um mineiro, um louco internado…) e espalhados pelo sistema solar, são despertados e reunidos com o propósito de assassinarem o novo presidente a ser eleito.
A necessidade de apresentar os (sete) protagonistas nas primeiras páginas, é menos bem resolvida pelo argumentista, tornando-se penalizadora para o leitor, pois resulta demasiado confusa, sendo evidente que foram curtas as páginas disponíveis para explorar suficientemente a via que os autores elegeram e introduzir satisfatoriamente cada um dos sete clones, ficando por aprofundar as características individuais de cada um, revelando-se todos demasiado lineares. A isto há que acrescentar a a opção de identificar os diferentes clones por cores o que, se aumenta a legibilidade, torna pouco agradáveis as pranchas iniciais, por força da demasiada diversidade cromática.
Como contraponto, mais para a frente no livro, resulta especialmente feliz a forma como – depois de os clones se “congregarem” num só – os pensamentos e sensações dos sete surgem aos olhos do leitor ajudando a dar consistência ao conceito inicia, embora impondo um menor ritmo narrativo.
Aquele aspecto menos conseguido, não retira no entanto o prazer de descobrir um mundo (possível?) dominado pela tecnologia, e uma história que funciona e é convincente, conseguindo surpreender o leitor mesmo quando o curso dos acontecimentos sofre uma inversão quase total.
Graficamente, com a ressalva das pranchas iniciais já feita, a obra é bastante apelativa, com De Caneva a brilhar intensamente nas pranchas em que imperam a tecnologia ou os cenários grandiosos, a par de um bom trabalho no desenho da figura humana, sendo o seu traço bem acompanhado pela paleta cromática de Véronoque Daviet.

A reter
- A exploração de (mais) uma faceta diferente da base desta colecção (sete protagonistas que devem executar uma missão de alto risco), que mostra todo o seu potencial.
- A arte realista fantástica de De Caneva e as cores de Daviet…

Menos conseguido
… com excepção das páginas inicias que introduzem os protagonistas…
… nas quais Louis também não foi especialmente feliz.
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