Fim de ciclo no Velho Oeste
Se às novas gerações o western dirá pouco, houve uma época em que o género imperava e seduzia. Na banda desenhada, como no cinema, os grandes espaços naturais, o confronto entre o homem branco, dito “civilizado”, e os peles-vermelhas, ditos “selvagens”, e a necessidade de superação constante eram os principais atractivos, a par de figuras marcantes que preencheram o imaginário de muitos, do western puro e duro, com muitos tiros e poucas considerações, de que Tex será um dos melhores exemplos, aos relatos humanistas, que têm em Buddy Longway um dos mais relevantes.
Em anos mais recentes, o género tem sabido renovar-se e Lonesome, uma dessas propostas, chega agora ao fim em O território do Feiticeiro, quarto e último volume, editado pela Gradiva quase em simultâneo com a edição original. Assinado por Yves Swolfs, já autor de Durango, apresentava como principal nota distintiva uma certa aura fantástica, baseada na capacidade que o protagonista tem de ver o passado e o destino daqueles em quem toca mas, com o desenvolver da série, essa característica atenuou-se e até o culto diabólico evocado neste derradeiro tomo, não passa de simples referência.
Por isso, esta história de busca e vingança, acaba por apostar mais decisivamente nos confrontos violentos resolvidos a tiro, que deixam um longo cortejo de cadáveres ao longo das páginas. Isso não invalida um argumento consistente, com algumas surpresas, enriquecido com uma contextualização histórica que evoca o racismo contra negros e pele-vermelhas, a eminente luta contra a escravatura que originará o confronto entre Norte e Sul na Guerra da Secessão e a apetência económica pelos novos territórios, como contornos genéricos para um relato baseado em laços familiares que o destino separou, nas intrigas políticas e na eterna luta pelo poder terreno que levam os homens a extremos inimagináveis.
Especialista do género, Swolfs, com o seu traço realista, credível na reconstituição histórica e rico em pormenores, recria de forma atractiva paisagens naturais e urbanas do Velho Oeste e personagens que, apesar de representarem estereótipos reconhecíveis, apresentam espessura psicológica, contradições e dúvidas que as tornam mais humanas, fazendo de Lonesome uma boa proposta para descobrir o género ou matar saudades dele.
Lonesome
#4 - O território do feiticeiro
Yves
Swolfs
Gradiva
Portugal,
Março de 2024
233
x 313 mm, 64
p., cor,
capa dura
20,99
€
(versão revista e ampliada do texto publicado na página online do Jornal de Notícias de 20 de Abril de 2024 e na versão em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nesta ligação para ver mais ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Muito boa série!
ResponderEliminarExcelente BD em 4 episódios
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