04/06/2009

As Melhores Leituras de Maio

- Paris-New York, New-York-Paris (Casterman), Raphael Dormmelschlager
- Tartarugas Ninja – A primeira aventura – vol. 1 (Devir Brasil), Kevin Eastman e Peter Laird

- BD – Apprendre et comprendre (Delcourt), Lewis Trondheim e Sergio Garcia
- Clássicos da Revista Tintin – Clorofilla (ASA + Público), Raymond Macherot
- Silver Surfer – Requiem (BdMania), J. M. Straczynki e Esad Ribic
- Superman Crónicas #1 (Panini Comics), Jerry Siegel e Joe Shuster
- J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #51 (Mythos), Berardi e Trevisan

03/06/2009

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #51 – O ajudante misterioso

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #51 – O ajudante misterioso
Giancarlo Berardi (argumento)
Giorgio Trevisan (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Fevereiro de 2009)
Revista mensal, 136 x 176 mm, 132 páginas, preto e branco, capa brochada


Resumo
Na quadra natalícia, um trio de ladrões disfarçados de Pai Natal praticam uma série de assaltos e Júlia é mais uma vez chamada para colaborar com a Procuradoria de Garden City. Só que desta vez ela vai contar com um ajudante muito especial…

Desenvolvimento
“J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga” – ou simplesmente “Julia”, no original italiano – é um policial que, geralmente, privilegia a introspecção em relação à acção. O que não quer dizer que esta não possa surgir pontualmente, criando episódios, distintos do que é habitual na série que é, com certeza, a mais interessante de origem Bonelli distribuída nos quiosques portugueses (onde, da mesma proveniência, também aparecem “Tex”, “Mágico Vento” e “Zagor”).
A protagonista de “Júlia”, que lhe dá nome, é uma jovem professora universitária e criminóloga que colabora com a polícia da pacata cidade de Garden City, traçando o perfil dos criminosos que a justiça busca. Bonita (a sua figura foi inspirada na actriz Audery Hepburn), frágil, recusando (inconscientemente) assumir uma vida pessoal/sentimental e libertar-se dos seus medos e fantasmas, é ela que faz grande parte do relato em off, compartilhando connosco as pistas que a ajudam a descobrir os criminosos ou os seus estados de espírito e sentimentos mais íntimos.
Com isso, Berardi (o mesmo que criou o mítico “Ken Parker”) consegue, de forma equilibrada, traçar pormenorizados retratos psicológicos em relatos pausados e consistentes, em que um tom invulgarmente humano contrasta com o lado policial das narrativas, muitas vezes duro, de uma violência mais implícita do que explícita.
Neste “O ajudante misterioso”, um bem conseguido conto natalício (cuja razão do título deixo ao leitor descobrir), Berardi aproveita para discorrer – sem moralismos, nem condenações, mais como quem se limita a relatar factos - sobre o vazio de tantas vidas hoje em dia, vividas sem objectivos, muitas vezes apenas em função do imediato, do (falso) estatuto e da imagem que se transmite aos outros.

A reter
- O tom de fantasia que o desfecho configura à história, de todo invulgar em Júlia, apesar de os argumentos de Berardi estarem longe de seguir um modelo rígido.
- O protagonismo (bem feminino) de Júlia, que lhe granjeou um bom número de leitoras fiéis, algo de inabitual nos títulos Bonelli e na BD ocidental em geral.

Menos conseguido
- A forma algo simplista como Júlia e o seu ajudante “especial” impedem o assalto final. Que apesar de tudo não choca muito… Afinal, é preciso sentir o espírito natalício e acreditar no Pai Natal…
- A edição é fraca, é verdade. Em especial para os leitores portugueses, habituados ao bom papel e colorido de comics e álbuns franco-belgas. Mas, mais do que fraca, o adjectivo que melhor a classifica é popular (um dos segredos do êxito Bonelli em Itália). Popular no sentido de acessível, o que só é conseguido com papel de segunda qualidade, pequeno formato (menor ainda no Brasil por questões de aproveitamento de papel) e o preto e branco. Claro que quem dominar o italiano, pode sempre optar pela edição original (maior e melhor impressa), mas a verdade é que “Júlia” é um daqueles casos em que se deve ignorar o embrulho e apreciar o conteúdo.

Curiosidade
- Intitulada “Julia” em Itália, esta série teve o mesmo título no Brasil, mas apenas durante os primeiros quatro números, para não ser confundida com uma outra publicação homónima, dedicada a romances cor-de-rosa.- O desenhador desta história (porque nos títulos Bonelli, há sempre vários desenhadores em acção, para garantir a periodicidade mensal de títulos com (pelo menos) uma centena de páginas), Giorgio Trevisan, serviu-se de si mesmo para modelo do co-protagonista, Mosby.

02/06/2009

Je ne suis pas mort

Je ne suis pas mort
Hiroshi Motomiya (argumento e desenho)
Delcourt (França, 2009)
264 páginas, preto e branco, capa brochada, sentido de leitura japonês

A história de Okada Kenzou que, perto da reforma, perde emprego, família e vontade de viver. Uma parábola bem intencionada sobre a necessidade do regresso do homem à natureza. Literalmente. E também sobre o facto de a visão da morte muitas vezes renovar a vontade de viver. Com bom ritmo e traço clássico mas dinâmico. Um livro regular, apenas.

01/06/2009

Tex Edição Gigante #22 – Seminoles

Tex Edição Gigante #22 – Seminoles
Gino D’Antonio (argumento)
Lúcio Filippuci (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2008)
182 x 277 mm, 242 páginas, preto e branco, capa brochada

Resumo
Tex Willer e Kit Carson chegam ao Forte Bliss, no Louisiana, com a missão de escoltarem um índio seminole, Ochala, entretanto condenado à forca, para ser julgado pelo assassínio de um ranger. Antes de lá chegarem, o índio é libertado por um membro da sua tribo, dando origem a uma caçada humana, que levará Tex até aos pântanos dos Everglades, na Florida.

Desenvolvimento
Sendo “mais uma” história de Tex, este argumento de Gino D’Antonio, adaptando-se bem ao “modelo” estabelecido da personagem, introduz algumas inovações ou diferenças em relação a ele, o que fazem com que se destaque da “produção” habitual. Por um lado, em boa parte do relato, retoma o modelo do justiceiro solitário, um pouco esquecido nos tempos mais recentes. Depois, a principal e mais notória, humaniza o herói, que “raramente tem dúvidas e nunca se engana” (como diria alguém…), levando-o a arrepiar caminho e a mudar de objectivo a meio da história. Finalmente, faz com que sensivelmente metade da narrativa decorra em zonas pantanosas, verdejantes e repletas de vida animal, o que contrasta com as longas planícies desérticas ou as montanhas rochosas que Tex normalmente calcorreia, enquanto lhe permite referir uma realidade histórica concreta, que raramente os westerns, em geral, e Tex, em particular abordaram, a forma como os seus habitantes naturais foram empurrados para o seu interior pelos brancos e a relação de cumplicidade que estableceram com os escravos negros fugitivos. Ao mesmo tempo, faz da caçada humana, feita a dois tempos, por Tex (inicialmente com Carson, no final com Jesus), e por Lafarge (com os seus cúmplices), uma corrida contra o tempo.
E com tudo isto – ou apesar de tudo isto – consegue um western bem escrito e ritmado, de final previsível a partir do meio, é certo, mas de leitura agradável e cativante. Fica a dúvida do que Gino D’Antonio poderia fazer com Tex, se não tivesse falecido em 2006, ainda este livro não estava totalmente desenhado.

A reter
- O desenho realista e expressivo de Filippucci, feito de traço fino e trabalhado, num preto e branco belo e eficaz, quase sempre sem grandes manchas contrastantes, especialmente feliz no retrato esfusiante das paisagens naturais arborizadas. No tratamento do rosto humano apresenta quase sempre a mesma qualidade, embora oscile pontualmente com representações menos conseguidas. Uma bela obra de um autor habitualmente mais à vontade com relatos de ficção-científica.
- O facto de Tex ter que arrepiar caminho a meio da história, duvidando do objectivo da sua missão e de que o fugitivo seja assim tão culpado, o que raramente se vê nas histórias do ranger. Isto confere-lhe um carácter mais humano e atenua a habitual divisão estanque entre bons e maus.

Menos conseguido
- Um “mau” tão mau como Lafarge, cego por um ódio inexplicável (ou inexplicado na história) para com os seminoles. O que no entanto não é invulgar nos relatos de Tex que, goste-se ou não, obedecem a alguns critérios mais ou menos estabelecidos que são incontornáveis.
- As últimas 8 pranchas, completamente desenquadradas do relato, que não adiantam nada ao mesmo, e que parecem existir apenas para que sejam atingidas as 242 páginas padrão dos “Texones”. O que poderia ter sido facilmente conseguido prolongando algumas das cenas já existentes.

Curiosidade
Na página 64 da edição em causa, na última vinheta, Faca Longa é ferido com um tiro no braço direito, um pouco abaixo do ombro (onde coloca a mão após receber uma bala disparada por Tex). Curiosamente, daí para a frente, sempre que o ferimento é referido (pág. 92, primeira vinheta, ou pág. 111, 3ªvinheta, por exemplo), ele situa-se no ombro oposto, o esquerdo!
(texto postado originalmente no Blog do Tex, a 15 de Maio de 2009)

28/05/2009

Rocher Rouge

Rocher RougeEric Borg (argumento)
Michaël Sanlaville (desenho)
Casterman/KSTR (França, Janeiro de 2009)
191 x 278 mm, 120 páginas, cor, capa cartonada
Resumo
Seis jovens ocidentais – Erwin, Eva, Steph e Marion, JP e Pauline – chegam a uma ilha paradisíaca tropical – aparentemente – deserta, para passarem três dias de “sea, sun & sex”, entregues a si próprios e à natureza virgem. O que eles não sabem é que o folclore local a indica como moradia do Maboukou, uma espécie de símio lendário, com mais de três metros de altura, conhecido por decapitar e comer a cabeça das suas presas…

Desenvolvimento

E é exactamente isso que nos é mostrado, nas páginas iniciais do livro, num flashback de poucas páginas, datado de 250 anos atrás, quando um marinheiro, perseguido por piratas (?) desembarca na ilha…


Depois, começa o relato propriamente dito, passado na actualidade. Relato, que, à partida, parece construir-se como uma (interessante) história sobre relacionamentos de jovens (abastados, o que não é indiferente para o caso…) naquela fase nebulosa (cada vez mais tardia…) entre a saída da adolescência e a entrada na idade adulta. Relato que, no entanto, acaba por se transformar num conto de puro terror (género sem grande tradição na BD franco-belga, diga-se de passagem), com desfecho surpreendente que, pela segunda vez na história, altera, reinterpretando, os dados em jogo.

Entre os seis jovens, há dois casais, mais ou menos estabelecidos, e boas relações de amizade (não só, como se verá…). Mas a aparente harmonia entre todos, esconde tensões, relacionamentos mal resolvidos e paixões secretas, mais ou menos (mal) disfarçadas, que parecem poder (que vão) explodir a qualquer momento.
Por isso, passados os primeiros momentos de euforia (e de desejo), provocada pela chegada ao paraíso, as coisas começam a descambar (para a normalidade…) com as primeiras desavenças e confrontos a surgirem, os problemas a demonstrarem que também vieram de férias e as situações dúbias a multiplicarem-se, num crescendo de tensão que acaba por culminar no aparecimento (?) do tal Maboukou…

Muda então definitivamente o tom do relato, até aí quente – escaldante mesmo, por vezes, em cenas de sexo e sedução -, com o terror a instalar-se, o sangue a correr e as mortes a sucederem-se a um ritmo que só tem comparação com a aceleração do relato, que arrasta consigo o leitor, surpreendido com a mudança operada, mas também curioso por conhecer o desfecho do novo rumo que os acontecimentos tomaram.
Isto até ao inesperado final, que mostra como por vezes o que vêem os (nossos) olhos – um piscar de olhos (pág. 102) – pode ser profundamente enganador.

Borg, constrói uma história apaixonante, forte, credível no retrato completo que traça dos seis jovens, prendendo o leitor mesmo quando muda o tom do registo, graças à forma como explora as suas/nossas angústias. Para isso contribui também, sobremaneira, o traço de Sanlaville, semi-realista, ultra-expressivo, dinâmico e movimentado, quer se trate de simples conversas, quentes cenas de sexo ou demonstrações de pura crueldade, bem tratado com cores fortes e quentes e que mostra toda a bagagem adquirida na ilustração de story-boards para o audiovisual.
E como é habitual no género no cinema, apesar de a história ficar fechada, como parece indiciar a última vinheta trata-se de um relato (à suivre), como já confirmou Eric Borg numa entrevista ao site ToutenBD
, em que confirmou estar já a escrever a segunda parte deste thriller em circuito fechado.
A reter- Os excelentes contra-picados que Sanlanville nos vai servindo ao longo do relato, alguns dos quais de encher o olho, em especial nas páginas de vinheta única (págs. 10, 29, …).
- A forma como com eles e também noutras situações, o desenhador nos coloca na posição das personagens, mostrando-nos a acção como elas a vêem.
Menos conseguido- A cena de tentativa de suicídio de Erwin, embora funcione no momento como motor para a mudança de orientação do relato, é depois pouco credível quando explicada como tal.

Curiosidade
Logo na cena inicial (págs. 3-5), a posição dos dois remadores do bote pirata, de frente um para o outro, não sendo de todo impossível, é muito improvável. Assim sentados, o mais certo é que o barco não saísse do sítio, impelido em direcções opostas por cada um deles!

Abertura

E pronto, aqui está o meu primeiro blog. A vontade já vinha de há muito, a ocasião propícia surgiu agora.
Sem grandes pretensões, quero utilizá-lo para fazer aquilo que me ocupa há alguns anos: escrever sobre banda desenhada. Em especial, mais do que escrever laboriosos tratados, partilhar impressões, sentimentos, vontades e emoções que me deixam as muitas leituras de BD que tenho o privilégio de poder fazer.
Sem periodicidade nem um modelo fixo; por prazer, não por obrigação.
Fiquem bem, leiam muito e passem por cá de vez em quando!
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